sábado, 25 de maio de 2013

MINHAS DIFERENÇAS COM ELES

Fico tentando entender porque implicam tanto comigo os “evangélicos”!
                           Nunca joguei pedra no telhado das igrejas deles, nem toquei fogo nos jardins. Caluniar, dizendo que fizeram pacto com o demônio, também não.
                           Fico aqui pensando... Será porque sempre me recusei a tocar “gospel” e louvores nos meus programas? Mas só se não entenderam as minhas justificativas...
                           Primeira: sou democrata, e a primeira exigência a se fazer a um democrata é que não seja preconceituoso.
                           Liga um irmão, pede um louvor, e toco. Depois liga um católico, pede um Hino à Maria, e toco. Aí vem um irmão do Candomblé, e pede um ponto de Pomba Gira, e toco. E o telefone toca novamente, é um budista pedindo um mantra, e toco. Depois um árabe, pedindo um salmo de Maomé, e um espírita com um hino psicofonado, e um umbandista solicitando um ponto de Pai Thomas, o Preto Velho... E o programa vira suruba religiosa, e vou enlouquecer deus, o que não quero.
                           Democracia é isso, ou tudo pra todo mundo ou nada pra ninguém, sem privilégios e privilegiados, a menos que alguém se julgue privilegiado por deus, tenha costas quentes no reino, aí me dá as provas que eu toco.
                           A segunda justificativa é mais simples: já tem tanta gente ganhando dinheiro com o sagrado, clamando o santo nome... Não em vão, pra faturar, que me recuso a ser mais um.
                           Mentira? Ah, é? Chama um cantor “gospel” de sucesso na sua igreja! Mas antes olha direitinho o contrato: se não tiver lá uma cláusula dizendo o valor do cachê, tem outra dizendo qual é a venda mínima de discos exigida no evento. Se os irmãozinhos não comprarem, a igreja cobre a diferença.
                           Afinal, vão pra louvar ou pra faturar?
                           Uma coisa que não tem nada a ver, mero acaso: mulher que ama porque ama é mulher que ama. Mulher que ama porque é remunerada para amar é prostituta, não sei porque me lembrei disso agora.
                           Mas toca o bonde, Tomé: pode não ser por isso, mas porque sento o pau nos autoritários que querem impor ideia única, e nos pretensiosos que se acham os donos da verdade e da razão.
                           É só ver os xiitas jogando bombas, aviões e bosta em todo mundo que não é xiita, inclusive em outros islamitas, como eles, mas que são sunitas.
                           Bin Laden que o diga!
                           E chamo a atenção para o primeiro sintoma do autoritarismo e da tentativa de imposição de ideia única, a deturpação das palavras e conceitos, em proveito próprio, e cito exemplos: na ditadura militar os generais censuravam a imprensa, que só podia noticiar o que eles permitiam, censuravam os textos teatrais, as letras das músicas... Para manter a liberdade!
                           Quer dizer, suprimiam a liberdade de expressão, de pensamento, de opinião... Para permitir a liberdade.
                           Aí se autodenominaram revolucionários, e o golpe de Estado de 64 passou a ser “Revolução”, a única da História Universal em que não foi dado nenhum tiro, salvo um ou outro peidinhos de uns sargentos de ressaca que haviam comido repolho e bebido cerveja na véspera.
                           E com um detalhe: o golpe foi dado no dia primeiro de abril (é só consultar os jornais do dia), mas como é o dia da mentira, dia dos bobos, anteciparam em um dia a data da comemoração.
                           Ora, meus irmãos, revoluções são movimentos sociais que mudam a estrutura das sociedades.
                           Como o Brasil clamava por uma revolução de fato, para mudar o que ainda hoje está aí (gente comendo sopa de tutano e gente comendo caviar em Paris), os militares, a serviço dos Estados Unidos, que não podia parar de explorar a colônia, traíram o seu comandante em chefe, o Presidente da República.
                           Por afirmar isso eu era subversivo, antipatriota, mau brasileiro e babaquices que tais.
                           Confundiam propositalmente uma quadrilha de golpistas com a pátria.
                           Na mesma linha, cito o exemplo dos judeus, lá na Palestina, mas antes um detalhe: quando nos referimos ao povo judeu falamos semitismo.
                           Os judeus são semitas. Jesus, os apóstolos e boa parte dos seus seguidores iniciais eram semitas. Moisés foi um líder semita.
                           Quando nos referimos ao Estado de Israel, um país como outro qualquer, falamos sionismo.
                            Os nazistas, liderados por Adolf Hitler, tinham a proposta de exterminar o povo judeu, matá-los até o último, fosse homem, mulher, criança no berço ou velhinho. Eram anti-semitas, criminosos em último escalão de crueldade.
                           Em 1948, três anos depois do fim da guerra e da ida de Hitler para os quintos, foi fundado o Estado de Israel.
                           No mesmo documento em que foi criado o Estado Judeu estava previsto que, junto e fazendo fronteira, seria criado o Estado dos palestinos, um outro povo.
                           E em guerras sucessivas, super armados pelos Estados Unidos, que os usam como base avançada, para controle do petróleo árabe, os judeus de Israel multiplicaram por seis o tamanho do próprio território (Israel), anexando terras dos países vizinhos, em atos de pirataria e saque, principalmente contra os palestinos, que hoje estão encurralados num território menor que o Município do Rio de Janeiro, área pouco maior que a Zona Sul Carioca.
