terça-feira, 27 de agosto de 2013

DEVANEIOS CRÍTICOS EM CHUVOSA MANHÃ DE TERÇA FEIRA

desaconselhável a quem não gosta de ler e proibido a quem não gosta de pensar )

1 – PREÂMBULO
                         Um posicionamento político partidário prévio faz-se necessário, para que o que penso não seja lançado à conta de defensor desta ou daquela posição partidária, como defesa deste ou daquele partido.
                         Não sou petista, nunca fui petista, e não me sinto representado por nenhum dos partidos que compõe a base de governo, em coligações e alianças com o PT, o que me deixa muito a vontade para me posicionar.

2 – UM SÓ MODELO
                         Após a queda do Muro de Berlin e a fragmentação da União Soviética, com a adoção do sistema capitalista, não só pela Rússia, mas por todos os países do Leste Europeu, o mundo passou a ter modelo único de sistema econômico, o capitalismo.
                         Hegemônico, totalitário, esse sistema eliminou possíveis dissidências ou possibilidades de modelos alternativos, agindo economicamente, através dos seus próprios mecanismos: embargos, sobretaxações e boicotes, ou pela força das armas.

3 – CUBA E CORÉIA
                         Pela inexpressividade bélica, econômica e populacional, nenhum desses dois países pode e deve ser citado como modelo ou aliado em potencial, numa revolução, uma vez que mostram anomalias econômicas, por inadaptação ao mercado internacional e impossibilidade de sobrevivência sem a ajuda externa.
                         Cuba cometeu o erro da monocultura (canavieira) e da centralização de exportações para mercado único, no caso, o russo, perdendo a oportunidade de industrialização e diversificação de mercados.
                         Para agravar, um cruel, covarde e desumano boicote econômico, liderado pelos EEUU, acatado e posto em prática também pelos países da União Europeia, em verdadeira tentativa de genocídio, impediu qualquer alternativa aos cubanos, já que a Rússia, em dificuldades econômicas, reduziu em muito a ajuda a esse povo.
                         A Coréia do Norte é hoje uma cruel e desumana ditadura de esquerda, com um poder dinástico, passando de pai para filho, sem condições sequer de alimentar o seu povo.

4 – CHINA
                         A esperança de alternativa, para os que ideologicamente convergem para a esquerda, mostra-se cada vez mais próxima do capitalismo, que só não acontece mais aceleradamente por causa do conservadorismo do campesinato.
                         Mas na medida em que continuar aumentando a urbanização, exigência do próprio modelo capitalista, de concentrar a produção e o consumo, e a mecanização do campo, o Partido Comunista Chinês não terá mais como segurar a pressão.
                         A China é hoje um modelo híbrido, politicamente centralizado, mas economicamente cada vez mais liberalizado.

5 – ISLÃ
                         Difícil uma análise crítica dos povos do Oriente Médio, já que rejeitam Smith e Marx, buscando um modelo alternativo, apoiado em textos religiosos.
                         Não há sequer como discutir a viabilidade disso, uma vez que a vigilância e a repressão capitalista, via forças armadas dos EEUU e de seu satélite, Israel, frustram, pela força bruta, qualquer tentativa nesse sentido.

6 – O CAPITALISMO ATUAL
                         Hegemônico, totalitário, avassalador, com pequenas variantes de modelos de produção e distribuição, podemos afirmar que todo o planeta, hoje, adotou e está subjugado a esse sistema de produção e consumo, capitaneado pelos Estados Unidos, potência imperial,
quer pelo poder econômico, quer por suas consequências culturais (do modelo econômico): política, filosofia, arte e religião.

