O primeiro
sintoma do fanatismo, da cegueira mental, seja ela política, religiosa,
filosófica ou científica, é a perda da capacidade de raciocinar, deturpando
conceitos e usando palavras indevidamente, divorciadas do seu significado
original.
Por isso cada
fanático religioso acredita que Deus só esta´nas igrejas da religião dele, que
os cientificistas acreditam que a ciência pode explicar tudo, que cada
corrente filosófica é excludente de
todas as outras.
Por conta
disso as palavras são deturpadas em seu conceito originais: cristãos são só os
protestantes, ditaduras existem para preservar a democracia (ouvi muito isso, afffff), só os
homens de ciências conhecem a verdade...
Porque digo
isso? O que tem de postagens afirmando que vivemos numa ditadura... Só são
superadas, em quantidade, pelas postagens de gatinhos e versículos bíblicos.
Vamos ver: o
governo atual foi democraticamente eleito, através de eleições gerais, pelo
voto universal, obtendo os votos da maioria ou chegou pela força das armas, por
uma traição ao seu comandante em chefe, o presidente da república?
O mandato
foi concluído, no tempo, e permanecem, sem passar a faixa presidencial a alguém
legitimamente eleito, tendo-se valido das forças das armas ou mecanismo
judiciais, ou cumprem mandato legítimo dentro do tempo constitucional?
Há censura
aos veículos da imprensa, com filtragem de notícias, adaptação das notícias e
interpretação das notícias ao interesses do governo?
Nos está
vedada a liberdade de manifestação?
Pelo contrário,
nunca se viveu num clima de tanta liberdade (já vi até postagem chamando a
presidente de puta, quando não montagens com ela só de calcinhas).
Vivi numa
época, democrática, segundo os fanáticos, em que reclamar da inflação dava
cadeia, dizer que os generais eram adidos comerciais do Estados Unidos dava
tortura e morte.
Agora dizem
que o governo é comunista, fascista, nazista... Sem medos e sem consequências.
Onde ditadura? Como se explica tanta inversão de
valores, tanta apropriação indébita, por deturpação, de adjetivos?
Pois explico:
no últimos anos da década de cinquenta, o Brasil tinha um sistema educacional
público imitado no mundo, um dos melhores. A distinção entre a escola pública e
a escola privada era feita pelas siglas: EP = escola pública, PP (pagou,
passou) = escola privada (quem estudava em escola particular era discriminado,
por ter menor nível, exatamente como se faz hoje com os alunos do ensino
público).
Praticamente
não havia escolas particulares e muito menos uma faculdade particular em cada
esquina, a educação era atribuição do Estado.
Examinemos o
nomes da época: Anísio Teixeira, Gilberto Freire, Darcy Ribeiro, Oscar
Niemayer, Burle Marx... Os que davam diretrizes e estabeleciam metas.
Havia o
Cinema Novo, A Bossa Nova, a Construção de Brasília, os movimentos concretos e
neoconcretos, e Bandeira, Drummond, Cecília, Jorge Amado, Veríssimo (pai)...
E veio a
ditadura, e todos esses foram cassados, expulsos do país, quando não amargando
cadeia antes, indo desenvolver os seu trabalhos em outros países.
Anísio
Teixeira, Gilberto Freire e Darcy Ribeiro constam como leitura obrigatória em
praticamente todos os cursos de pedagogia do mundo. Seus modelos teóricos e práticos
são usados em dezenas de países, mas veio a ditadura militar e eles foram substituídos
por sargentos com formação acadêmica em estandes de tiros e ordens unidas, e a
educação brasileira foi privatizada.
A consequência
está aí, cinquenta anos depois: a penúltima educação do mundo, em qualidade,
segundo a UNESCO.
Por isso
choram os filhos da ditadura, com saudades nascidas da educação que receberam
dela ou da que se seguiu, o que temos que entender, afinal, mãe é mãe, ainda
que tenha sido prostituta.
Francisco
Costa
Rio,
03/09/2013.