terça-feira, 17 de setembro de 2013

ENTREVISTA CONCEDIDA A RADIO PONTO UM 17/09/2013. 09:00h

Ponto 1 - Estamos com o professor Francisco Costa de novo, para mais uma troca de figurinhas. Bom dia, professor.
Francisco Costa – Bom dia. À galera em casa bom dia. Fora do microfone vocês me chamam de Chico, aqui de professor (risos). Pode ser  Chico aqui também, não me incomodo.

P1 – Estamos conhecendo um Chico diferente no face e nos papos particulares, mais agressivo, mais radical. O que houve?
FC – (longa pausa) Não gosto de injustiça. Enquanto o negócio estava no nível de denúncia pra lá, denúncia pra cá, tudo bem, mas a partir do momento em que o Supremo Tribunal Federal passou a funcionar como um comitê de campanha do PSDB, fiquei chateado e entrei na briga.

P1 – Explica isso pra gente, Chico.
FC – A Constituição brasileira diz que somos todos iguais perante a lei, não há privilégios nem privilegiados, e sempre que alguém se sente injustiçado num julgamento tem o direito de recorrer da sentença, em instância superior. É a regra constitucional, não foi feita para discussão, mas para cumprimento, e não é o que está acontecendo com os chamados mensaleiros. A partir do momento em que não dão a eles o direito de recorrer estão discriminando, transformando o STF num tribunal de exceção.

P1 – Aí entra o embargo. Explica pra gente o que é e como funciona, mas bem de leve, pra galera entender.
FC – Repara que eu falei que tem direito de recorrer da sentença em instância superior. Um exemplo: imagine que eu roube uma bicicleta, aí o juiz me dá dez anos de cadeia, em regime fechado, enquanto outro sujeito assaltou um banco, trocou tiro com a polícia, o diabo, e pega dez anos também. Meu advogado recorre, para mostrar a um juiz de instância superior que a minha pena foi exagerada. O juiz pode acatar ou não. Acatando, anula o processo, começando tudo de novo, reduz a minha pena ou me absolve, vai depender do entendimento dele.

P1 – Sim, mas o embargo.
FC – Acontece que os chamados mensaleiros foram julgados direto pelo Supremo Tribunal Federal, que é a instância máxima da justiça, não tem uma instância superior, onde se possa recorrer. Para não haver discriminação, foi criada a figura jurídica do Embargo Infringente. E o que é isso? Se o colegiado de Juízes ficar dividido e os réus conseguirem pelo menos quatro votos a favor deles, a pena é revista, como se estivessem recorrendo a uma instância superior, e foi o que aconteceu, eles tiveram quatro votos a favor. Seria só cumprir a lei, aí deu essa suruba toda.

P1 – Detalhe mais, não ficou bem claro.
FC – O Superior Tribunal Federal é a instância máxima da justiça brasileira, como falei, e é formado por onze juízes, com status de ministros. Há o presidente, que é o Joaquim Barbosa, e os outros dez. Na votação de condenação dos mensaleiros, o placar foi de sete a quatro, o que deu a eles o direito de recorrer. Foi isso

P1 – Mas isso já não foi derrubado?
FC – Não senhor, quem lhe disse isso? Em 1998 o Fernando Henrique mandou uma PEC...

P1 – O que é PEC? Os nossos ouvintes provavelmente não sabem.
FC – PEC é a abreviatura de Projeto de Emenda Constitucional. O executivo quer mudar alguma coisa na constituição, faz um projeto, dizendo o que quer e manda para o Congresso Nacional, para avaliação e votação pelo plenário, por todos os deputados e senadores. É isso. Então o Fernando Henrique mandou uma PEC, acabando com o Embargo infringente, que não chegou nem a ser votado, foi recusado pela Comissão de Constituição e Justiça. Então está valendo, não há o que discutir. Constituição não se discute. Cumpre-se.
                Agora essa palhaçada toda para decidir se eles têm esse direito ou não. É ridículo.

P1 – Na sua opinião, os mensaleiros roubaram?
FC – Não. Fizeram caixa 2 para o PT.