7 – BRASIL
                         País de hábitos extremamente conservadores, primeiro por causa da enorme influência do catolicismo, herança portuguesa, e agora pelo protestantismo, influência anglo-saxônica, onde incluo os Estados Unidos, por causa da sua colonização, ainda mais conservador, o Brasil começou a se mostrar optante por um modelo em meados da primeira metade do século anterior, com Getúlio Vargas, que buscou a economia de mercado, com industrialização e um Estado forte, mais que regulador, proprietário.
                         Com o suicídio de Vargas, abriu-se um vazio de poder imenso, o que não é de se estranhar, uma vez que a característica dos povos conservadores é o apoio incontinente a Messias e Salvadores da Pátria.
                         Veio uma década de prosperidade econômica e arejamento de ideias, com o governo Juscelino, quase que antecipando historicamente a posição social democrata, com crescente tendência de opção pela via socialista, não só do Brasil como de toda a América Latina, no dizer dos americanos do norte, quintal dos Estados Unidos.
                         Veio o golpe.

8 – A DITADURA MILITAR
                         Antes de comentar o aspecto econômico, é preciso desmistificar o conceito de revolução, aplicado não só no Brasil como em todos os países da América Latina.
                         Revoluções são movimentos de mudança do modelo social e econômico.
                         Quando a Rússia mudou o regime de feudal semicapitalista para socialista, fez uma revolução. Quando Cuba mudou o modelo de incipiente capitalismo de colônia pelo socialismo, fez uma revolução. Quando os povos do Oriente Médio tentam fugir do capitalismo e do colonialismo para implantar Repúblicas Teocráticas (Islâmicas) estão tentando revoluções.
                         No Brasil, como de resto em toda a A. L., havia revoluções em curso, pelo menos no âmbito político e econômico, e os movimentos militares vieram para sufocar, impedindo essas revoluções, o que os caracteriza como contra revolucionários, antirrevolucionários, para a manutenção do antigo, conservadores, portanto.
                         O que houve foi golpe de estado, com oficiais superiores treinados e financiados pelos Estados Unidos, lá, traindo o Presidente da República, seu comandante em chefe, para atendimento dos reclamos e interesses dos Estados Unidos (são abundantes os documentos, da época, mostrando isso, não é opinião minha, tanto que a frota norte-americana estava fundeada nas imediações da Baia de Guanabara, para intervir, caso o povo brasileiro reagisse. É preciso resgatar a verdade, nossos heróis são de papel).
                         Consolidado o Golpe Militar, nos atrelamos imediatamente à Matriz, e são abundantes as citações de políticos civis e militares, da época, nesse sentido: “o que é bom para os Estados Unidos é bom para o Brasil”, por exemplo.
                         A economia caracterizou-se por forte crescimento agrícola, com a implantação de culturas complementares às dos Estados Unidos e dos países da Europa (ainda não havia a União Europeia), aproveitando o nosso clima, tropical, e a oposição de estações do ano, o que evita escassez de entressafras, pelo comércio internacional.
                         Começou aí a transformação do país em grande latifúndio produtor de cana, para alimentar automóveis, e soja, para alimentar suínos e galinhas, na América do Norte e na Europa.
                         A industrialização perdeu o ritmo, já que nos apoiamos no consumo do supérfluo produzido lá, restando-nos o papel de fornecedores de mão de obra barata e capital (nos endividamos até a medula com os organismos internacionais, pagando os maiores juros do planeta, a ponto de haver uma excrescência chamada “over night”, uma operação que pagava juros bancários por hora. O gringo vinha aqui, depositava o dinheiro às sete horas da noite e, no dia seguinte, às sete horas da manhã, sacava as doze horas de juros).
                        
9 – O FIM DA DITADURA
                         Percebendo já uma crescente liberalização econômica e social no mundo, a começar pela Europa, com o fim do Franquismo e do Salazarismo, por exemplo, e o início da fragmentação do Império Russo, os Estados Unidos tiveram que se adequar, e a manutenção de tiranias, como estavam postas em toda a América Latina, em praticamente toda a África e parte da Ásia, perderam o apoio político, econômico e militar norte americanos, e o generais, sem alternativas, tornaram-se “democratas”, abrindo mão do poder.

