Meus
avós tinham uma casinha nos fundos, alugada, e lá morava um senhor viúvo com
duas filhas, de vinte e dois e vinte e quatro anos.
Ele
trabalhava a noite, vigia de banco, de maneira que as donas ficavam sozinhas, e
dormia de dia, de maneira que continuavam sozinhas, e nos fins de semana ia à
feira de passarinhos, de maneira que elas ficavam sozinhas, e os meus avós
trabalhavam fora, de maneira que eu ficava sozinho, de maneira que...
Pois
é, sem maldade, custei muito a perceber que ela estava fazendo muito uso do
telefone de vovó, ligando todo dia, às vezes duas, três vezes por dia, e me
olhando como gato olha rato, doido para abocanhar o pobre.
Mais
percebi: acabava de telefonar e ficava conversando comigo, tivesse assunto ou
não. Mas, bebezinho superprotegido, maldade minha nenhuma.
Talvez
percebendo, ela foi mais fundo, e começaram as brincadeirinhas de um correr
atrás do outro, se agarrar, trocar tapinhas, essas galinhagenzinhas, e eu
achando até engraçadas e divertidas aquelas brincadeiras...
Até
que conseguiu me cercar num quartinho onde guardavam o material de limpeza.
Me
apertou contra a parede e... Fiz a primeira descoberta: pelos desenhos e as
fotos nas revistas, eu pensava que beijo na boca era só roçar de lábios.
Quem
disse? É nada! Dona língua também é operária nos trabalhos.
E
começou a morder o meu pescoço, brincadeira estranha, que assim eu nunca havia
brincado, e até arrepia, dá um geladozinho na nuca, e surgiram dois peitões na
minha cara, sufocando, impedindo a respiração, e eu sem saber o que fazer com
eles, céus!, e a coxa dela entre as minhas pernas, e começou a desabotoar a
minha camisa, o que essa mulher pretende, senhor?, e a forçar o meu short para
baixo, curiosa, é agora que morro de vergonha, a respiração dela feito que
correu morro acima umas três vezes, os olhos brilhando que nem de lobisomem, e
me apertando, e a segunda descoberta: língua não serve só pra falar e beijar.
E
quando eu já estava todo pelado, me empurrou no chão, se jogou por cima, e não
era só os peitos era o corpo todo, e parecia brincadeira de cavalinho no trote,
e essa gemedeira, eu não estou machucando ninguém, e essas contorções que nem
porco entrando na faca, acho que desmaiei.... Então é assim? Até que não é
ruim, e a terceira descoberta: mulher é melhor que mão.
E
passou a ser todo dia, e se disser duas, três vezes por dia não é exagero
quando se tem quatorze anos.
E
vovó: “esse menino anda estranho,
calado...” E vovô: “tá”
emagrecendo...”
E
vovó me levou na Dona Finoca, uma rezadeira, que me rezou com erva cidreira e
arruda, para tirar o encosto, talvez espinhela caída, que estava caída nada,
sempre de prontidão chamando o encosto, e o encosto demorou a ir, só foi mais
de um ano depois, quando casou e me disse que agora não podia mais.
In "Não Haverá Mais Natais", romance autobiográfico.
In "Não Haverá Mais Natais", romance autobiográfico.
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