sábado, 31 de agosto de 2013

SÍRIA: O OCIDENTE RECUOU

Parece que de imediato está afastada a possibilidade de ataque à Síria, e muitos fatores contribuiram pra isso, entre os quais enumero:
1)      A opinião interna americana – além de estar cansada de enterrar filhos seus, mortos para defender corporações, empresas, há uma certa fobia norte americana em relação aos islamitas. Que sentido faz os EEUU derrubarem o presidente do único país árabe laico, com Constituição, ao invés de Alcorão, para colocar um islamita?
2)      A política interna da Síria – Assad, o presidente da Síria, goza da simpatia e da confiança da maior parte do povo, tanto que, segundo observadores internacionais, se houvesse eleições limpas hoje, ele seria reeleito com larga margem de votos, e não é por outro motivo que está acabando com os mercenários pagos pelos EEUU e Arábia Saudita;
3)      O poder militar da Síria – em virtude da longa amizade entre a Síria e a Rússia, pelo grau de confiabilidade, e a necessidade de proteção a si mesma, a Rússia armou o governo sírio até os dentes, e os americanos sabem que lá não encontrariam a molezinha que encontraram no Iraque, isolado, por conta das diatribes de Sadhan. Estão se preparando para reagir mesmo, e numa intensidade que os americanos só encontraram no Vietnan;
4)      A vulnerabilidade de Israel – embora os EEUU tenham feito com Israel o mesmo que os russos fizeram com os sírios, armando-o até os dentes, é histórica a inimizade de todos os islamitas aos judeus, e há pouco de fundamento religioso nisso: Israel multiplicou por seis o tamanho do próprio território, por anexação de terras dos países vizinhos; tem as forças armadas mais truculentas do mundo, fazendo dos policiais brasileiros, inocentes escoteiros, diante deles; fecha mananciais de água que abastecem os países vizinhos, deixando crianças e velhos com sede... Rigorosamente todos os países árabes têm mísseis, canhões e foguetes apontados para Israel. Seja para aproveitar a oportunidade, seja para vingar-se indiretamente dos EEUU, num conflito generalizado, certamente os árabes tentariam destruir Israel;
5)      O Irã – sabe que, depois do Iraque e do Afeganistão, tomada a Síria, seria ele a bola da vez. Aliar-se à Síria, para o Irã é questão vital para a própria sobrevivência. O grande risco do envolvimento do Irã, para o ocidente, é que além de ter um dos maiores exércitos do mundo, em número de combatentes (se parte do armamento que se encontra espalhado pelo mundo árabe se concentrar nas mãos iranianas, o Irã se torna invencível em guerras de curto e médio prazos), sessenta por cento do petróleo que vem do oriente médio para o ocidente passa no litoral do Irã. Uma guerra prolongada e generalizada poderia provocar escassez de combustível e matéria prima para a indústria petroquímica no ocidente, provocando estragos enormes na economia;
6)      Além disso, uma guerra generalizada traria o inconveniente da destruição de muitos poços de exploração e muitas refinarias de petróleo, principalmente na Arábia Saudita e no Qatar, alvos preferenciais, hoje, no mundo árabe, porque financiadores do terrorismo pró ocidente;
7)      Por  fim a Rússia, a velha Rússia, que quando afirmou que qualquer ataque à Síria seria o início da terceira guerra mundial não blefou. E por que essa posição radical? Aqui merece um detalhamentozinho:
a)      O território sírio é vital para as pretensões russas de vender gás para a Europa Ocidental, já que os dutos têm que obrigatoriamente passar pela Síria. Perdido o território sírio, fim das pretensões russas, o que significa a perda de trilhões de dólares no longo prazo;
b)      Há uma amizade histórica entre russos e sírios, baseada na confiabilidade e na sinceridade. Um abandono, agora, seria uma traição, vista assim pelos dois lados;
c)       Lentamente os EEUU estão derrubando os aliados russos: Líbia, Iraque, Afeganistão... Restam a Síria e o Irã, tanto como blindagem do território russo, como de mercados complementares e alianças militares. A Rússia não tem a menor dúvida de que, no momento em que estiver só, a OTAN a atacará. Manter a Síria e o Irã independentes do ocidente é vital para os russos.
Aqui o interesse do meu possível leitor em perguntar: porque o ocidente atacaria a Rússia?
Por vários motivos, históricos, econômicos e geográficos:
1)      Como a Europa foi o eixo inicial da civilização, o mapa mundi (planisfério) representa o planeta tendo a Europa como centro, mas não se esqueça de que a Terra á redonda. Fechando-se o planisfério... A Rússia é vizinha dos Estados Unidos, só um estreito os separam (o Alasca é território americano). Não é nem um pouco conveniente ter um vizinho poderoso e rival, de interesses econômicos paralelos;
2)      Os fatos históricos, na Rússia, acontecem de maneira rápida e radical, deixando a sociedade russa politicamente instável. Contrariando as previsões de Marx, a Rússia saltou direto do feudalismo para o socialismo, sem queimar a etapa capitalista (o que justifica os muitos desvios e deturpações teóricas e práticas do marxismo, lá), e o capitalismo, da mesma maneira, apareceu de maneira abrupta, não planejada, em período muito curto de tempo, sem transições, ao contrário do que vem acontecendo na China, o que dá a Rússia uma instabilidade social muito grande, com grande risco de retornar ao socialismo (em outros moldes, claro. A história não se repete), filme que os americanos já viram e não gostaram;
3)      Num primeiro momento, os russos, principalmente os jovens, acharam ótimo trocar o almoço e a janta pelos fast foods, pelos hambúrgueres da vida, mas já estão se dando conta de que nem todos tem dinheiro para fast foods... E nem para almoço e janta mais. Começam a aparecer as primeiras favelas e guetos, na mesma velocidade em que aparecem os arranha céus de empresas particulares, e se dão conta que na conta o dinheiro está se concentrando só de um lado, e a insatisfação está crescendo, com  a consciência cada vez maior de que fizeram merda. Como o socialismo privilegiou muito a educação, lá não há espaço para Faustões, Jornais Nacionais, Reality shows e pastores midiáticos como vaselinas no estupro da sociedade.
Acredito que essa análise, ainda que superficial, nos dá uma ideia do porque os cachorrinhos ocidentais voltarem para os seus canis.

Francisco Costa

Rio, 31/08/2013.

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