10 – GOVERNO SARNEY
                         Com o fim da ditadura militar, apareceu Tancredo Neves que, embora muito conservador, político do interior, ligado aos latifúndios, extremamente católico, por ter tido ligações com Getúlio Vargas e João Goulart (foi ministro nos dois governos), se não era uma alternativa de esquerda, o era como a volta do patriotismo, da emancipação à dependência aos “irmãos do norte”, como os militares se referiam aos norte-americanos.
                         Morto Tancredo, assumiu Sarney, que fora presidente do partido de sustentação política dos militares, criado artificialmente, a ARENA, e governador biônico do Maranhão (colocado no cargo por nomeação, sem eleições), acontecendo o que não poderia ser diferente: um generalzão paisano na presidência, embora tenha suportado forte oposição, democraticamente, sem recorrer à repressão.
                         Sem o apoio e a orientação dos Estados Unidos, veio o caos: filas para tudo, inflação estratosférica, falta de gêneros, tabelamentos, racionamentos, planos econômicos bombásticos, um atrás do outro, infrutíferos... Só mostrando que sem a administração norte-americana aquele modelo não andaria.

11 – FIM DO MODELO
                         Esgotado o modelo ditatorial militar de atrelamento cego à matriz, e sem alternativas à esquerda, só restou o capitalismo, dividido em duas vertentes:
1)      Social democracia – busca um estado forte, centralizador, com participação direta nos meios de produção e enfoque principal na justiça social, através de cotas em escolas, distribuição de alimentos, redistribuição de renda e terra e fortalecimento do mercado interno, sem perder de vista que o fim é a produção de capital, o capitalismo;
2)      Neoliberalismo – busca o chamado estado mínimo, deixando para a iniciativa privada toda a produção, inclusive de serviços, como saúde e educação, entendendo que o próprio mercado produz as suas leis e as regulariza, de acordo com as próprias necessidades. A assistência estatal é substituída pela competição de mercado, em tese, propiciador de chances iguais para todos. É o capitalismo radical, levado às últimas consequências.

12 – GOVERNO COLLOR
                         Livre do engessamento econômico imposto pelos militares e continuado por um militar sem farda (Sarney), as forças conservadoras, capitaneadas pela maior rede de televisão do país “fabricaram” um messias salvador da pátria, para implantar o neoliberalismo da forma mais radical, e alçaram Collor do anonimato, fazendo-o presidente da república.
                         Inexperiente e deslumbrado com o poder, o moço cometeu um erro primário: mexeu no sagrado dinheirinho da classe dominante.
                         Acreditando que o fim da inflação viria com a redução drástica do meio circulante (grana girando no mercado), promoveu o que ficou conhecido como “confisco da poupança”, e começou a cair logo no primeiro dia de governo.
                         As próprias forças que o criaram, a começar pela Globo, o destronaram.
                         Convém salientar que as acusações que pesaram sobre ele, em periculosidade e volume de dinheiro, é coisa de aprendiz de batedor de carteiras, diante do que veio depois, com a institucionalização da roubalheira em todo o espectro político, a começar pelas privatizações de FHC, cuja grana sumiu.

13 – GOVERNO ITAMAR FRANCO
                         Intervalo neoliberal, com tentativa de nos definirmos pelo modelo social democrata.
                         Criou o Plano Real, de Rúben Ricúpero, atribuindo-o a Fernando Henrique Cardoso, na esperança de que, eleito, continuasse com o modelo social democrata.

13 – GOVERNO FERNANDO HENRIQUE CARDOSO
                         Esperança de social democracia, pelo discurso de campanha, por ser continuidade de Itamar (seria. Depois o próprio Itamar o desqualificou, chamando-o de traidor) e principalmente por causa da nomenclatura da sua sigla partidária.
                         Mostrou-se um neoliberal radical, privatizando todo o meio produtivo estatal, a preço vil, no mercado internacional, encerrando pesquisas nas universidades e empresas brasileiras subsidiadas, abrindo mão da formação de tecnologia nacional, terceirizando ou entregando à iniciativa privada a saúde e a educação, transferindo orçamento contingenciado das ações sociais para o meio financeiro.
                         Em seu governo registraram-se os maiores juros reais da história e um dos menores valores do salário mínimo, em dólares.
                         A produção brasileira, ao invés de ser controlada, passou a ser fiscalizada a distância (?), pela criação de agências reguladoras.

