Parece que
de imediato está afastada a possibilidade de ataque à Síria, e muitos fatores
contribuiram pra isso, entre os quais enumero:
1)
A opinião interna americana – além de estar
cansada de enterrar filhos seus, mortos para defender corporações, empresas, há
uma certa fobia norte americana em relação aos islamitas. Que sentido faz os
EEUU derrubarem o presidente do único país árabe laico, com Constituição, ao
invés de Alcorão, para colocar um islamita?
2)
A política interna da Síria – Assad, o
presidente da Síria, goza da simpatia e da confiança da maior parte do povo,
tanto que, segundo observadores internacionais, se houvesse eleições limpas
hoje, ele seria reeleito com larga margem de votos, e não é por outro motivo
que está acabando com os mercenários pagos pelos EEUU e Arábia Saudita;
3)
O poder militar da Síria – em virtude da longa
amizade entre a Síria e a Rússia, pelo grau de confiabilidade, e a necessidade
de proteção a si mesma, a Rússia armou o governo sírio até os dentes, e os
americanos sabem que lá não encontrariam a molezinha que encontraram no Iraque,
isolado, por conta das diatribes de Sadhan. Estão se preparando para reagir
mesmo, e numa intensidade que os americanos só encontraram no Vietnan;
4)
A vulnerabilidade de Israel – embora os EEUU
tenham feito com Israel o mesmo que os russos fizeram com os sírios, armando-o
até os dentes, é histórica a inimizade de todos os islamitas aos judeus, e há pouco
de fundamento religioso nisso: Israel multiplicou por seis o tamanho do próprio
território, por anexação de terras dos países vizinhos; tem as forças armadas
mais truculentas do mundo, fazendo dos policiais brasileiros, inocentes escoteiros,
diante deles; fecha mananciais de água que abastecem os países vizinhos,
deixando crianças e velhos com sede... Rigorosamente todos os países árabes têm
mísseis, canhões e foguetes apontados para Israel. Seja para aproveitar a
oportunidade, seja para vingar-se indiretamente dos EEUU, num conflito
generalizado, certamente os árabes tentariam destruir Israel;
5)
O Irã – sabe que, depois do Iraque e do
Afeganistão, tomada a Síria, seria ele a bola da vez. Aliar-se à Síria, para o
Irã é questão vital para a própria sobrevivência. O grande risco do
envolvimento do Irã, para o ocidente, é que além de ter um dos maiores
exércitos do mundo, em número de combatentes (se parte do armamento que se
encontra espalhado pelo mundo árabe se concentrar nas mãos iranianas, o Irã se
torna invencível em guerras de curto e médio prazos), sessenta por cento do
petróleo que vem do oriente médio para o ocidente passa no litoral do Irã. Uma
guerra prolongada e generalizada poderia provocar escassez de combustível e
matéria prima para a indústria petroquímica no ocidente, provocando estragos
enormes na economia;
6)
Além disso, uma guerra generalizada traria o
inconveniente da destruição de muitos poços de exploração e muitas refinarias
de petróleo, principalmente na Arábia Saudita e no Qatar, alvos preferenciais,
hoje, no mundo árabe, porque financiadores do terrorismo pró ocidente;
7)
Por fim a
Rússia, a velha Rússia, que quando afirmou que qualquer ataque à Síria seria o
início da terceira guerra mundial não blefou. E por que essa posição radical?
Aqui merece um detalhamentozinho:
a)
O território sírio é vital para as pretensões
russas de vender gás para a Europa Ocidental, já que os dutos têm que
obrigatoriamente passar pela Síria. Perdido o território sírio, fim das pretensões
russas, o que significa a perda de trilhões de dólares no longo prazo;
b)
Há uma amizade histórica entre russos e sírios,
baseada na confiabilidade e na sinceridade. Um abandono, agora, seria uma
traição, vista assim pelos dois lados;
c)
Lentamente os EEUU estão derrubando os aliados
russos: Líbia, Iraque, Afeganistão... Restam a Síria e o Irã, tanto como
blindagem do território russo, como de mercados complementares e alianças
militares. A Rússia não tem a menor dúvida de que, no momento em que estiver
só, a OTAN a atacará. Manter a Síria e o Irã independentes do ocidente é vital
para os russos.
Aqui o
interesse do meu possível leitor em perguntar: porque o ocidente atacaria a
Rússia?
Por vários
motivos, históricos, econômicos e geográficos:
1)
Como a Europa foi o eixo inicial da civilização,
o mapa mundi (planisfério) representa o planeta tendo a Europa como centro, mas
não se esqueça de que a Terra á redonda. Fechando-se o planisfério... A Rússia
é vizinha dos Estados Unidos, só um estreito os separam (o Alasca é território
americano). Não é nem um pouco conveniente ter um vizinho poderoso e rival, de
interesses econômicos paralelos;
2)
Os fatos históricos, na Rússia, acontecem de
maneira rápida e radical, deixando a sociedade russa politicamente instável. Contrariando
as previsões de Marx, a Rússia saltou direto do feudalismo para o socialismo,
sem queimar a etapa capitalista (o que justifica os muitos desvios e deturpações
teóricas e práticas do marxismo, lá), e o capitalismo, da mesma maneira, apareceu
de maneira abrupta, não planejada, em período muito curto de tempo, sem
transições, ao contrário do que vem acontecendo na China, o que dá a Rússia uma
instabilidade social muito grande, com grande risco de retornar ao socialismo
(em outros moldes, claro. A história não se repete), filme que os americanos já
viram e não gostaram;
3)
Num primeiro momento, os russos, principalmente
os jovens, acharam ótimo trocar o almoço e a janta pelos fast foods, pelos
hambúrgueres da vida, mas já estão se dando conta de que nem todos tem dinheiro
para fast foods... E nem para almoço e janta mais. Começam a aparecer as
primeiras favelas e guetos, na mesma velocidade em que aparecem os arranha céus
de empresas particulares, e se dão conta que na conta o dinheiro está se
concentrando só de um lado, e a insatisfação está crescendo, com a consciência cada vez maior de que fizeram
merda. Como o socialismo privilegiou muito a educação, lá não há espaço para
Faustões, Jornais Nacionais, Reality shows e pastores midiáticos como vaselinas
no estupro da sociedade.
Acredito que
essa análise, ainda que superficial, nos dá uma ideia do porque os cachorrinhos
ocidentais voltarem para os seus canis.
Francisco
Costa
Rio,
31/08/2013.
Nenhum comentário:
Postar um comentário