segunda-feira, 9 de dezembro de 2013

ENTREVISTA CONCEDIDA À RÁDIO PONTO UM 04/12/2013 14:00h

Ponto 1 – Boa tarde, Francisco. Você mais uma vez fazendo a gentileza de conversar conosco, uma conversa que é sempre aguardada pelos nossos ouvintes.
Boa tarde, Francisco, você aqui é audiência lá em cima, bem vindo mais uma vez.
Francisco Costa – Bondade de vocês. Boa tarde. À galera que está em casa, boa tarde, tudo de bom, hoje e sempre.

P1 – Começamos lhe dando os parabéns pelo seu sucesso no Facebook. Acho que você não volta mais pro rádio.
FC – Realmente não está mais nos meus planos voltar para o rádio. Entramos da era digital e o face acabou se tornando a arena onde se debate ideias e ideais. Tudo está convergindo para lá, a ponto de fazer sombra à grande imprensa, ao rádio e à televisão. Me sinto a vontade no face.

P1 – Antes de entrarmos no assunto mensalão, um comentário sobre o seu comportamento no face, e que eu acho que tem a concordância dos colegas aqui: você anda meio mal humorado, as vezes meio agressivo, no face.
FC – Até a minha irmã me cobrou isso, em comentário, no próprio face (risadas). Me comporto no face exatamente como me comporto na via real, não faço tipo nem criei personagem. Então tenho momentos de humor, momentos de vazios, momentos românticos e, claro, momentos de indignação. Nesses momentos de indignação reajo duro. Sou assim na vida real. É muita mediocridade política, muita alienação, muita babaquice, então bato. Gosto tanto de mediocridade que passei a vida inteira dando aulas, quer dizer, combatendo a mediocridade.

P1 – Que tipo de mediocridade e quem são esses medíocres?
FC – Como falei, no face cabe tudo. Então tem aquela turma que posta fotos de gatinho, textos de auto ajuda, florzinha, versículos bíblicos... São chatos mas inofensivos. Mas quando os dessa turma começam a se posicionar politicamente deixam de ser inofensivos e passam a ser perigosos porque o face é um lugar de formação de opinião. Então os que têm alguma visão têm que peitar isso.

P1 – Os coxinhas. O que é um coxinha?
FC – (o entrevistado ri muito) É o adolescente político: contra tudo e contra todos porque ele nasceu senhor da verdade e da razão. Não tem experiência, não tem maturidade, não tem informações, mas sabe tudo de tudo e fala tudo de tudo, e o pior, sabe digitar (risadas). Tem o coxinha coerente, porque está na faixa etária dos adolescentes, aos quais dou atenção, são recuperáveis (risadas) e os coxinhas com mais de trinta anos. Esses são adultos politicamente retardados, sociologicamente débeis mentais.

P1 – Lobão é um coxinha?
FC – Não. Lobão é a mão inversa da política. Tem um monte de vazios que só falam em corrupção, só discutem corrupção, reduzindo tudo à criminalidade. Quer dizer, criminalizam a política, seja por ignorância, como fazem os coxinhas, seja por não terem o que dizer, como faz a direita assumida. Já o Lobão foi sempre um drogado deslumbrado. Com talento artístico, é verdade, mas de rebeldia inconsequente. Esse Lobão é o mesmo que estava em acampamentos de doidões enquanto Genoíno e Dilma estavam na guerrilha, que estava nos palcos enquanto os companheiros eram torturados, que foi preso dezenas de vezes por porte e consumo de drogas, que foi eleito o garoto propaganda do Comando Vermelho, pelo próprio comando, título que ele, Lobão, assumiu com prazer.
Quando os seus discos pararam de vender, porque o mercado já estava saturado, ele saiu com um discurso anti capitalista meio perneta, acusando as gravadoras, etc. Mas não insistiu no discurso, fundou o seu próprio selo, para concorrer com as gravadoras, quer dizer, entrou no mercado, o que é contraditório. Agora saca tudo isso para dizer que foram atitudes políticas e politizadas, o que é um absurdo. Enquanto uns criminalizam a política, ele quer ideologizar, politizar o crime. É um babaca, bem a caráter para ser o intelectual da direita e da coxada.

P1 – Você é radicalmente contra as drogas.
FC – Como pai, avô, bisavô, pensador, professor... Se combato todas as fórmulas de alienação porque teria que aliviar a alienação química?

P1 – E a religião, é alienação?
FC – Depende. Quando se limita a ato de fé, à maneira de pensar a criação e o post mortem, não. Mas quando se torna eixo da existência do indivíduo, determinando tudo o que o indivíduo faz e pensa, todos os seus atos, aí claro que sim. É uma dependência, uma muleta, exatamente como a cocaína, com os mesmos mecanismos mentais, inclusive bioquímicos, de concentração de dopamina no cérebro.

P1 – E aí você bate, sem piedade, pelo que lemos.
FC – Não é bem assim. Você nunca me viu bater na Igreja Católica, mas em alguns dos seus atos, e o mesmo vale para os protestantes, os de religiões afro brasileiras, os budistas, judeus...
Bato nessas seitas pentecostais e neopentecostais... São o estelionato da fé. Mas eu não gostaria de falar sobre isso agora. Além de desviar o assunto que me trouxe, o mensalão, é um assunto complexo, que merece uma entrevista inteira, porque isso tem implicações políticas, morais, intelectuais... Abreviando: o pentecostalismo é a maior desgraça do momento, com o meu perdão aos meus irmãozinhos que estão me ouvindo, porque não é religião, mas uso do capitalismo a favor de uma elite que se apresenta como liderança religiosa, extorquindo e alienando os incautos que lhes fazem as fortunas. Mas isso é assunto para outra hora.

P1 – Então vamos ao mensalão, e o mesmo pedido de sempre: bem didático que é para todo mundo entender.
FC – (rindo) Tá. O que foi o chamado mensalão? Como o próprio nome indica, mensalão foi presumidamente o desvio de dinheiro público para pagamento de um complemento salarial a parlamentares, para que eles votassem a favor do governo no que fosse do interesse do governo.
Isso partiu de uma denúncia de um deputado, Roberto Jeferson, contra o Genoíno e outras figuras de proa do PT e do governo.
A primeira pergunta que se faz é: o governo tinha necessidade disso?
Sim, porque qualquer ato ou iniciativa está baseado na necessidade: você bebe água porque está com sede, come porque está com fome, entra num veículo porque precisa se locomover. Não existem atos gratuitos, ao acaso.
Ora, o governo tinha e tem a maioria parlamentar, a oposição brasileira é pífia, tanto na quantidade de parlamentares quanto na qualidade deles, o que basta e bastava para o governo ter os votos necessários, sem ter que comprar mais ninguém.
Isso, por si só, já derruba a tese de mensalão.

P1 – Por isso falarem em ditadura petista.
FC – Isso é uma graça, coisa de medíocres ou mal intencionados. O governo tem maciça maioria parlamentar porque o povo se cansou: desde o descobrimento, por mais de quinhentos anos fomos impiedosamente explorados. Primeiro os portugueses, depois os ingleses e agora os americanos, e entre o povo e os exploradores, um elite covarde, comissionada pelos exploradores. O povo se deu conta disso, acordou, e a cada eleição a elite vai perdendo mais poder. Dilma tem 70% de avaliação governo ótimo/bom, e mais de 45% das intenções de votos, o que se reflete no seu partido e nos da base de sustentação. Dilma leva no primeiro turno e ainda amplia a base de sustentação, o número de parlamentares no PT e nos partidos coligados. É a isso que eles chamam ditadura.

P1 – Tem dois e-mails e um telefonema com a mesma acusação.
FC – A quatro meses atrás tivemos passeatas em todas as capitais e nas principais cidades grandes. Gente protestando e até vandalizando. Todas as palavras de ordem possíveis, até com a presença de organizações estrangeiras, onde Lula foi chamado de ladrão analfabeto e Dilma, de puta. Quantos presos? Quantos processados? Quantos responsabilizados? As tevês mostram cenas de sexo explícito às sete da noite. Há repressão, censura? A maior tevê do país mente, inventa factóides, manobra informações... Há alguma intervenção governamental? Há políticos do partido do governo presos, as Forças Armadas estão nos quartéis, tem páginas aí, de generais, pregando a ditadura militar, o que caracteriza insubordinação, já que esses caras são subordinados à Presidente da República, Comandante em Chefe das Forças Armadas e ao Ministro da Defesa... Que diabo de ditadura é essa? A ditadura da liberdade? O Brasil só foi verdadeiramente livre em três momentos: nos governos de Juscelino, de Jango e no do PT. É o mesmo papo de 63: uma ditadura militar para acabar com a ditadura civil, coisa de quem não tem informação ou caráter.