14 – GOVERNO LULA
                         Caracterizou-se como um governo tipicamente social democrata: deu aumentos reais no salário mínimo (100 dólares, na sua posse, 350 dólares, hoje), acelerou a reforma agrária (não no ritmo e da forma esperados), distribuiu bolsas alimentação, criou cotas para negros, índios e alunos oriundos de escolas públicas nas universidades, criou mecanismos de financiamento para estudantes e subsidiou a construção civil, com projetos de construções populares, fortaleceu o mercado interno, diversificou o mercado externo, mas sem, em nenhum momento, perder de vista o capital, o que o descaracteriza completamente como socialista.

15 – GOVERNO DILMA
                         Continuação do governo Lula, segundo os mesmos princípios e iniciativas.

16 – ALTERNATIVAS HOJE
                         De imediato devem ser afastadas quaisquer possibilidades de saídas extremas, seja à esquerda ou à direita.
                         Não há favorecimento nas conjunturas interna e externa.
                         Vejamos:
a)      Para uma saída pela extrema esquerda – em termos internacionais não há um único país capaz de se alinhar com o Brasil, para troca de experiências táticas e estratégicas, e alianças econômicas, além do capitalismo ser hegemônico, capaz de impedir qualquer movimento nesse sentido, seja valendo-se da diplomacia e da chantagem econômica, como das armas. Em termos internos, não temos uma esquerda forte, organizada, com direção centralizada, mas toda pulverizada em diversos partidos pequenos, todos lentamente assimilando a social democracia;
b)      Para uma saída pela extrema direita – em termos internacionais todas as tentativas nesse sentido foram fracassadas porque não contaram com o apoio das grandes potências. Pelo contrário, tiveram forte oposição.
         E porque isso? As ditaduras militares tendem a ser centralizadoras, administrando com mãos de ferro, o que é incompatível com o neoliberalismo e a social democracia, que exigem governos desorganizados e politicamente fracos, para a independência do capital, para que ele siga a sua própria lógica.
         Repare que nesses sistemas, como é impossível um planejamento de médio e longo prazos, porque quem vai determinar a realidade não serão as forças produtivas, mas o sistema financeiro, os governos transformam-se em gerenciadores de crises.
         Por incompatíveis, bem estar social, democracia plena e realização completa do capital, os governos se vêm no papel de mediadores de conflitos, ora em benefício do capital, ora do trabalho e dos trabalhadores.