P1 – O que é caixa 2?
FC – Dinheiro por debaixo do pano, clandestino, mas que partido não faz? Todos fazem, assumidamente, nenhum deles nega. O partido mais certinho, de freirinhas pudicas, é o Psol, e a presidente do Psol no Rio de Janeiro renunciou do cargo porque foi flagrada fazendo caixa 2.
E ainda há um agravante que ainda não apareceu, mas que vai dar merda mais adiante: Roberto Jeferson.

P1 – Não entendi.
FC – Porque é que o Roberto Jeferson foi cassado, porque motivo? Por ter mentido, ao denunciar um esquema de mensalão que se provou ser inexistente. Pela apuração do Congresso, da Polícia Federal e da Procuradoria Geral, não houve esquema de mensalão, até então, e cassaram o Jeferson, por ter mentido. Agora condenam os caras por serem mensaleiros. Ora, Jeferson, além de raposa velha na política, é advogado, vai entrar exigindo a revisão de tudo, a devolução do mandato, todos esses anos de salários e mais uma indenização milionária, por danos morais, e a União vai ter que pagar, quer dizer, o povo brasileiro. Essa suruba está longe de terminar, tem tesão pra muitas noites mais.

P1 – E a tua bronca do Joaquim Barbosa (muitas risadas)
FC – Porque é um canalha de toga. Ele vai acabar conseguindo fazer o que as passeatas e o vandalismo não conseguiram: rachar o povo brasileiro, nos levar a uma radicalização de posições. Ele é político, de extrema direita, corrupto e está usando o STF para promoção pessoal, já em campanha.

P1 – Chiiicccoooooo! Você não tem medo de ser preso não, de falar isso assim, no rádio?
FC – Não. Não lembro mais o autor da frase, mas “há momentos em que o único lugar digno de um homem digno é na cadeia”. É por aí.

P1 – (Chico fica visivelmente irritado) Detalha isso pra gente, mas cuidado, pelo amor de Deus!
FC – Ficam provocando, vão fechar a rádio de vocês (risos). Joaquim Barbosa abriu uma empresa nos Estados Unidos e, em nome da empresa, comprou um apartamento de um milhão de dólares ou reais, não sei bem, mas foi de um milhão.
E daí? Você vai me perguntar. Daí que a lei brasileira impede que magistrados sejam proprietários de empresas. Flagrados, perdem a magistratura, são compulsoriamente aposentados, já que juízes não podem ser demitidos, ainda tem mais essa.
                Qual foi a justificativa do nosso herói fascista? Fiz tudo de acordo com a lei americana. Não sei se deu péssimo exemplo ou firmou jurisprudência. Agora, quando pegarem um traficante de maconha em alguma favela, o cara vai dizer “segui as leis suecas, lá a maconha é liberada”. A situação é essa, meu chapa. Coisa de piada de revista de humor.
                Mas não para aí. Qual é a atividade dessa empresa? Compra o que, vende o que, fabrica o que? Não está especificado. Ele abriu a empresa e dias depois comprou o apartamento. Quer dizer, abriu a empresa só para comprar o apartamento. Aí surge uma nova pergunta: de onde veio o dinheiro, um milhão do apartamento mais as despesas de constituição da empresa, mais viagem, estadia...?
                E aí surge a boataria nas redes sociais e nos corredores, dando conta de que foi o pagamento para ele colocar os mensaleiros na cadeia.

P1 – Ainda vai dar pano pra manga.
FC – As associações de juízes, pelo menos umas três ou quatro já entraram com ações contra ele. Como ele é presidente do Supremo não está subordinado a essas entidades, não pode ser punido, mas vai passar por situações constrangedoras.

P1 – Mas a quem interessa os mensaleiros na cadeia?
FC – Aos tucanos, claro, ao PSDB, para tentar enfraquecer o PT, ter mote de campanha: partido de ladrões, metade do partido está na cadeia! Veja bem: o Lula ganhou o primeiro mandato com certa dificuldade; ganhou o segundo com facilidade; depois pegou a Dilma, uma ilustre desconhecida, nem militante era, nem filiada ao PT, era executiva de uma multinacional, e ganhou fácil. Agora só existe uma única possibilidade dela não levar mais fácil ainda que Lula, se abrir mão da própria candidatura, em favor do Lula. O PSDB não arruma mais nada, as pesquisas de opinião estão aí.