P1 – Tem mais um e-mail aqui... Se você concorda que há roubalheira generalizada.
FC – Não sou inocente para colocar a minha mão no fogo por uma base parlamentar que tem Renan Calheiros, Collor, Paulo Maluf, Sarney... Claro que não ficaram honestos por obra e graça de Nosso Senhor ou se regeneraram da noite para o dia.
Isso é uma coisa, mas calúnia, mentira deliberada, invenções... Isso é outra.
Primeiro postaram que Lula tem uma das maiores fortunas do país, e a fonte da informação foi a revista Forbes, e a Forbes desmente, afirmando que o nome de Lula não aparece nem entre os ricos. E Lula compra uma imensa fazenda em Minas Gerais, e se descobre que a foto da fazenda é a da sede da Embrapa-MG. Aí o Fábio, filho de Lula é o dono da Friboi, e a Friboi entra em concordata, e o nome do cara não aparece porque ele não sabe nem onde fica a sede da empresa. Aí o próprio Fábio compra um jato executivo por cinquenta milhões de dólares, e o jato é de Eike Batista, o mega empresário. Aí a filha da Dilma tem dez empresas enormes, e se descobre que só tem uma, de pequeno porte e constituída antes da Dilma se filiar ao PT, e a própria Dilma compra uma mansão em Porto Alegre e os donos da mansão gritam: que é que é isso, é nossa, não vendemos pra ninguém. E Genoíno tem uma casa modesta, a única, que comprou pelo sistema financeiro, a muitos anos, e postam dezenas de fotos de mansões, quase castelos, dizendo que são dele...
Se é para atacar... Eles não são deuses nem anjos, são políticos, têm furos e é por aí que se tem que discordar ou concordar, dar porrada ou elogiar, no nível ideológico e profissional, e não nessa baixaria de calúnias, porque isso só atende a quem quer desestabilizar não só o governo como o sistema, para implantar ditaduras de direita. São criminosos.

P1 – Você tem ideia de onde surge isso?
FC – Claro, qualquer um que tenha se afastado, um mínimo que seja, da obscuridade mental, sabe. Essas mentiras são criadas e as fotos, editadas, nos comitês dos partidos de oposição, a começar pelo PSDB, de ética zero, e são postados por cachorrinhos deles. Aí os coxinhas, todos intelectuais de primeira linha, saem compartilhando, reproduzindo. Muitas dessas fontes já estão identificadas.

P1 – Tem uma que veio pelo telefone: pede para você falar das privatizações e da corrupção da direita.
FC – Aí nós vamos varar a noite, porque vou falar de tudo o que a Tevê Globo esconde, ou deturpa, quando é tão gritante que não tem como esconder.
Comecemos por um helicóptero com quase meia tonelada de cocaína, interceptado e apreendido pela Polícia Federal, depois de investigações. Ora, se investigou é porque esta não foi a primeira vez, há voos anteriores.
O helicóptero é da família Perrela, a fazenda onde pousou é da família Perrela, o piloto é funcionário da família Perrela. E quem é a família Perrela? O filho é deputado estadual, em Minas Gerais, e o pai é Senador da República, ambos ligados aos tucanos, com cargos de direção no futebol mineiro, com apoio decisivo de Aécio Neves. São políticos intimamente ligados aos tucanos. O salário do piloto e o dinheiro do combustível saiam da Assembleia Legislativa mineira e do Senado Federal, quer dizer, o dinheiro público financiando o narcotráfico.
E aí? Fossem os Perrelas da base de sustentação do governo federal a Globo dedicaria metade do Jornal Nacional ao assunto, diariamente, já teria produzido um Globo Repórter sobre o tema, já haveria listas de CPI, para investigar... Mas foram os tucanos, íntimos e cúmplices da tevê Globo, então deu uma vez só, e empurraram a culpa para o piloto, o bucha.
A estimativa é que nos últimos vinte anos, nos governos de Covas, Serra e Alkimin, os tucanos desviaram quase vinte bilhões de reais. A denúncia partiu de uma empresa europeia, justamente a corruptora, quem deu o dinheiro a eles.
Não houve obra em São Paulo sem dinheiro desviado, nos últimos vinte anos.
Para o amigo ouvinte ter uma ideia, o governo tucano de São Paulo reformou 98 vagões do metrô de lá, e gastou o equivalente à compra de 136 vagões novos, na China. A construção de um bom pedaço do metrô de Nova Iorque saiu mais barato que a reforma dos vagões do metrô de São Paulo.
Claro que os tucanos não fizeram um mau negócio, superfaturaram, roubaram, para alimentar fortunas e para fazer caixa 2 para o partido.
Claro que a Globo não noticia isso, ela é tucana, também beneficiária, politicamente e na grana, que é lavada na publicidade, com parte ficando com a própria Globo.
Você viu agora, a prisão dessa máfia de fiscais do tucanato... Bastou prendê-los e a prefeitura de São Paulo arrecadou mais trinta milhões, em um mês. Imagina o que estava sendo roubado.

P1 – Você falou da corrupção e acabou não falando das privatizações. Tem um e-mail malcriado aqui. Lanço a bomba?
FC – Falei que sobre a corrupção da direita há o que falar a noite inteira (risos) Falemos das privatizações, mas antes joga o que você chamou de bomba (risos)

P1 – Se assina HLC... Primeiro afirmou que é muito fácil falar o que você está falando sem o contraditório, sem alguém para lhe contestar. Depois afirma que o PT é tão privatista quanto o PSDB. Depois diz que o PT é de direita e que você é um petista cego, que não vê isso. Termina afirmando que apesar disso o parabeniza pela sua capacidade de se expressar.
FC – Vamos começar pelo final: a facilidade de expressão que ele diz vem de mais de quarenta anos de salas de aula e de embates em microfones, na militância sindical. Obrigadão pelo elogio.
Depois... Não sou petista. Durante toda a minha militância sofri com a oposição petista, principalmente da sua corrente majoritária, a Articulação, que é a de Lula, por entendê-la Social Democrata. Minha posição é mais próxima à de Dilma, militando ao lado do PT, mas com o coração mais à esquerda.
Atualmente, de tanto ver baterem no PT, de forma leviana, covarde... De tanto ver uma tentativa de extermínio, valendo-se da imprensa e do Poder Judiciário...
Por ver o PT aglutinar as forças progressistas desse país, me confesso meio petista sim, mas sem perder de vista o ideário socialista.
O que mais que ele falou?

P1 – Do contraditório e das privatizações.
FC – Do contraditório: pega um carro e vem aqui, os microfones estão abertos, não só para ele como para qualquer um, chega junto ou marca um debate que estou dentro.
Quanto às privatizações, a sua afirmação é digna de um coxinha da melhor extirpe, meu amigo, de quem escutou o galo cantar e não sabe onde nem porquê.
Vamos pegar uma privatização de Fernando Henrique Cardoso, a da Vale do Rio Doce, por exemplo.
A Vale era a segunda empresa brasileira, em tamanho e faturamento. Tem um monte de minas em exploração e um monte como reserva, para quando as atualmente em exploração se esgotarem ou aumentar a demanda. Não bastasse isso, tem todo o território nacional mapeado, todo o conhecimento de nossa geologia, onde está cada metal e em que quantidade. Como a mineração acontece longe das cidades, a Vale tem cidades enormes, de funcionários. Tem ferrovias imensas, com trens modernos transportando minério. Tem prédios inteiros nas principais capitais brasileiras e no exterior, onde funcionam os seus escritórios. Tem pátios de estocagem nos portos e portos próprios, dela...
Pois bem, isso foi vendido pelo governo tucano por três bilhões. Sabe o que significa isso? O dinheiro gasto com a reforma do Maracanã. FHC deu a Vale do Rio Doce.
Hoje o faturamento da Vale, a cada três, quatro meses é mais do que ela custou. E nunca mais será nossa, foi vendida. Isso é privatização.
Agora vamos examinar  o que o nosso amigo chamou de privatização do PT, vamos examinar o Pré Sal e os aeroportos.
O Pré Sal, primeiro. Descobrimos talvez a maior reserva de petróleo do mundo, o chamado Pré Sal. Essa reserva tem dois inconvenientes: está situada longe do litoral e em camadas muito profundas do subsolo oceânico, a milhares de metros de profundidade, o que exige alta tecnologia, uma tremenda infraestrutura de prospecção, extração e transporte e a necessidade de um investimento violento, o que o Brasil, sozinho não tem condições de fazer. E aí? Tucanamente vendê-lo? Deixar pra lá, para ser explorada quando o petróleo não for mais matriz energética, substituído por fontes alternativas? Ou estabelecer parceria, para a exploração?
Vivemos tempos novos, e a nossa opção foi a terceira. Fizemos uma parceria com os chineses e com empresas europeias.
Lembro que 60%, quer dizer, mais da metade, na parceria, é nosso. Isso, acrescido dos impostos, em todas as etapas e mais os royalties, vai a 80%.
Simplificando: de cada cem reais produzidos, oitenta reais ficam no Brasil.
Uma outra jogada de mestre foi ter escolhido a China como parceira: o petróleo está escasseando no mundo, os americanos e europeus estão garantindo suas reservas internacionais através de guerras, como no Oriente Médio.
Nos tomarem o Pré Sal, para eles, é fácil. Quero ver é tomar dos chineses.
Agora um detalhe: o Pré Sal não é contínuo, são bolsões de óleo. É como se fosse um arquipélago submarino e esse contrato não é sobre todo o arquipélago, mas de uma só ilha. Virão outros contratos.
Agora vamos aos números: só no ato da assinatura o Brasil recebeu vinte bilhões, o equivalente a seis vezes e meia o que FHC cobrou pela venda da Vale inteira.
Só esse poço vai render, quando estiver em franca produção, um trilhão de reais por ano, um terço do nosso PIB atual.
Como o contrato é de trinta anos, terminado, tudo nos é devolvido, o petróleo que ainda houver e toda a infraestrutura montada, sem que tenhamos que gastar uma única moeda.
O Pré sal, entre diretos e indiretos, vai gerar mais de um milhão de empregos, e de mão de obra qualificada.
Compare o contrato do Pré Sal com a venda da Vale. É a mesma coisa? Isso era para ser comemorado por nós como conquista de Copa do Mundo, mas daria votos para o PT, e a Globo escondeu do povo.
Já com o aeroporto, que os coxinhas dizem que foi privatizado: firmamos um contrato de parceria com os administradores do aeroporto mais moderno do mundo. No ato da assinatura do contrato recebemos dezenove bilhões, seis Vales e meia. Os caras tem o compromisso, em contrato, de investir mais dez bilhões, transformando o Aeroporto Tom Jobim, aqui no Rio, no mais moderno do mundo.
Como o contrato tem validade de vinte e cinco anos, daqui a vinte cinco anos nos devolvem o aeroporto mais moderno do mundo, sem que tenhamos que gastar uma única moeda. É igual à privatização da Vale?
Os coxinhas acham que é, repetem isso o tempo todo, os coitados.

