Fico
tentando entender porque implicam tanto comigo os “evangélicos”!
Nunca
joguei pedra no telhado das igrejas deles, nem toquei fogo nos jardins.
Caluniar, dizendo que fizeram pacto com o demônio, também não.
Fico
aqui pensando... Será porque sempre me recusei a tocar “gospel” e louvores nos
meus programas? Mas só se não entenderam as minhas justificativas...
Primeira:
sou democrata, e a primeira exigência a se fazer a um democrata é que não seja
preconceituoso.
Liga
um irmão, pede um louvor, e toco. Depois liga um católico, pede um Hino à
Maria, e toco. Aí vem um irmão do Candomblé, e pede um ponto de Pomba Gira, e
toco. E o telefone toca novamente, é um budista pedindo um mantra, e toco.
Depois um árabe, pedindo um salmo de Maomé, e um espírita com um hino
psicofonado, e um umbandista solicitando um ponto de Pai Thomas, o Preto
Velho... E o programa vira suruba religiosa, e vou enlouquecer deus, o que não
quero.
Democracia
é isso, ou tudo pra todo mundo ou nada pra ninguém, sem privilégios e
privilegiados, a menos que alguém se julgue privilegiado por deus, tenha costas
quentes no reino, aí me dá as provas que eu toco.
A
segunda justificativa é mais simples: já tem tanta gente ganhando dinheiro com
o sagrado, clamando o santo nome... Não em vão, pra faturar, que me recuso a
ser mais um.
Mentira?
Ah, é? Chama um cantor “gospel” de sucesso na sua igreja! Mas antes olha
direitinho o contrato: se não tiver lá uma cláusula dizendo o valor do cachê,
tem outra dizendo qual é a venda mínima de discos exigida no evento. Se os
irmãozinhos não comprarem, a igreja cobre a diferença.
Afinal,
vão pra louvar ou pra faturar?
Uma
coisa que não tem nada a ver, mero acaso: mulher que ama porque ama é mulher
que ama. Mulher que ama porque é remunerada para amar é prostituta, não sei
porque me lembrei disso agora.
Mas
toca o bonde, Tomé: pode não ser por isso, mas porque sento o pau nos
autoritários que querem impor ideia única, e nos pretensiosos que se acham os
donos da verdade e da razão.
É
só ver os xiitas jogando bombas, aviões e bosta em todo mundo que não é xiita,
inclusive em outros islamitas, como eles, mas que são sunitas.
Bin
Laden que o diga!
E
chamo a atenção para o primeiro sintoma do autoritarismo e da tentativa de
imposição de ideia única, a deturpação das palavras e conceitos, em proveito
próprio, e cito exemplos: na ditadura militar os generais censuravam a
imprensa, que só podia noticiar o que eles permitiam, censuravam os textos
teatrais, as letras das músicas... Para manter a liberdade!
Quer
dizer, suprimiam a liberdade de expressão, de pensamento, de opinião... Para
permitir a liberdade.
Aí
se autodenominaram revolucionários, e o golpe de Estado de 64 passou a ser
“Revolução”, a única da História Universal em que não foi dado nenhum tiro,
salvo um ou outro peidinhos de uns sargentos de ressaca que haviam comido
repolho e bebido cerveja na véspera.
E
com um detalhe: o golpe foi dado no dia primeiro de abril (é só consultar os
jornais do dia), mas como é o dia da mentira, dia dos bobos, anteciparam em um
dia a data da comemoração.
Ora,
meus irmãos, revoluções são movimentos sociais que mudam a estrutura das
sociedades.
Como
o Brasil clamava por uma revolução de fato, para mudar o que ainda hoje está aí
(gente comendo sopa de tutano e gente comendo caviar em Paris), os militares, a
serviço dos Estados Unidos, que não podia parar de explorar a colônia, traíram
o seu comandante em chefe, o Presidente da República.
Por
afirmar isso eu era subversivo, antipatriota, mau brasileiro e babaquices que
tais.
Confundiam
propositalmente uma quadrilha de golpistas com a pátria.
Na
mesma linha, cito o exemplo dos judeus, lá na Palestina, mas antes um detalhe:
quando nos referimos ao povo judeu falamos semitismo.
Os
judeus são semitas. Jesus, os apóstolos e boa parte dos seus seguidores
iniciais eram semitas. Moisés foi um líder semita.
Quando
nos referimos ao Estado de Israel, um país como outro qualquer, falamos
sionismo.
Os nazistas, liderados por Adolf Hitler, tinham
a proposta de exterminar o povo judeu, matá-los até o último, fosse homem,
mulher, criança no berço ou velhinho. Eram anti-semitas, criminosos em último
escalão de crueldade.
Em
1948, três anos depois do fim da guerra e da ida de Hitler para os quintos, foi
fundado o Estado de Israel.
No
mesmo documento em que foi criado o Estado Judeu estava previsto que, junto e
fazendo fronteira, seria criado o Estado dos palestinos, um outro povo.
E
em guerras sucessivas, super armados pelos Estados Unidos, que os usam como
base avançada, para controle do petróleo árabe, os judeus de Israel
multiplicaram por seis o tamanho do próprio território (Israel), anexando
terras dos países vizinhos, em atos de pirataria e saque, principalmente contra
os palestinos, que hoje estão encurralados num território menor que o Município
do Rio de Janeiro, área pouco maior que a Zona Sul Carioca.