                           Como ocuparam as nascentes e estações de tratamento de água, cortam a água, deixando mulheres e crianças com sede, atiram e jogam bombas sobre civis e fazem assentamentos de famílias judias nas terras invadidas, uma maneira de consolidar a invasão, não saindo nunca mais.
                           E para justificar as atrocidades, as autoridades de Israel (os políticos, sempre), associam os termos, confundindo, tentando fazer de sionismo e semitismo sinônimos.
                           Aí vou ao rádio e denuncio isso, e os cretinos de sempre, ao invés de me dizerem anti sionista (contra o Estado de Israel), dizem que sou anti semita (contra o povo judeu), provavelmente acreditando que eu era um daqueles que colocaram Jesus na cruz, só porque Hitler me pagou uma propinazinha.
                           Vamos em frente, Tomé: já que estou às porradas com os que deturpam palavras e conceitos em proveito próprio, para justificar o injustificável, e fazer do que supõem ser verdade a única verdade, vou aos religiosos e bato de frente com os meus irmãozinhos.
                           A primeira coisa que salta aos olhos é a palavra “gospel”, usada para tudo, de caracterização de música à marca de papel higiênico.
                           Mas afinal, o que quer dizer “gospel”?
                           Quando a mão de obra escrava, negra, africana, foi introduzida nas Américas, trouxe a cultura deles, claro: artes plásticas, culinária, indumentária, religião, língua e... Música, a música deles.
                           Na medida em que o tempo foi passando, por perda de contato com as raízes, os ritmos foram se alterando naturalmente, ou por influência de outros ritmos, de outras origens, como os ritmos europeus, por exemplo.
                           E a música original, negra, deu origem a diversos ritmos, variações do original.
                           No Brasil temos vários, onde se destaca o samba.
                           Na América Central, destaque para o reagle e a rumba.
                           E nos Estados Unidos três estilos fortes: o jazz, o blues e o gospel.
                           Esqueçamos o blues e o jazz, e fiquemos no gospel: esta palavra é a redução de “God Speak”, falar com deus, deus fala ou, forçando um pouco mais a barra, deus falando.
                           O gospel apareceu na época da conversão dos negros para o cristianismo, nas igrejas protestantes, Batistas principalmente.
                           Boa parte dos artistas negros norte-americanos começaram cantando em corais gospel, nas igrejas (Stevie Wonder, Aretha Franklin, Ray Charles, Diana Ross, e até Elvis Presley, embora não fosse negro).
                           Então o termo gospel não determina só um tipo de letra, religiosa, mas uma linha melódica, uma estrutura rítmica... Uma proposta estética, da mesma maneira que quando nos referimos aos termos samba, rock ou bolero, independente das letras ou até sem letras, só instrumental.
                           Chamar um rock com letra religiosa, um samba idem ou um funk ibdem de gospel, é o mesmo que chamar um gospel legítimo de jazz ou rumba; um bolero, um sertanejo ou um forró, de valsa.
                           E tenho dito!
                           Como o funk, o rock, o samba são ritmos “do mundo”, que se mantenha o ritmo e se troque de nome: gospel.
                           Mas não parou por aí. Logo-logo os pastores perceberam que o preço de um transmissor de FM era quase o mesmo de um amplificador de alta potência, e apareceram as “rádios piratas gospel”, logo depois as editoras gospel.
                           Daí para os açougues gospel, padarias gospel e até barracas de cachorro-quente gospel (quem, a barraca ou o cachorro?) foi um pulo, para desgraça de quem pensa.
                           Uma outra apropriação indébita é dos termos “cristão” e “evangélico”.
                           Todo aquele que crê em Jesus como o “caminho, a verdade e a vida” é cristão; todo aquele que, acreditando que Jesus seja Deus ou não, o tem como modelo de vida e comportamento, é cristão; todo aquele que estuda os seus ensinamentos, na busca da verdade religiosa, é cristão; todo aquele que, sem questionar quem tenha sido ou seja, tem fé, é cristão.
                           Em que livro da Bíblia, em que capítulo está escrito que só os protestantes renovados são cristãos? Para estes, o que caracteriza um cristão senão ser igual a eles?
                           Todos os que têm nos evangelhos fonte de estudos, inspiração e fé, independente da análise que façam do que leem são evangélicos.
                           Quer dizer que se alguém não entender o que escrevi tenho que considerar esse alguém um não leitor? Porque não entendeu nunca leu?
                           E se entendeu de uma maneira diferente da que esperei que entendesse é porque está contra mim? E se não gostou do que leu é porque não reconhece a minha “genialidade”, é um jumento? Pensando assim o jumento não seria eu?
                           Por fim, por ultimo, para acabar: releia todo este capítulo e procure em que momento contestei, adulterei, tripudiei ou neguei o conceito de Deus.
                           Em nenhum, mas, após a leitura dirão que o diabo me usou.
                           Sabe por que? O mesmo papo do início, da apropriação das palavras e conceitos, para uso em proveito próprio: como se julgam donos dos segredos divinos, doutores da Lei, contestá-los é contestar Deus. 

In "Não Haverá Mais Natais", romance autobiográfico.


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