P1 – O telefone pirou e a caixa de e-mails lotou.
FC – Faz as perguntas que mais se repetem. Um aviso, antes de alguma maledicência: não sou candidato a nada, nem a marido, pretendo continuar viúvo (risadas).

P1 – Tem duas repetidas: você é a favor do marco civil na internet? E... Fale alguma coisa sobre o bolsa família. Tem um aqui indignado: “a gente trabalha pra sustentar bolsa família e auxílio presidiário, é ridículo!”
FC – (rindo) O marco civil: sou a favor. Primeiro é preciso responsabilizar os autores das postagens, o negócio está muito leviano, muito irresponsável. Vamos imaginar que eu poste afirmando que a sua mãe ou a sua irmã é prostituta. Você vai responder indignado, eu vou rir, alguns vão ficar do seu lado, outros, do meu, e ponto final. Se você me processar por calúnia o Juiz pode aceitar a cópia da postagem ou não. Acabou.
Com o marco civil todos seremos responsáveis pelo que postarmos. Se um coxinha levianamente posta que o filho do Lula é dono da Friboi e ele vai à Justiça, o Juiz imediatamente pede as provas: o documento de constituição da empresa, com o nome de Fábio Inácio da Silva constando lá; o documento de registro junto à Junta comercial, com o nome do cara lá, as atas de pelo menos duas reuniões de direção da empresa, com a assinatura do cara lá. Se o acusado apresentar, o filho do Lula fica intimado a provar de onde veio o dinheiro investido na empresa, além de ser preso por indução da Justiça a erro, já que afirmou uma mentira, que não era dono da empresa.
Sendo mentira, com o acusador não apresentando documentos que provem que o filho do Lula é dono da Friboi, que seja preso imediatamente, por injúria, calúnia e difamação.
Pena é que no Brasil o crime de calúnia não é levado a sério, é quase tido como infração. Eu barbarizo a sua família e sou penalizado com meia dúzia de bolsas família ou um mês de trabalho comunitário.
Isso em relação ao face e ao twiter, mas em relação aos blogs e sites o negócio é pior.
Com um relógio de pulso, com ponteiros, duas pilhas grandes, adubo de canteiro, carvão em pó e enxofre moído, vendido em lojas de ração, dois pedacinho de fio e mais dois componentes que evidentemente não vou dizer, faço uma bomba relógio capaz de fazer um grande estrago num prédio. Sei porque sou professor de Química, mas tem diversos sites ensinando a fazer, com detalhes, passo a passo.
A gente se importa com os sites de pornografia, pedofilia, drogas... Mas tem site que não só ensina a prática do suicídio indolor como incentiva.
Além disso precisamos criar mecanismos para proteger a nossa indústria da espionagem industrial, o nosso governo, da espionagem política, e as nossas Forças Armadas da espionagem militar.
O marco civil vai regular tudo isso, acabar com essa bagunça virtual.
O quê mais?

P1 – Bolsa família e bolsa apenado.
FC – Os Estados Unidos dão quarenta e nove milhões de bolsas família, o Canadá dá bolsa família, o Japão dá bolsa família... Aqui não devemos dar. Deve ser porque eles têm muitos miseráveis e nós não temos nenhum. Esse programa hoje está sendo implantado em todo o mundo. Recentemente o prefeito de Nova Iorque mandou um emissário dele aqui para ver como funciona o bolsa família, vai implantar lá, vai começar com dois milhões e meio de bolsas.
A queda na mortalidade infantil... No Brasil, foi uma veze meia a média mundial. Bolsa família. 
Como a Globo gostaria de ver hordas de retirantes, como antigamente, para fazer programas especiais, mostrando a incompetência do governo, mas não acontece mais. Bolsa família.
O dinheiro que antigamente salvava bancos fraudulentamente falidos agora alimenta o povo. O dinheiro que era emprestado com taxas de juros abaixo das praticadas pelos bancos particulares, para os gringos comprarem as nossas empresas com o nosso dinheiro, agora vira comida para o povo. O dinheiro que financiava fazendas, cruzeiros marítimos, excursões à Disneylândia... Agora mata a fome do povo.
Negar de comer a quem tem fome, coisa da direita, cristã, branca, ocidental.
O elogio a este programa vem de todos os lugares, de todos os países, de todas as ideologias. Só a direita brasileira e os seus coxinhas amestrados são contra.
Agora a bolsa do apenado: esse dinheiro não é para o cara que está preso, mas para a sua família. O cara vai preso e a mulher e os filhos devem ser condenados à fome e à indigência?
As filhas devem se prostituir e os filhos se transformarem nos bandidos que substituirão o pai?
Acho legal esse bando de coxinhas cristãos dando pancada no bolsa do apenado, se esquecendo da passagem “em verdade vos digo que ninguém paga pelo pecado de ninguém”, querendo que crianças inocentes paguem pelas cagadas do pai, transformando esposas de bandidos em cúmplices. Nada mais exótico e ridículo que coxinha.

P1 – (risadas continuadas, por causa da indignação do entrevistado) Você deprecia os coxinhas...
 FC – Coxinha é ridículo, cara. O cara passa o dia surfando, nos corredores dos shoppings, nas pistas de skate, na praia e de noite vem dizer que a Dilma não vale nada porque a camisa La Coste ou o perfume tal está custando o olho da cara. Que está gastando muito de gasolina para passear. Verdade, presta só a atenção.
O desgraçado pensa que Karl Marx é marca de macarrão e Adam Smith é o zagueiro da seleção inglesa e vem dizer que a diferença entre direita e esquerda acabou, que isso não existe mais.
Teve um que afirmou que o PT é um partido nazicomunista (risadas continuadas), o mesmo que dizer que um maluco é corintiano palmeirense ou flamenguista vascaíno, evangélico umbandista, tentando fundir incompatibilidades. São pândegos.
Teve um que afirmou mais ou menos o seguinte: só porque é sistema semi-aberto o José Dirceu vai trabalhar fora da cadeia. Isso é regalia, tinha que ter o mesmo tratamento dos outros presos, ficar sem sair, trabalhar lá dentro... Quer dizer, não há diferença entre regime fechado e semi-aberto.
Pro coxinha perceber a diferença não precisava nem ler o Código das Execuções Penais, basta saber português para ver que semi quer dizer metade: metade do tempo preso e metade, solto. De onde o coxinha tirou a brilhante conclusão? De lugar nenhum, acha, e se acha ele está certo. (risos) Tudo o que postam é assim, por instinto, acham. Não postam, bostam (risos).

P1 – E os coxinhas evangélicos? (risos)
FC – Enchem a cara de cerveja, vão pro motel, falam da vida alheia e depois vem dar testemunho de uma intimidade com Deus que chego a pensar que jogam futebol juntos, no mesmo time. (risadas) Eles postam um versículo e depois comentam, aí a gente conclui que é analfabeto, porque o versículo quer dizer exatamente  o oposto do que está dizendo. Coisa de maluco santo.