Como
ocuparam as nascentes e estações de tratamento de água, cortam a água, deixando
mulheres e crianças com sede, atiram e jogam bombas sobre civis e fazem
assentamentos de famílias judias nas terras invadidas, uma maneira de
consolidar a invasão, não saindo nunca mais.
E
para justificar as atrocidades, as autoridades de Israel (os políticos,
sempre), associam os termos, confundindo, tentando fazer de sionismo e
semitismo sinônimos.
Aí
vou ao rádio e denuncio isso, e os cretinos de sempre, ao invés de me dizerem
anti sionista (contra o Estado de Israel), dizem que sou anti semita (contra o
povo judeu), provavelmente acreditando que eu era um daqueles que colocaram
Jesus na cruz, só porque Hitler me pagou uma propinazinha.
Vamos
em frente, Tomé: já que estou às porradas com os que deturpam palavras e
conceitos em proveito próprio, para justificar o injustificável, e fazer do que
supõem ser verdade a única verdade, vou aos religiosos e bato de frente com os
meus irmãozinhos.
A
primeira coisa que salta aos olhos é a palavra “gospel”, usada para tudo, de
caracterização de música à marca de papel higiênico.
Mas
afinal, o que quer dizer “gospel”?
Quando
a mão de obra escrava, negra, africana, foi introduzida nas Américas, trouxe a
cultura deles, claro: artes plásticas, culinária, indumentária, religião,
língua e... Música, a música deles.
Na
medida em que o tempo foi passando, por perda de contato com as raízes, os
ritmos foram se alterando naturalmente, ou por influência de outros ritmos, de
outras origens, como os ritmos europeus, por exemplo.
E
a música original, negra, deu origem a diversos ritmos, variações do original.
No
Brasil temos vários, onde se destaca o samba.
Na
América Central, destaque para o reagle e a rumba.
E
nos Estados Unidos três estilos fortes: o jazz, o blues e o gospel.
Esqueçamos
o blues e o jazz, e fiquemos no gospel: esta palavra é a redução de “God
Speak”, falar com deus, deus fala ou, forçando um pouco mais a barra, deus
falando.
O
gospel apareceu na época da conversão dos negros para o cristianismo, nas
igrejas protestantes, Batistas principalmente.
Boa
parte dos artistas negros norte-americanos começaram cantando em corais gospel,
nas igrejas (Stevie Wonder, Aretha Franklin, Ray Charles, Diana Ross, e até
Elvis Presley, embora não fosse negro).
Então
o termo gospel não determina só um tipo de letra, religiosa, mas uma linha
melódica, uma estrutura rítmica... Uma proposta estética, da mesma maneira que
quando nos referimos aos termos samba, rock ou bolero, independente das letras
ou até sem letras, só instrumental.
Chamar
um rock com letra religiosa, um samba idem ou um funk ibdem de gospel, é o
mesmo que chamar um gospel legítimo de jazz ou rumba; um bolero, um sertanejo
ou um forró, de valsa.
E
tenho dito!
Como
o funk, o rock, o samba são ritmos “do mundo”, que se mantenha o ritmo e se
troque de nome: gospel.
Mas
não parou por aí. Logo-logo os pastores perceberam que o preço de um transmissor
de FM era quase o mesmo de um amplificador de alta potência, e apareceram as
“rádios piratas gospel”, logo depois as editoras gospel.
Daí
para os açougues gospel, padarias gospel e até barracas de cachorro-quente
gospel (quem, a barraca ou o cachorro?) foi um pulo, para desgraça de quem
pensa.
Uma
outra apropriação indébita é dos termos “cristão” e “evangélico”.
Todo
aquele que crê em Jesus como o “caminho, a verdade e a vida” é cristão; todo
aquele que, acreditando que Jesus seja Deus ou não, o tem como modelo de vida e
comportamento, é cristão; todo aquele que estuda os seus ensinamentos, na busca
da verdade religiosa, é cristão; todo aquele que, sem questionar quem tenha
sido ou seja, tem fé, é cristão.
Em
que livro da Bíblia, em que capítulo está escrito que só os protestantes
renovados são cristãos? Para estes, o que caracteriza um cristão senão ser
igual a eles?
Todos
os que têm nos evangelhos fonte de estudos, inspiração e fé, independente da
análise que façam do que leem são evangélicos.
Quer
dizer que se alguém não entender o que escrevi tenho que considerar esse alguém
um não leitor? Porque não entendeu nunca leu?
E
se entendeu de uma maneira diferente da que esperei que entendesse é porque
está contra mim? E se não gostou do que leu é porque não reconhece a minha
“genialidade”, é um jumento? Pensando assim o jumento não seria eu?
Por
fim, por ultimo, para acabar: releia todo este capítulo e procure em que
momento contestei, adulterei, tripudiei ou neguei o conceito de Deus.
Em
nenhum, mas, após a leitura dirão que o diabo me usou.
Sabe
por que? O mesmo papo do início, da apropriação das palavras e conceitos, para
uso em proveito próprio: como se julgam donos dos segredos divinos, doutores da
Lei, contestá-los é contestar Deus.
In "Não Haverá Mais Natais", romance autobiográfico.
In "Não Haverá Mais Natais", romance autobiográfico.
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