17 – OS DISCURSOS DOS DOIDOS
a)      PSDB e FHC são fascistas – não, não são. Não se tem, quer de maneira oficial, nos estatutos do partido, ou oficiosa, através de pronunciamentos dos seus próceres, nada que aponte para isso. Apesar do termo Social Democracia na sigla do partido, pelos dois mandatos presidenciais de um dos seus  fundadores(FHC) e, ainda hoje, a figura mais influente entre os tucanos (o símbolo do partido é um tucano), das iniciativas administrativas tomadas por governadores e prefeitos desse partido, e dos discursos parlamentares tucanos, o partido é neoliberal, com todas as características intrínsecas às intenções e atos do neoliberalismo;
b)      PT e Lula são comunistas – não, não são. E aqui a acusação é risível, tamanha a falta de fundamentação. Para quem tenha, seja por simpatia ou militância, ou por dever de ofício (universitários das áreas de Ciências Sociais, por exemplo), conhecimento do que são a filosofia e a economia marxistas, a associação do PT e Lula ao marxismo é como a associação de protestantes e adoração de imagens, incompatíveis e inconcebíveis.
         É comunista, ou pelo menos tem a pretensão de ser, um governo que:
b.1)  libera de tributação o sistema financeiro (bancos e congêneres) brasileiro, o de maior rentabilidade e lucros, no planeta?
b.2) promove uma reforma agrária lenta e só a partir de terras da União ou, quando a partir de fazendas invadidas pelo MST, por improdutivas, pagando indenização  no valor de mercado, como se fossem produtivas? (quando são produtivas a justiça as devolvem aos donos, não raro usando a força policial)
b.3) que permite assassinatos em série de lideranças campesinas e índios, promovidas por latifundiários, sem tomar nenhuma iniciativa para coibir?
b.4) que “planta” hidrelétricas, a custa do extermínio de milhares de espécies animais e vegetais, e da cultura de povos milenares (índios)?
b.5) que tem nos Estados Unidos, e pelos Estados Unidos, um parceiro estratégico e alinhado?
b.6) que tendo os seus produtos e serviços boicotados no mercado internacional, via sobretaxação ou por concessão de subsídios às produções locais, não realiza nenhuma retaliação, seja no mercado interno ou externo?
b.7) que não realiza quaisquer perseguições ou pelo menos críticas a religiões, inclusive tendo dezenas de lideranças religiosas não só em alianças e coligações, como em seus próprios quadros?
         Mas olhemos por outro lado, agora de fora para dentro:
b.8) se houvesse qualquer indício de dissidência do capitalismo, no PT, Barak Obama seria tão amistoso com o governo brasileiro? Ou daria o tratamento dado a Chávez e, agora, a Evo Morales?
b.9) considerando a importância econômica do Brasil (6ª potência econômica do planeta. Quando FHC entregou a Lula, era a 16ª) e o terceiro produtor mundial de alimentos, portanto de alta estratégia para o capitalismo internacional, se estivéssemos tomando rumos à esquerda, os Estados Unidos e a União Europeia estariam tão amistosos conosco?
         O PT é, hoje, resultado da prevalência de uma força política interna (do PT), a Articulação, à qual Lula sempre pertenceu, desde a sua origem, no sindicalismo de resultados (portanto não revolucionário, mas social democrata), e que expurgou todos os socialistas e comunistas do partido, que criaram outros partidos (o PSTU, por exemplo).
         Quem chama Lula e o PT de comunistas age de absoluta má fé, acreditando que o povo é idiota, ou é absolutamente burro, palrando o que ouviu, sem saber o que nem porque.
         O marxismo é uma doutrina fechada, que abrange economia e filosofia, dialeticamente, de alta complexidade teórica, e não se aprende em postagens na net nem em passeatas.
         Comunismo, no Brasil, virou sinônimo de não gosto: pedófilo é comunista; o religioso de denominação diferente da nossa é comunista; dar cestas básicas  é coisa de comunista (Barak Obama que o diga, já que ele - governo dos Estados Unidos, dá 48 milhões de cestas básicas, mensalmente, aos miseráveis do paraíso do capital); ser contra quebra da ordem democrática, com imposição da força das armas é ser comunista; ser contra a continuidade de mortes de miseráveis nos rincões do país, porque as faculdades de medicina têm mensalidades de 5 a 10 salários mínimos, só ao alcance dos filhos da classe dominante, que, formados, não querem ir para o interior, e a favor de se importar médicos é coisa de comunista... 