P1 – Você...
FC – Quer ver uma coisa que me deixa furioso? Quando criticam a escolaridade do Lula, o chamam de analfabeto. Quando Lula tomou posse havia 140 escolas técnicas, quer dizer todos os governos juntos, desde o Império, construíram 140 escolas técnicas. Em oito anos Lula construiu 214 escolas técnicas, uma vez e meia o que se construiu em mais de cem anos de história, mas o que se tem que ressaltar é que ele tem pouco estudo.
Fernando Henrique, o tal, cheio de títulos, doutor honoris causa nisso, naquilo, não fez uma única universidade. Lula fez 16 em oito anos. Mas o que se tem que ressaltar é que ele tem pouco estudo.
Aí você vai na redação dos que estão criticando e descobre que ainda não chegaram no nível de alunos do Lula, um tal de nóis vai, a gente fumos (risos). Odeiam o cara porque se vêm no cara.

P1 – O tempo está terminando e você não falou no mensalão.
FC – Pois é, desvirtuaram tudo... E embarquei (risos).
Afinal, porque essa suruba nacional, essa confusão desgraçada, nas postagens e nas discussões de esquinas?
Primeiro porque o brasileiro não é um povo politizado. Para você discutir medicina tem que ter pelo menos um conhecimento básico de anatomia, senão vai colocar a válvula íleo cecal na nuca e a patela no estômago, se é que você sabe o que é isso. Para discutir cálculos avançados, pressupõe-se que você sabe a tabuada e as regras elementares da álgebra. O mesmo para a política. Ela exige conhecimentos básicos, alguma teoria, que poucos conhecem, mas todo mundo discute.
A educação pré escolar é de responsabilidade dos municípios, que administram as suas creches e fiscalizam e orientam as creches e jardins de infância particulares. A educação fundamental, do primeiro ao nono anos, e o ensino médio são de responsabilidade do Estado, que administra a sua rede de escolas e fiscaliza e orienta as redes municipais e particulares.
Só o ensino superior é de responsabilidade federal. Aí faltam professores e vagas, o ensino está de baixo nível, há muitas greves e aulas vagas... E tome porrada na Dilma.
As clínicas são quase todas municipais, os hospitais, municipais e estaduais, só uns poucos, federais. O SUS está depositando direitinho, mensalmente, o dinheiro da saúde nas contas dos Estados e Municípios, mas se faltam médicos ou leitos, se a fila de espera está grande, porrada na Dilma.
A violência está grande, a corrupção policial nunca foi tão grande e escancarada. Segurança é de administração estadual. Os governadores são comandantes em chefe das polícias militares e chefes das polícias civis, mas se a segurança não está funcionando... Porrada na Dilma.
Ônibus lotados, trens lotados, metrôs lotados, veículos sem respeitar horários, em mau estado de conservação? Isso é problema municipal e estadual. Mas... Porrada na Dilma.
A corrupção está braba, o dinheiro sumindo? Não são os vereadores, os secretários municipais, os prefeitos, os deputados estaduais, os secretários de estado, os governadores, os funcionários públicos ou nomeados, com cargos de confiança... Claro que não, a roubalheira é federal, coisa de Dilma, Lula e do PT.
As pessoas tem alguma noção do que diz a Constituição, o Código Civil, o Código Penal... Ou opinam por instinto, porque acham?
E o pior é que se acham sempre certos. Os que discordam são considerados jumentos.
Esta é uma questão, mas não é a mais grave.
A mais grave é a conjuntural.
Despidos de ideias pré concebidas, do passionalismo político partidário, o que vemos é que o último governo neoliberal, de FHC, passou a décima sexta economia do mundo para Lula. Em onze anos essa economia passou para o sexto lugar, tornando-se sólida e poderosa.
Os nossos índices, de inflação, emprego, crescimento do PIB, distribuição de renda, inversão da pirâmide econômica dão inveja ao mundo, e todo dia nos chega algum elogio, seja de um estadista ou da ONU, de alguma Instituição Internacional ou de economistas de renome.
Até FHC, desde o início da nossa historia, o que tivemos foi uma economia voltada para uma elite econômica local e para servir ao capital internacional, como mero fornecedor de matéria prima e mão de obra barata.
Com a chegada da base aliada ao poder, liderada pelo PT, a orientação econômica mudou, e a classe dominante, como era de se esperar, esperneia, pula, salta como pipoca em frigideira quente, sentindo escafederem-se os seus privilégios de proprietária de tudo, inclusive do povo.
Com a mudança de rumos, lentamente vamos dando as costas ao capitalismo na sua forma mais avançada e cruel, o neoliberalismo, optando pela social democracia com viés socialista, buscando um país de todos e para todos.
Isto na conjuntura interna. Na externa, diversificamos mercados, e a dependência de mais de setenta por cento à economia norte americana, situa-se na casa de trinta por cento.
Estabelecemos acordos econômicos, militares e diplomáticos com países então estranhos a nós, entre eles China e Rússia, principalmente.
Aprofundamos as relações de amizade e cooperação com os nossos vizinhos de fronteiras, companheiros de miséria e dificuldades, e a América do Sul resolveu pela emancipação.
Na Bolívia, Evo Morales aprofunda as transformações e é cada vez mais querido pelo povo. Kirchner leva a Argentina para caminho semelhante ao brasileiro. Na Venezuela as eleições recentes ampliaram a base Chavista, que já é de 60% nesse país. O Uruguai, por ser pequeno, de pequena população e economia pouco diversificada é o que está mais adiantado no caminho das modificações sociais, sob a liderança de Mujica. As eleições chilenas foram para segundo turno, e os indicadores apontam para uma mulher de esquerda, a vitoriosa.
O império norte americano, que sempre nos teve como quintal seu, o que foi dito por eles textualmente em mais de uma oportunidade, não assistiria quietinho a esse surto de emancipação.
Então serve-se de uma mídia, liderada pela tevê Globo, vendida a eles, desde a sua origem, quando foi do grupo Time-Life. Serve-se de emissoras de rádio da Disney, cujo sócio é o filho de FHC, serve-se das revistas do grupo Abril, a começar pela Veja, que tem 30% das suas ações nas mãos da Nepster, a mesma empresa que manteve Mandela preso por 27 anos.
Claro que os poderosos não vão colocar as caras e as fortunas nas janelas, para serem apedrejados, e aí um noticiário tendencioso, escondendo os que lhes convém esconder, superdimensionando o que convém superdimensionar, mentindo, inventando, deturpando...
A esquerda está em marcha e pará-la só com golpes militares em série, em toda a América Latina, como nos inícios dos anos sessenta.
Só que agora está difícil, a conjuntura é outra. 
Se as Forças Armadas são conservadoras, de direita em sua postura política, é muito democrática no recrutamento do seu efetivo. Como os filhos da classe dominante consideram o serviço militar uma perda de tempo que atrapalha os seus negócios de família, e o pobre vê como uma oportunidade na vida, isso faz com  que o efetivo de hoje veja os ganhos de suas famílias,  no governo progressista.
Antes havia a União Soviética e o risco de sairmos da órbita de um bloco para cairmos no outro. Mas o Império Soviético esfacelou-se e hoje um modelo de socialismo seria tupiniquim, nosso, com matriz brasileira, e isso é outra possibilidade, diferente.
Na década de sessenta os nossos oficiais superiores formavam-se em Yale e Princeton e tramavam lá, no interesse dos de lá, o golpe que aplicavam aqui. Hoje o negócio mudou.
Na década de sessenta havia a indisciplina, a insubordinação e a desordem no seio das próprias Forças Armadas, organizadas pela Cia, onde se destacou Cabo Anselmo, triste figura. Hoje a disciplina está reinando, com as tropas fiéis e subordinadas à sua Comandante em Chefe.
Se em sessenta dez generais pediam golpe e um ficava calado, hoje um aventureiro pede golpe enquanto dez generais ficam calados.
Finalmente, nos anos sessenta era muito difícil organizar o povo, para uma reação, por causa da comunicação. Hoje temos a internet, e as badernas de junho deram um pálido exemplo do que é capaz. Hoje seria guerra civil e os militares têm isso bastante claro, não querem isso.
Num quadro assim, o desespero da direita aumenta. E vão às únicas armas que possuem, os meios de comunicação, cujo combustível é o dinheiro.
Sabem que não levam mais nem eleição para síndico de condomínio de luxo. Foi Lula, Lula de novo, Dilma, e agora será Dilma de novo.
Aécio nasceu derrotado, Marina e seus multibionários parceiros, Natura e Banco Itaú são a personificação das contradições e Joaquim Barbosa deverá estar desmoralizado dentro de alguns dias, com o desmonte da farsa do mensalão.
Aí entra em cena os coxinhas, dizendo que as diferenças entre a direita e a esquerda acabaram, insistindo no papo de corrupção, criminalizando a política... Apontando um trimestre de déficit no PIB, para tentar inviabilizar dez anos consecutivos de crescimento do PIB, gritando contra cinco anos de atraso na transposição do Rio São Francisco, esquecendo de cinco séculos de atraso dos governos anteriores, vendo comunismo até em Papai Noel porque de roupa vermelha e distribuindo brinquedos, ao invés de vendê-los... O estertor dos derrotados.
Você quer maior prova do nosso crescimento do que o reativamento da Quinta Frota? 
A Quinta Frota, norte americana, estava desativada desde a Segunda Guerra Mundial, e a sua função é patrulhar o Atlântico Sul.
Com o crescimento conjunto e a mudança de rumos políticos dos países da América do Sul e da Costa Ocidental da África, os ianques vão passar a nos policiar como policiam a Rússia, a China e o Oriente Médio, o que vai lhes custar bilhões de dólares.
Entendeu a nossa importância na constelação das nações? Mas há ainda os que nos querem vassalos, curvados, abanando o rabo e esperando a ração.

