sábado, 25 de maio de 2013

INÍCIO DO VÍCIO

                           Meus avós tinham uma casinha nos fundos, alugada, e lá morava um senhor viúvo com duas filhas, de vinte e dois e vinte e quatro anos.
                           Ele trabalhava a noite, vigia de banco, de maneira que as donas ficavam sozinhas, e dormia de dia, de maneira que continuavam sozinhas, e nos fins de semana ia à feira de passarinhos, de maneira que elas ficavam sozinhas, e os meus avós trabalhavam fora, de maneira que eu ficava sozinho, de maneira que...
                           Pois é, sem maldade, custei muito a perceber que ela estava fazendo muito uso do telefone de vovó, ligando todo dia, às vezes duas, três vezes por dia, e me olhando como gato olha rato, doido para abocanhar o pobre.
                           Mais percebi: acabava de telefonar e ficava conversando comigo, tivesse assunto ou não. Mas, bebezinho superprotegido, maldade minha nenhuma.
                           Talvez percebendo, ela foi mais fundo, e começaram as brincadeirinhas de um correr atrás do outro, se agarrar, trocar tapinhas, essas galinhagenzinhas, e eu achando até engraçadas e divertidas aquelas brincadeiras...
                           Até que conseguiu me cercar num quartinho onde guardavam o material de limpeza.
                           Me apertou contra a parede e... Fiz a primeira descoberta: pelos desenhos e as fotos nas revistas, eu pensava que beijo na boca era só roçar de lábios.
                           Quem disse? É nada! Dona língua também é operária nos trabalhos.
                           E começou a morder o meu pescoço, brincadeira estranha, que assim eu nunca havia brincado, e até arrepia, dá um geladozinho na nuca, e surgiram dois peitões na minha cara, sufocando, impedindo a respiração, e eu sem saber o que fazer com eles, céus!, e a coxa dela entre as minhas pernas, e começou a desabotoar a minha camisa, o que essa mulher pretende, senhor?, e a forçar o meu short para baixo, curiosa, é agora que morro de vergonha, a respiração dela feito que correu morro acima umas três vezes, os olhos brilhando que nem de lobisomem, e me apertando, e a segunda descoberta: língua não serve só pra falar e beijar.
                           E quando eu já estava todo pelado, me empurrou no chão, se jogou por cima, e não era só os peitos era o corpo todo, e parecia brincadeira de cavalinho no trote, e essa gemedeira, eu não estou machucando ninguém, e essas contorções que nem porco entrando na faca, acho que desmaiei.... Então é assim? Até que não é ruim, e a terceira descoberta: mulher é melhor que mão.
                           E passou a ser todo dia, e se disser duas, três vezes por dia não é exagero quando se tem quatorze anos.
                           E vovó: “esse menino anda estranho, calado...” E vovô: “tá” emagrecendo...”
                           E vovó me levou na Dona Finoca, uma rezadeira, que me rezou com erva cidreira e arruda, para tirar o encosto, talvez espinhela caída, que estava caída nada, sempre de prontidão chamando o encosto, e o encosto demorou a ir, só foi mais de um ano depois, quando casou e me disse que agora não podia mais.

In "Não Haverá Mais Natais", romance autobiográfico.

                           

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