         E são os comunistas que usam os não esclarecidos, eufemismo para desinformados.
18 – PORQUE ESSA SITUAÇÃO DE TIROTEIO NO ESCURO? – Anote esses nomes: Gilberto Freire, Anísio Teixeira, Darcy Ribeiro, Oscar Niemayer, Burle Marx, Glauber Rocha, Vinícius de Moraes... (e eu poderia citar 500 nomes outros, de mesmo quilate). Eram esses homens que conduziam a política da educação, da arte e da cultura brasileiras, e veio o golpe militar.
                         Foram todos presos, banidos, exilados, expulsos do território brasileiro, substituídos por sargentos graduados em stands de tiros e ordens unidas.
                         Hoje o mundo CAPITALISTA usa os métodos criados por eles, os conceitos deles, para se desenvolverem. Nós, não. Eram comunistas.
                         A consequência? Segundo a UNESCO, a penúltima educação do mundo, em qualidade, consequência da imposição das armas sobre o intelecto, 50 anos depois.
                         O que nos deixou a ditadura? SBT, Globo, Sílvio Santos, José Sarney, Paulo Maluf... Em substituição aos intelectuais cassados e banidos.
                         O pedido de repeteco de ditadura militar se dá por oportunismo e saudosismo, de uns poucos, e por consequência do que afirmo, na quase totalidade dos que nunca ouviram falar em mais valia, fetiche da moeda, dialética, alienação ao capital... E ousa acusar alguém de comunista, como crianças esperando cegonhas com bebês ou papai noel, ele também comunista porque de roupa vermelha e distribuindo brinquedos, sem cobrar.
19 – FIM DA CORRUPÇÃO? Impossível. A corrupção é inerente ao capitalismo. Para agir livremente, o capital tem que servir-se de agentes escusos como instrumentos dos seus próprios mecanismos. Há corrupção no mundo todo, e o que se tem que cobrar é punição, o fim da impunidade, mas em todo o espectro político e não só no governo, para reduzi-la, mesmo sabendo que não acabaremos com ela.
                         Ah! Mas na ditadura não havia corrupção! Verdade. Há duas maneiras de uma coisa não existir: não existindo ou não se sabendo que existe. A censura nos meios de comunicação cuidou  “para que não houvesse corrupção” na ditadura militar.
                         As fortunas de Sarney, Maluf e outros, iniciadas na ditadura, são miragens de comunistas.
20 – A SITUAÇÃO AGORA – estamos, hoje, no meio de uma luta aberta entre dois modelos estritamente capitalistas: o neoliberal, capitaneado pelo PSDB, parte do PMDB e de alguns partidos menores, satélites do PSDB, e a social democracia, capitaneada pelo PT, parte do PMDB e alguns partidos menores, satélites do PT.
                         A rigor, estamos num bipartidarismo, o que exige uma reforma política urgente (o que faz sentido, já que as leis que regulam a criação e fiscalizam os partidos são praticamente as mesmas da ditadura militar, a ARENA – partido do “sim senhor, meu chefe”; e o MDB, partido do “não concordo mas o senhor está certo”.
                         Até aí nada demais, embate de correntes políticas, o que é normal e salutar em qualquer democracia a qualquer tempo, só que há um componente novo: a mídia.
                         Por ser concessão estatal, os meios de comunicação deveriam ser concedidos por licitação e não por doação de quem estiver no poder.
                         Foi por doação da ditadura militar que Sílvio Santos, garoto propaganda dos militares, se tornou proprietário do SBT (primeiro era tevê S, depois SS, e agora SBT).
                         Por doação, contrariando a constituição brasileira (todas as constituições brasileiras, em todas as épocas), que veda a concessão de meios de comunicação a empresas estrangeiras, a ditadura militar concedeu a Tevê Globo ao grupo norte americano Time-Life (com o fim da ditadura, a família Marinho, então acionariamente minoritária, comprou a parte da Time-Life na Globo).
                         Fernando Henrique Cardoso concedeu mais de 700 (isso mesmo 700) emissoras de rádio e tevê, em cidades pequenas, a políticos seus, para propaganda do tucanato, donde se conclui que:
a)      A mídia brasileira está concentrada: seis (6) famílias são proprietárias de 80% (oitenta por cento) das emissoras de rádios e tevês no Brasil, o que faz com que os noticiários atendam aos interesses dessas famílias, que subordinam os interesses políticos do povo aos seus (deles) interesses econômicos imediatos;