P1 – Tempo estourado! Suas considerações finais. Mas antes o nosso agradecimento, mais uma vez, pela sua presença. Uma ouvinte te definiu muito bem, e concordamos com ela: o Professor Francisco é uma festa para nós.
FC – Obrigadão a essa ouvinte. Viúvo e na pista para negócio (risadas). Obrigadão a vocês, pelo espaço, e a cada ouvinte que teve paciência de me ouvir até agora.
Mais uma coisinha: vi o e-mail do coxinha me chamando de Lobão de esquerda (risadas). Não tenho nenhuma experiência com drogas. Aliás, tenho: umas mulheres horríveis que namorei, mas... Ninguém é perfeito! (risos) Um beijão e até a próxima. Fui!

Entrevistadores: Narjara, Sérgio Lopes e Romualdo.


FIM

terça-feira, 17 de setembro de 2013

ENTREVISTA CONCEDIDA A RADIO PONTO UM 17/09/2013. 09:00h

Ponto 1 - Estamos com o professor Francisco Costa de novo, para mais uma troca de figurinhas. Bom dia, professor.
Francisco Costa – Bom dia. À galera em casa bom dia. Fora do microfone vocês me chamam de Chico, aqui de professor (risos). Pode ser  Chico aqui também, não me incomodo.

P1 – Estamos conhecendo um Chico diferente no face e nos papos particulares, mais agressivo, mais radical. O que houve?
FC – (longa pausa) Não gosto de injustiça. Enquanto o negócio estava no nível de denúncia pra lá, denúncia pra cá, tudo bem, mas a partir do momento em que o Supremo Tribunal Federal passou a funcionar como um comitê de campanha do PSDB, fiquei chateado e entrei na briga.

P1 – Explica isso pra gente, Chico.
FC – A Constituição brasileira diz que somos todos iguais perante a lei, não há privilégios nem privilegiados, e sempre que alguém se sente injustiçado num julgamento tem o direito de recorrer da sentença, em instância superior. É a regra constitucional, não foi feita para discussão, mas para cumprimento, e não é o que está acontecendo com os chamados mensaleiros. A partir do momento em que não dão a eles o direito de recorrer estão discriminando, transformando o STF num tribunal de exceção.

P1 – Aí entra o embargo. Explica pra gente o que é e como funciona, mas bem de leve, pra galera entender.
FC – Repara que eu falei que tem direito de recorrer da sentença em instância superior. Um exemplo: imagine que eu roube uma bicicleta, aí o juiz me dá dez anos de cadeia, em regime fechado, enquanto outro sujeito assaltou um banco, trocou tiro com a polícia, o diabo, e pega dez anos também. Meu advogado recorre, para mostrar a um juiz de instância superior que a minha pena foi exagerada. O juiz pode acatar ou não. Acatando, anula o processo, começando tudo de novo, reduz a minha pena ou me absolve, vai depender do entendimento dele.

P1 – Sim, mas o embargo.
FC – Acontece que os chamados mensaleiros foram julgados direto pelo Supremo Tribunal Federal, que é a instância máxima da justiça, não tem uma instância superior, onde se possa recorrer. Para não haver discriminação, foi criada a figura jurídica do Embargo Infringente. E o que é isso? Se o colegiado de Juízes ficar dividido e os réus conseguirem pelo menos quatro votos a favor deles, a pena é revista, como se estivessem recorrendo a uma instância superior, e foi o que aconteceu, eles tiveram quatro votos a favor. Seria só cumprir a lei, aí deu essa suruba toda.

P1 – Detalhe mais, não ficou bem claro.
FC – O Superior Tribunal Federal é a instância máxima da justiça brasileira, como falei, e é formado por onze juízes, com status de ministros. Há o presidente, que é o Joaquim Barbosa, e os outros dez. Na votação de condenação dos mensaleiros, o placar foi de sete a quatro, o que deu a eles o direito de recorrer. Foi isso

P1 – Mas isso já não foi derrubado?
FC – Não senhor, quem lhe disse isso? Em 1998 o Fernando Henrique mandou uma PEC...

P1 – O que é PEC? Os nossos ouvintes provavelmente não sabem.
FC – PEC é a abreviatura de Projeto de Emenda Constitucional. O executivo quer mudar alguma coisa na constituição, faz um projeto, dizendo o que quer e manda para o Congresso Nacional, para avaliação e votação pelo plenário, por todos os deputados e senadores. É isso. Então o Fernando Henrique mandou uma PEC, acabando com o Embargo infringente, que não chegou nem a ser votado, foi recusado pela Comissão de Constituição e Justiça. Então está valendo, não há o que discutir. Constituição não se discute. Cumpre-se.
                Agora essa palhaçada toda para decidir se eles têm esse direito ou não. É ridículo.

P1 – Na sua opinião, os mensaleiros roubaram?
FC – Não. Fizeram caixa 2 para o PT.

P1 – O que é caixa 2?
FC – Dinheiro por debaixo do pano, clandestino, mas que partido não faz? Todos fazem, assumidamente, nenhum deles nega. O partido mais certinho, de freirinhas pudicas, é o Psol, e a presidente do Psol no Rio de Janeiro renunciou do cargo porque foi flagrada fazendo caixa 2.
E ainda há um agravante que ainda não apareceu, mas que vai dar merda mais adiante: Roberto Jeferson.

P1 – Não entendi.
FC – Porque é que o Roberto Jeferson foi cassado, porque motivo? Por ter mentido, ao denunciar um esquema de mensalão que se provou ser inexistente. Pela apuração do Congresso, da Polícia Federal e da Procuradoria Geral, não houve esquema de mensalão, até então, e cassaram o Jeferson, por ter mentido. Agora condenam os caras por serem mensaleiros. Ora, Jeferson, além de raposa velha na política, é advogado, vai entrar exigindo a revisão de tudo, a devolução do mandato, todos esses anos de salários e mais uma indenização milionária, por danos morais, e a União vai ter que pagar, quer dizer, o povo brasileiro. Essa suruba está longe de terminar, tem tesão pra muitas noites mais.

P1 – E a tua bronca do Joaquim Barbosa (muitas risadas)
FC – Porque é um canalha de toga. Ele vai acabar conseguindo fazer o que as passeatas e o vandalismo não conseguiram: rachar o povo brasileiro, nos levar a uma radicalização de posições. Ele é político, de extrema direita, corrupto e está usando o STF para promoção pessoal, já em campanha.

P1 – Chiiicccoooooo! Você não tem medo de ser preso não, de falar isso assim, no rádio?
FC – Não. Não lembro mais o autor da frase, mas “há momentos em que o único lugar digno de um homem digno é na cadeia”. É por aí.

P1 – (Chico fica visivelmente irritado) Detalha isso pra gente, mas cuidado, pelo amor de Deus!
FC – Ficam provocando, vão fechar a rádio de vocês (risos). Joaquim Barbosa abriu uma empresa nos Estados Unidos e, em nome da empresa, comprou um apartamento de um milhão de dólares ou reais, não sei bem, mas foi de um milhão.
E daí? Você vai me perguntar. Daí que a lei brasileira impede que magistrados sejam proprietários de empresas. Flagrados, perdem a magistratura, são compulsoriamente aposentados, já que juízes não podem ser demitidos, ainda tem mais essa.
                Qual foi a justificativa do nosso herói fascista? Fiz tudo de acordo com a lei americana. Não sei se deu péssimo exemplo ou firmou jurisprudência. Agora, quando pegarem um traficante de maconha em alguma favela, o cara vai dizer “segui as leis suecas, lá a maconha é liberada”. A situação é essa, meu chapa. Coisa de piada de revista de humor.
                Mas não para aí. Qual é a atividade dessa empresa? Compra o que, vende o que, fabrica o que? Não está especificado. Ele abriu a empresa e dias depois comprou o apartamento. Quer dizer, abriu a empresa só para comprar o apartamento. Aí surge uma nova pergunta: de onde veio o dinheiro, um milhão do apartamento mais as despesas de constituição da empresa, mais viagem, estadia...?
                E aí surge a boataria nas redes sociais e nos corredores, dando conta de que foi o pagamento para ele colocar os mensaleiros na cadeia.

P1 – Ainda vai dar pano pra manga.
FC – As associações de juízes, pelo menos umas três ou quatro já entraram com ações contra ele. Como ele é presidente do Supremo não está subordinado a essas entidades, não pode ser punido, mas vai passar por situações constrangedoras.

