terça-feira, 3 de setembro de 2013

OS ÓRFÃOS DA PROSTITUTA

O primeiro sintoma do fanatismo, da cegueira mental, seja ela política, religiosa, filosófica ou científica, é a perda da capacidade de raciocinar, deturpando conceitos e usando palavras indevidamente, divorciadas do seu significado original.
Por isso cada fanático religioso acredita que Deus só esta´nas igrejas da religião dele, que os cientificistas acreditam que a ciência pode explicar tudo, que cada corrente filosófica  é excludente de todas as outras.
Por conta disso as palavras são deturpadas em seu conceito originais: cristãos são só os protestantes, ditaduras existem para preservar a  democracia (ouvi muito isso, afffff), só os homens de ciências conhecem a verdade...
Porque digo isso? O que tem de postagens afirmando que vivemos numa ditadura... Só são superadas, em quantidade, pelas postagens de gatinhos e versículos bíblicos.
Vamos ver: o governo atual foi democraticamente eleito, através de eleições gerais, pelo voto universal, obtendo os votos da maioria ou chegou pela força das armas, por uma traição ao seu comandante em chefe, o presidente da república?
O mandato foi concluído, no tempo, e permanecem, sem passar a faixa presidencial a alguém legitimamente eleito, tendo-se valido das forças das armas ou mecanismo judiciais, ou cumprem mandato legítimo dentro do tempo constitucional?
Há censura aos veículos da imprensa, com filtragem de notícias, adaptação das notícias e interpretação das notícias ao interesses do governo?
Nos está vedada a liberdade de manifestação?
Pelo contrário, nunca se viveu num clima de tanta liberdade (já vi até postagem chamando a presidente de puta, quando não montagens com ela só de calcinhas).
Vivi numa época, democrática, segundo os fanáticos, em que reclamar da inflação dava cadeia, dizer que os generais eram adidos comerciais do Estados Unidos dava tortura e morte.
Agora dizem que o governo é comunista, fascista, nazista... Sem medos e sem consequências.
Onde  ditadura? Como se explica tanta inversão de valores, tanta apropriação indébita, por deturpação, de adjetivos?
Pois explico: no últimos anos da década de cinquenta, o Brasil tinha um sistema educacional público imitado no mundo, um dos melhores. A distinção entre a escola pública e a escola privada era feita pelas siglas: EP = escola pública, PP (pagou, passou) = escola privada (quem estudava em escola particular era discriminado, por ter menor nível, exatamente como se faz hoje com os alunos do ensino público).
Praticamente não havia escolas particulares e muito menos uma faculdade particular em cada esquina, a educação era atribuição do Estado.
Examinemos o nomes da época: Anísio Teixeira, Gilberto Freire, Darcy Ribeiro, Oscar Niemayer, Burle Marx... Os que davam diretrizes e estabeleciam metas.
Havia o Cinema Novo, A Bossa Nova, a Construção de Brasília, os movimentos concretos e neoconcretos, e Bandeira, Drummond, Cecília, Jorge Amado, Veríssimo (pai)...
E veio a ditadura, e todos esses foram cassados, expulsos do país, quando não amargando cadeia antes, indo desenvolver os seu trabalhos em outros países.
Anísio Teixeira, Gilberto Freire e Darcy Ribeiro constam como leitura obrigatória em praticamente todos os cursos de pedagogia do mundo. Seus modelos teóricos e práticos são usados em dezenas de países, mas veio a ditadura militar e eles foram substituídos por sargentos com formação acadêmica em estandes de tiros e ordens unidas, e a educação brasileira foi privatizada.
A consequência está aí, cinquenta anos depois: a penúltima educação do mundo, em qualidade, segundo a UNESCO.
Por isso choram os filhos da ditadura, com saudades nascidas da educação que receberam dela ou da que se seguiu, o que temos que entender, afinal, mãe é mãe, ainda que tenha sido prostituta.

Francisco Costa

Rio, 03/09/2013.

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