b)      Todas as pequenas emissoras são repetidoras das grandes emissoras, seja por limitações econômicas, seja por identidade política, já que concedidas por um mesmo governo e com a mesma finalidade, de onde se deduz que estamos sob censura econômica e ideológica.
                         Manipulando, escamoteando, deturpando, omitindo, alardeando... Ora em conivência com a situação, ora com a oposição, de acordo com a conveniência do momento, ferindo a ética e o bom senso (o capital é impessoal, não tem isso), essa mídia faz uso sistemático de alguns expedientes:
a)      Cultiva e incentiva a deturpação de conceitos. Por exemplo: FHC jamais diria que o PT  ou Lula são comunistas. Por ser intelectual de projeção internacional, estaria desmoralizado, diante da falta de conhecimento ou manipulação de conceitos. Então a mídia se torna porta voz de porras loucas que não sabem o que estão dizendo, dando-lhes vez e voz, ou a gente bem informada, que sabe o que deveria dizer, mas não diz, porque regiamente remunerada;
b)      Omite contradições e mudanças de opiniões que só mostram não haver compromissos com os interesses do povo, mas pessoais. Por exemplo: em 1999, quando FHC era presidente e Serra o seu ministro da saúde, “importaram” 67 médicos cubanos, com a mesma missão dos que hoje vêm chegando, sem alardes de que estava havendo uma “invasão comunista”. Os compromissos são com os cofres;
c)       Dão aval para posturas no mínimo censuráveis: ao mesmo tempo em que o presidente do STF vale-se de todos os meios, lícitos e ilícitos, para apurar escândalos no governo, vale-se dos mesmos meios, para manter engavetados escândalos semelhantes, do governo anterior;
d)      Omitem escândalos, como o do sistema ferroviário de São Paulo, ignorando-os, como se não existissem ou nunca tivessem existido.
                         Ao mesmo tempo que age assim, deliberadamente, a mídia desinforma ou presta informações absolutamente inócuas para o desenvolvimento humano, seja como indivíduo ou ser social, oferecendo programação alienada/alienante, como concurso de dança de famosos, programas de escândalos conjugais, noticiário sobre nulidades transformadas em nada no pedestal da fama, reality shows, vendas de graças e milagres... Onde subliminarmente se introduz conceitos de despolitização e acomodação social, seja pelo próprio âmbito da programação, seja através de opiniões e “conselhos”, estrategicamente inseridos.
                         É neste quadro que o Brasil decide se se quer “fascista ou comunista”, o que dá vômitos em qualquer semialfabetizado.
                         É com essa formação e essas informações que decide se quer democracia ou ditadura militar.
                         É com todo esse preparo que vai às urnas, para eleger o ladrão da vez, orientado pela mídia, a quem pouco importa se é ladrão, desde que faça o jogo dela, mídia, rolando dívidas imensas com o fisco, fazendo vistas grossas à sonegação fiscal, subvencionando, na forma de gordos contingenciamentos do orçamento público para publicidade...
                         Assim e por isso o povo não fica sabendo que não há nenhuma ameaça comunista, que a discussão é para decidir que modelo de capitalismo se quer; que o grupo mais importante, no momento, aliado a golpistas de direita e usado ora para demonstrações de vandalismo deliberado e taticamente organizado, ora como ideologicamente consistente e pertinente, não passa de uma organização anarquista internacional, com sede nos Estados Unidos, e que, via mundo virtual, influi hoje no mundo todo, sendo, inclusive, um dos maiores responsáveis pelos banhos de sangue no Egito e na Síria.
                         Esta a situação brasileira, a imaturidade política plena e esplendorosa, parida no seio de vinte e um anos de obscurantismo mental, quando generais substituíram intelectuais e as decisões não eram tomadas em Brasília, mas em Washington.
                         E tem gênios da raça querendo começar tudo de novo, talvez para prolongar a mediocridade, substrato da miséria, por mais um século.

P.S. – antecipadamente peço desculpas por possíveis erros nas citações. Não realizei consultas.

Francisco Costa

Rio, 27/08/2013

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