P1 – Mas a quem interessa os mensaleiros na cadeia?
FC – Aos tucanos, claro, ao PSDB, para tentar enfraquecer o PT, ter mote de campanha: partido de ladrões, metade do partido está na cadeia! Veja bem: o Lula ganhou o primeiro mandato com certa dificuldade; ganhou o segundo com facilidade; depois pegou a Dilma, uma ilustre desconhecida, nem militante era, nem filiada ao PT, era executiva de uma multinacional, e ganhou fácil. Agora só existe uma única possibilidade dela não levar mais fácil ainda que Lula, se abrir mão da própria candidatura, em favor do Lula. O PSDB não arruma mais nada, as pesquisas de opinião estão aí.

P1 – Você tem como justificar isso?
FC – Você tem três fatores: o governo FHC, os índices relativos e os índices absolutos.

P1 – Explica cada um deles, mas de maneira bem facinha (risos)
FC – Primeiro o governo FHC, que na verdade foi uma intervenção americana aqui, todo o receituário neoliberal aplicado aqui: privatizou tudo a preço de banana.
Só para você ter uma ideia: se você montar uma boa padaria, com equipamentos modernos, loja ampla, bem instalada, confortável... Você não recebe o dinheiro investido em menos de dois anos. O retorno é lento.  
A Vale do Rio Doce, uma das maiores mineradoras do planeta, praticamente concessionária de todo o minério brasileiro, se pagou em um ano e meio, mais rápido que uma padaria, quer dizer, foi doada.
                Se alguém me garantir, a mim ou a qualquer outra pessoa, que uma empresa vai se pagar em um ano e meio, eu ou essa pessoa nos endividamos e compramos, seja a Petrobrás, a Coca-Cola ou a Microsoft. Um ano e meio é praticamente retorno a vista. O normal seria a Vale se pagar em vinte ou trinta anos, se não mais.
                A França nos cobrou um bilhão de dólares, sem justificar de quê ou porque. Foi um escarcéu no Congresso, a oposição indignada, os órgãos classistas revoltados... Quando se descobriu FHC já tinha pagado.
                FHC conseguiu ser mais predador que os portugueses no Brasil Colônia. É um lesa pátria. É claro que não queremos mais isso, não permitiremos mais isso.
                E a corrupção, que o Lula não quis apurar, para não ser acusado de revanchismo, e que agora o Joaquim Barbosa mantém engavetado a todo custo. Nunca nesse país se roubou tanto quanto no governo tucano.
                Está saindo uma penca de livros com depoimentos de testemunhas, com a roubalheira toda documentada. Roubaram muito, cara. Em matéria de pilhar o Brasil, perto deles o império português foi fadinha bondosa.
                Vê se eles se defendem. Estão caladinhos, sem nenhum argumento, sperando para ver se a indignação passa.

P1 – Os índices, que você falou.
FC – Primeiro vamos comparar, ver os índices relativos: o salário mínimo no Brasil é uma merda, mais ou menos trezentos e cinquenta dólares, setecentos e cinquenta reais, mas no governo tucano era de sessenta e sete dólares. Se a Dilma estivesse pagando o mesmo salário mínimo tucano, hoje o salário mínimo seria de cento e cinquenta reais. Só no final do governo FHC é que chegou a cem dólares, o que hoje seria duzentos e poucos reais. Pior do que isso só o salário mínimo da ditadura, quarenta e cinco dólares, cem reais, e isso com uma inflação de oitenta por cento, anual. E ainda tem babaca pedindo o retorno da ditadura.
                Uma outra coisa é a taxa de juros brasileira, talvez a maior do mundo. A nossa taxa SELIC, que é o parâmetro do sistema financeiro, está em torno de dez por cento, altíssimo. Mas no governo FHC chegou a ser de sessenta por cento. Você comprava uma geladeira a prazo e pagava três, comprava um carro e pagava três.
                Isso em termos relativos. Em termos absolutos o negócio é mais gritante ainda.

P1 – Fala aí!
FC – O mundo todo está praticamente numa depressão, sem crescer, com alguns países até encolhendo, nós estamos com um crescimento continuado de um e meio por cento, entre os cinco maiores do mundo. No trimestre passado só fomos superados pela China.
                Aí você vai pra taxa de desemprego, que praticamente inexiste no Brasil. A nossa taxa de desemprego é quatro vezes menor que a de Portugal, cinco vezes menor que a da Espanha, a metade da norte americana, menor que a francesa, italiana... Você não ouve falar de desemprego no Brasil.
                A nossa inflação é uma das menores do mundo, menor que a da Rússia, França, Índia... No grupo chamado Brics, só a China nos supera.
                Nossas fábricas não estão a todo vapor porque o mercado externo está retraído, como afirmei. Mas não está havendo demissões nem férias coletivas, como era uma constância no governo de FHC.
                A mortalidade infantil ficou em cinquenta por cento, na média mundial, a nossa caiu setenta  sete por cento. Esse ano vamos bater novo recorde de colheita na safra de grãos.
                O mundo nos olha com inveja e respeito.

P1 – A que você atribui isso, professor?
FC – À mudança de modelo econômico. Lula ficará em nossa história como um marco, uma linha divisória.

P1 – Vai mais fundo.
FC – Tivemos sempre duas características de país colonizado: um mercado interno fraco e exportações concentradas para o império colonial, e Lula rompeu com isso.
                Durante a ditadura chegamos a ter oitenta por cento do nosso comércio exterior concentrado com os americanos, que determinava preço e quantidade. Com FHC, dois terços do nosso mercado exterior era com os Estados Unidos, e o que é que Lula fez?
                Enquanto FHC viajava com um monte de puxa sacos e intelectuais, para dar palestras e receber prêmios no exterior, o Lula virou camelô, marqueteiro, saiu viajando com empresários, fechando negócios no mundo todo.
                Duas críticas que se fazia ao Lula era a de viajar muito e levar muita gente. É verdade, viajou o mundo todo, e boa parte daqueles que estavam em volta dele eram pequenos empresários, com a viagem custeada pelo governo, para fechar negócios.
                Resultado: hoje menos de um terço do nosso comércio exterior é com os americanos. Hoje vendemos a quem nos paga mais e na quantidade que queremos. O empresariado brasileiro está crescendo, gerando empregos, pagando mais impostos. O país está crescendo.
                A segunda preocupação do Lula foi sair do modelo quase que estritamente exportador e fortalecer o mercado interno, com aumentos reais de salários, acima da inflação, e com redistribuição de renda, onde o bolsa família tem um papel fundamental.

P1 – Acho que o Bolsa Família é a coisa mais discutida e controversa nesse governo.
FC - A economia mundial hoje está fortemente subsidiada, os governos injetam dinheiro na economia, para aumentar a produção e baratear custos, de maneira a tornar os produtos mais baratos, mais competitivos no mercado. Isso acontece no mundo todo e o nome disso é protecionismo. Contraditoriamente o país mais protecionista do mundo é os Estados Unidos. Digo contraditoriamente porque pregam o livre mercado mas não praticam.
                E como a nossa economia era subsidiada? O sistema financeiro estatal emprestava com juros abaixo dos juros de mercado e o povo pagava a diferença, quer dizer, tirava-se dos pobres, da sociedade como um todo e se dava aos empresários. Emprestava-se a fundo perdido, quer dizer dava-se dinheiro às empresas, tirava-se do povo e dava-se aos empresários.
                O BNDES fazia isso, o Banco do Brasil fazia isso, o Banco Central fazia isso, ao socorrer bancos particulares...
                Lula abordou por outra ótica: ao invés de dar dinheiro, porque não ampliar mercado, fazendo com que produzam mais? E no plano exterior saiu mundo afora, conquistando clientes, fregueses, ao mesmo tempo que fortalecendo o mercado interno.
                Aqui o bolsa família é fundamental, na medida em que incorporou milhões de famílias no mercado consumidor. Se é uma questão de justiça social, de repartir com quem não tem, é uma genial tacada capitalista, fabricar fregueses, em substituição aos subsídios.
                Você tem municípios, principalmente no norte nordeste, onde oitenta por cento da economia gira em torno do bolsa família e das aposentadorias, porque não existe empregadores ou vagas de trabalho, já que o município é formado de latifúndios, que exige pouca mão de obra e mesmo assim sazonal, só durante as safras.
                É esse bolsa família que gera impostos que ilumina o município, coleta o lixo, paga os médicos e professores que de outra maneira não estariam lá.
                Esse discurso que o bolsa família é demagógico, eleitoreiro, que incentiva a vagabundagem... É de um primarismo de analfabetos. Se há o lado humano, é um investimento essencialmente dentro dos mecanismos capitalistas de subsidiar, só que de maneira masi honesta, mais democrática.
                É tão importante que FHC, o engenheiro construtor da Arca de Noé, o subcomandante de Pedro Álvares Cabral, o conselheiro de D. Pedro... Porque tudo de importante ele assume como iniciativa dele, já ousou afirmar que foi ele quem criou o bolsa família.
                E tem uns babacas mais babacas ainda que enxergam no bolsa família uma iniciativa comunista. Se há um país em que não há nenhum resquício de comunismo, nenhuma tendência, nenhuma possibilidade de comunismo esse país é os Estados Unidos. O governo norte americano dá quarenta e oito milhões de bolsas família, que lá tem outro nome, mensalmente. São os intelectuais formados pelos pastores e pela Rede Globo.

P1 – Mas muita gente fala que Lula e Dilma são comunistas.
FC – Isso é de um analfabetismo político ridículo. É o mesmo que dizer que evangélicos vão à missa ou católicos vão ao culto. O medíocre tem a palavra comunismo como sinônimo de ruim: o diabo é comunista (risos), pedófilos são comunistas... São ridículos.
 Volte em tudo o que falei até agora sobre Lula e Dilma, sobre os governos do PT: fortalecimento de mercado, subsídios... Isso é capitalismo. Leilão de poço de petróleo, leilão para a exploração das rodovias... Isso é capitalismo. Centrais sindicais, órgãos classistas... Economia rural apoiada nos latifúndios e, urbana, nas grandes corporações... Isso é capitalismo.
                Quem vê comunismo nisso pensa que Marx é marca de biscoitos ou um novo produto da Coca-cola. São muito babacas.

P1 – Você está ficando petista.
FC – (rindo muito) Não, e justamente por ser marxista. Estou fechado com o PT por causa do nacionalismo e da política de justiça social, mas sem perder de vista que, no plano teórico, a social democracia petista faz estrago maior no marxismo que o neoliberalismo do PSDB.
                Na década de setenta eu já dizia isso, que o maior freio na expansão do socialismo não era o capitalismo estrito, mas a social democracia, o capitalismo mascarado. Confirmou-se.

P1 – Uma pergunta direta: para onde o Brasil caminha, quais são as suas maiores dificuldades e o que conta a favor?
FC – É muito cedo para fazer uma afirmação taxativa de para onde vamos, as forças políticas internas estão muito divididas.
                A favor temos que a maioria gritante do povo dá aval para que o modelo continue a ser implantado. Quando a direita vai para as ruas, usa o judiciário, pede golpes militares, é porque sabe que no voto não leva mais. Todas as pesquisas de opinião mostram Lula e Dilma ganhando o que disputarem. Venha Aécio, Serra de novo ou o imortal, perderão. Aécio consegue estar atrás até da ex ministra do Meio Ambiente, patinando nos treze por cento das intenções de votos. Estão eleitoralmente mortos.
                A favor temos também uma tendência de fim de crise europeia, o que vem para fortalecer as nossas exportações, trazer divisas.
                Contra temos o conservadorismo brasileiro que pôs a igreja católica nas passeatas, em 64, e agora põe os protestantes.
O fundamentalismo religioso, altamente alienante, pregando a omissão e o conservadorismo, é o que mais dificultará. Compare o Pastor Marcos Feliciânus (risos) e Lula e você perceberá logo o que se esconde no conservadorismo fundamentalista.
                Feliciânus, essa semana incitou uma multidão de fanáticos a linchar duas adolescentes porque eram um casal lésbico. Bateram nas meninas. Em nome de Jesus, aleluia. Os narcotraficantes dos morros cariocas estão expulsando os terreiros de umbanda e candomblé, a pedido dos pastores, em nome de Jesus, aleluia. Hoje não sei quem tem as cabeças mais estreitas, se os funkeiros ou os fundamentalistas. E se julgam mais cristãos que o próprio Cristo.
                O chamado mercado gospel já movimenta muitos bilhões de dólares. Segundo as estatísticas, no Brasil abre-se um vírgula sete igrejas fundamentalistas por hora, uma média de quarenta igrejas fundamentalistas por dia, para vender graças, bênçãos, milagres e fanatismo cego e alienante. Analisa as postagens dos evangélicos na net, coisa de crianças esperando o papai noel. Não se sustenta no racional nem no emocional, só na lavagem cerebral.

P1 – Francisco Costa presidente da república hoje. Quais seriam as suas três principais preocupações?
FC – Hipótese absurda (risos), mais fácil eu virar pastor e abrir a minha lojinha evangélica na esquina (risos).

P1 – Sério, considere isso. Mais: do que está sendo feito, o que você manteria e o que interromperia.
FC – A minha preocupação primeira seria com as Forças Armadas. Acho que Lula negligenciou e agora a Dilma está fazendo a mesma coisa, e a história nos cobrará isso.
                Eu cuidaria de equipar melhor as nossas forças armadas, municiá-la e intensificar os treinamentos, inclusive com militares estudando e estagiando no exterior. Vamos precisar delas mais rápido do que pensamos.
                Não se trata de assumir uma posição belicista, não. É continuarmos com a nossa já histórica posição de pacifistas, mas com Forças Armadas poderosas, para dissuasão de quem namore as nossas riquezas, e uso, se necessário, porque somos o sonho de consumo de todas as potência, sempre fomos.
                Há um projeto de um novo modelo a nível global, independente de se acreditar em Iluminati ou outra organização qualquer, é um passo natural do capital, como Marx nos deixou bem claro, e mecanismo expansionista de todo império econômico: foi assim com os romanos, com os bárbaros, com os portugueses e espanhóis, com os ingleses e agora com os americanos: dominar o mundo.
                Por isso a intransigente defesa da Síria pela Rússia, como tentativa de interromper isso...

P1 – Ôpa! Brake! Fala mais disso.
FC – Acompanhe o meu raciocínio: os Estados Unidos detonaram o Iraque, o Afeganistão, a Líbia... Agora chegou a vez da Síria, depois será o Irã.
                Se isso lhes garante toda a fonte de petróleo do oriente médio, impede o expansionismo comercial da Rússia, que fica impedida de vender petróleo e gás para a Europa, debilitando-a economicamente.
                Indo ao mapa, você vai ver que esses países formam uma espécie de parede de contenção para aceso ao território russo e, para piorar, sem exportar para esses países, principalmente armas, a Rússia fica mais debilitada economicamente, altamente vulnerável, geográfica e economicamente.
                Os humanos são uma espécie tão insensata que os dois ramos de negócios que mais movimentam dinheiro no mercado não são comida e vestuário e muito menos saúde: são drogas e armas. O setor com maior movimentação de capital, a nível mundial, é o narcotráfico, seguido da produção e comércio de armas.
                Então: Iraque, Afeganistão, Líbia, Síria, Irã... Rússia.
                Por isso a voz grave de Putin: se atacar a Síria é o início da terceira guerra mundial. Muito de solidariedade ao povo sírio e de compromissos históricos honrados, mas muito mais de autodefesa.

P1 – Voltando ao Brasil...
FC – Terminada a conquista do oriente médio ou não, há o petróleo brasileiro, continental, da plataforma continental e de águas profundas, o chamado pré sal. Há jazidas de praticamente todos os minérios, há um mercado consumidor de mais de duzentos milhões de bocas, e, considerando-se que a água potável está cada vez mais escassa e será comoditye tão o mais valorizada que o petróleo, já em poucas décadas, temos a maior reserva de água potável do planeta.
                Temos a bacia Amazônica, a bacia do São Francisco, a Bacia do Prata. Não bastasse isso, a maior reserva de água subterrânea do planeta  é o aquífero Guarani, que abrange o Uruguai, Argentina, Paraguai, Bolívia e Brasil, sendo que mais de setenta por cento está no Brasil.
                O Rio Grande do Sul boia sobre água potável, mineral, cristalina, pura. É uma riqueza formidável, maior que todos os rebanhos e plantações de soja dos gaúchos.
                A título de vigiar o terrorismo na região de Foz do Iguaçu, os americanos já construíram uma base aérea no Paraguai, por acordo durante a ditadura militar de Strossener.
Que terrorismo na Foz do Iguaçu? Tem tantos terroristas lá quantos banhistas de maiô na Rua Augusta, em São Paulo. Examinando o mapa você vai ver que a base está estrategicamente sobre o aquífero.
                Somando-se toda essa água, dá mais que uma caixa d’água, com água potável, maior que o Mar Mediterrâneo. O que estamos fazendo para proteger e garantir isso, para nós bebermos e exportarmos?
                Aí vem o gás da Bolívia, o petróleo e o gás da Argentina, o cobre chileno, o petróleo do Golfo do México (Colômbia e Venezuela) e você descobre que a América do Sul é tão ou mais importante economicamente que o oriente médio, que só tem petróleo e areia.
                O furor bélico capitalista se abaterá sobre nós, com certeza, deixando a África por último, a espera do fortalecimento do seu mercado consumidor. É isso aí.

P1 – Voltando ao presidente Chico. Você equiparia as forças armadas, e politicamente?
FC – Permaneceria na mesma posição atual do país, de não atrelamento a ninguém, de independência e amizade, o que facilitaria uma aliança com a Rússia, para nos protegermos dos Estados Unidos, ou com os Estados Unidos, para nos protegermos da Rússia.
                A nível regional também ficaria na mesma posição atual, de estreitamento e intimização das relações com os países vizinhos, como forma de defesa. Os americanos tem a OTAN, que é um tratado militar mas que zela pelos interesses econômicos do império, os países europeus estão buscando a fusão, através da criação da União Europeia, e nós temos que seguir o mesmo caminho, buscar a unidade sul americana, de maneira a nos fazermos mais fortes, econômica e belicamente. Atacar um país sul americano é atacar todos, senão farão aqui como no oriente médio: pegam a Venezuela, depois a Colômbia... e vai indo até chegarem à Brasília.

P1 – Você não está sendo alarmista?
FC – Realista. A história da espécie humana é a história de suas guerras, das ascensões e quedas dos seus impérios. Só que a tecnologia acabou com as guerras regionais. Hoje um porta aviões tem um poder de fogo maior que o de um exército inteiro a cinquenta anos atrás. Nesse momento sobre nossas cabeças há milhares de mísseis em órbita, prontos para descerem.

P1 – Francisco, porque nós simples mortais, não temos essa carga de informações e nem essa visão do país? A que você credita isso?
FC – A que debito, porque é perda. O brasileiro não lê, não discute, não conversa sobre isso. O brasileiro tem uma única entidade que funciona como modelador ideológico: tevê Globo. Eu não sou telespectador, sou leitor.

P1 – Vou já já te fazer uma pergunta sobre a Globo, mas antes... Como você vê a relação dos Estados Unidos com a gente, daqui pra diante?
FC – Os portugueses nos colocaram rédeas. Os ingleses, por curto espaço  de tempo, nos colocaram cela, sem tirar as rédeas. Os americanos, a partir da segunda guerra, no colocaram rédeas, cela, cabresto, esporas e camisa de força. Nos tornamos quase que um estado a mais em anexo, como o Alasca e o Havaí.
                Hoje temos uma posição mais ou menos independente que os preocupa, e eles agora têm cinco opções, que vai depender da nossa conjuntura interna e da conjuntura internacional: primeiro: um golpe militar. Os militares são extremamente nacionalistas, só que, principalmente a partir da segunda guerra, por terem lutado junto com os americanos, e depois, por usarem armamento americano, usarem a literatura especializada de origem americana, fazerem manobras conjuntas... O atrelamento automático aos Estados Unidos faz parte dessa concepção de nacionalismo deles. Nossos militares são pró Estado Unidos até a alma, o que faz de um golpe militar o atrelamento automático. Segundo: a direita, seja por um golpe, ou pelos votos, voltar ao poder, através do PSDB, que é o aglutinador natural de toda a direita, impondo o neoliberalismo, que é tudo o que os Estados Unidos querem. Terceiro: usarem da chantagem, explorando as vacilações dos nossos governantes e fraquezas de nossas empresas, pela espionagem, que antes era física e agora é eletrônica, como foi denunciado na semana passada. Quarto: tolerar a nossa independência mas criando mecanismos para limitá-la, e, quinto: fazendo uma intervenção armada direta, como no oriente médio.

P1 – Agora sim, rede Globo.
FC – Rede Globo é papo para muitas horas.
                Quando a gente fala em Rede Globo imagina uma emissora de televisão, com os seus estúdios, o pessoal gravando, editando... Pondo notícias e entretenimento no ar, só que não é bem assim.
                A Rede Globo é na verdade um conglomerado de mais e cinquenta mega empresas atuando nos mais diversos setores da economia nacional e internacional, e que tem na Tevê Globo a porta voz dos seus interesses comerciais.

P1 – Cinquenta?
FC – Sim. Só canais de televisão, ela tem sete inteiramente dela, seis em sociedade e mais trinta e seis afiliadas. Oitenta por cento da programação dela é de produção própria, constituindo-se quase que num monopólio da cultua brasileira, na medida em que o povo não lê, não vai ao teatro nem ao cinema, só vê televisão.
                Só a Globo, que é a empresa principal, holding, tem trinta e seis mil funcionários.
                Possui uma das maiores editoras de livros do país, a maior editora de revistas.
                Possui três gravadoras e distribuidoras de cedês e devedês, pronta para inaugurar a quarta, essa, gospel, porque também já descobriu que no merchandising do capital Jesus dá lucro e muito lucro.
                É dona da Net. É dona de dezenas de emissoras de rádio AM e FM. Tem diversas produtoras e agências de publicidade... Isto na área de comunicação social.
                Passando-se para outras áreas, a Globo é dona de mineradoras, latifúndios imensos de gado e soja, na Amazônia, corretora de valores, fábrica de componentes eletrônicos, fábrica de bicicletas... Todas trabalhando com atividades complementares e influências recíprocas: se a Petrobrás anuncia a possibilidade de ter encontrado uma reserva com aparente potencial, a Globo noticia que já encontrou e é de alto potencial, as ações da Petrobrás disparam nas bolsas, as corretoras da Globo vendem, e dias depois os preços das ações caem.
                Na ditadura militar, fosse diretamente, contratando matadores, ou indiretamente, se servindo do exército, a Globo patrocinou matanças de índios e de gente humilde que ocupava as terras compradas ou a serem compradas por ela.
                O histórico da Globo é negro, mas o pior de tudo é a manipulação ideológica do povo brasileiro, instrumentalizando o país, para os seus lucros.
                Essa novela que está passando agora é de uma sordidez só.

P1 – Virou noveleiro? Fala aí.
FC – Não (risos). Essa novela está tão comentada, com tanto espaço desperdiçado na imprensa e em tudo que é lugar que fiquei curioso. Pedi a mãe do meu caçulinha para me contar e acabei ficando curioso, de duas semanas para cá estou assistindo.
                Quando a gente fala que a Globo manipula a gente se remete logo para os noticiários dela, principalmente para o Jornal Nacional, onde realmente há manipulação: omitem, acrescentam, trocam o enfoque, subestimam, superestimam, parcializam... O cacete. Mas acho que na dramaturgia é que fica a sacanagem maior, porque modela subliminarmente, como se fosse um psicólogo, sem que as pessoas se deem conta.
                Vamos pegar esse personagem, o Félix. O cara rouba o pai, quer tomar a empresa do pai, compra silicone industrial e usa como se médico, já matou, forjou um flagrante de narcotráfico para a irmã, que ao contrário dele é uma médica altamente ética (ele não é médico), que foi presa, depois internada por ele numa clínica psiquiátrica, para levar eletrochoques, levou a própria mãe na casa da amante do pai, para provocar uma separação entre os dois e ele ter o seu próprio poder aumentado na família... É um escroque, o lixo dos lixos. Só que entre todas essas características, há mais uma, ele é homossexual.
                Então, quando o povo criticá-lo dirá: ladrão, assassino, traidor do pai, estelionatário, viado. Com a opção sexual rotulada como crime ou pelo menos característica de mau caráter, em tradução do provincianismo, do conservadorismo da direita, da qual a Globo é porta voz.
                Ah! Mas tem o advogado da empresa, que também é homossexual e é educadíssimo, bom caráter, pra contrabalançar.
                Verdade. Bonito, muito educado, honestíssimo, mas... Quando foi abertamente criticado pelo patrão, por ser homossexual, não se defendeu. Quando o patrão pediu para que disfarçasse a condição de homossexual, na empresa, concordou e, para culminar: está se apaixonando pela personagem da Daniele Winits, vai trocar rola por perereca (risada geral).
                Novamente o preconceito, o conservadorismo... É cara tão perfeito que se curva ao patrão e vai até deixar de ser viado.
                Está modelado o homem ideal para o capitalismo: disciplinado, subserviente ao patrão, heterossexual, chefe de família... Um personagem desconstrói a rebeldia, o outro constrói a alienação, a despersonalização.
                Não fosse a Globo seria a igreja, o testemunho: conheci Jesus e troquei rola por perereca. (risos)
                Submetendo o homem à autoridade, confundindo autoridade moral com autoridade institucional, as igrejas fazem o mesmo que a Globo.

P1 – Chico, mais uma vez show de bola, aula, como sempre. Posso falar pros nossos ouvintes da sua conversa com  direção?
FC – Pode, mas ainda não está certo.

P1 – Acho que o Chico vai fazer parte da nossa programação. Toda terça feira. Fica o doutor Paulo na quinta e o Chico na terça.
FC – Muito bom isso. O Doutor Paulo falando de assuntos médicos, orientando aí à galera de casa, de um jeito bem popular, que é para todo mundo entender, e eu na terça. Está praticamente certo. Só peg a distância. Eu moro em Guaratiba e vir até aqui é dirigir um pedaço, mas devo fechar com a emissora. Um abração a quem de abração e um beijão a quem de beijão. Terça a gente se fala. Fui!

P1 – Pra continuar esse papo da Globo, que só começou.

FC – Tudo bem!