P1 – Você tem como justificar isso?
FC – Você tem três fatores: o governo FHC, os índices relativos e os índices absolutos.

P1 – Explica cada um deles, mas de maneira bem facinha (risos)
FC – Primeiro o governo FHC, que na verdade foi uma intervenção americana aqui, todo o receituário neoliberal aplicado aqui: privatizou tudo a preço de banana.
Só para você ter uma ideia: se você montar uma boa padaria, com equipamentos modernos, loja ampla, bem instalada, confortável... Você não recebe o dinheiro investido em menos de dois anos. O retorno é lento.  
A Vale do Rio Doce, uma das maiores mineradoras do planeta, praticamente concessionária de todo o minério brasileiro, se pagou em um ano e meio, mais rápido que uma padaria, quer dizer, foi doada.
                Se alguém me garantir, a mim ou a qualquer outra pessoa, que uma empresa vai se pagar em um ano e meio, eu ou essa pessoa nos endividamos e compramos, seja a Petrobrás, a Coca-Cola ou a Microsoft. Um ano e meio é praticamente retorno a vista. O normal seria a Vale se pagar em vinte ou trinta anos, se não mais.
                A França nos cobrou um bilhão de dólares, sem justificar de quê ou porque. Foi um escarcéu no Congresso, a oposição indignada, os órgãos classistas revoltados... Quando se descobriu FHC já tinha pagado.
                FHC conseguiu ser mais predador que os portugueses no Brasil Colônia. É um lesa pátria. É claro que não queremos mais isso, não permitiremos mais isso.
                E a corrupção, que o Lula não quis apurar, para não ser acusado de revanchismo, e que agora o Joaquim Barbosa mantém engavetado a todo custo. Nunca nesse país se roubou tanto quanto no governo tucano.
                Está saindo uma penca de livros com depoimentos de testemunhas, com a roubalheira toda documentada. Roubaram muito, cara. Em matéria de pilhar o Brasil, perto deles o império português foi fadinha bondosa.
                Vê se eles se defendem. Estão caladinhos, sem nenhum argumento, sperando para ver se a indignação passa.

P1 – Os índices, que você falou.
FC – Primeiro vamos comparar, ver os índices relativos: o salário mínimo no Brasil é uma merda, mais ou menos trezentos e cinquenta dólares, setecentos e cinquenta reais, mas no governo tucano era de sessenta e sete dólares. Se a Dilma estivesse pagando o mesmo salário mínimo tucano, hoje o salário mínimo seria de cento e cinquenta reais. Só no final do governo FHC é que chegou a cem dólares, o que hoje seria duzentos e poucos reais. Pior do que isso só o salário mínimo da ditadura, quarenta e cinco dólares, cem reais, e isso com uma inflação de oitenta por cento, anual. E ainda tem babaca pedindo o retorno da ditadura.
                Uma outra coisa é a taxa de juros brasileira, talvez a maior do mundo. A nossa taxa SELIC, que é o parâmetro do sistema financeiro, está em torno de dez por cento, altíssimo. Mas no governo FHC chegou a ser de sessenta por cento. Você comprava uma geladeira a prazo e pagava três, comprava um carro e pagava três.
                Isso em termos relativos. Em termos absolutos o negócio é mais gritante ainda.

P1 – Fala aí!
FC – O mundo todo está praticamente numa depressão, sem crescer, com alguns países até encolhendo, nós estamos com um crescimento continuado de um e meio por cento, entre os cinco maiores do mundo. No trimestre passado só fomos superados pela China.
                Aí você vai pra taxa de desemprego, que praticamente inexiste no Brasil. A nossa taxa de desemprego é quatro vezes menor que a de Portugal, cinco vezes menor que a da Espanha, a metade da norte americana, menor que a francesa, italiana... Você não ouve falar de desemprego no Brasil.
                A nossa inflação é uma das menores do mundo, menor que a da Rússia, França, Índia... No grupo chamado Brics, só a China nos supera.
                Nossas fábricas não estão a todo vapor porque o mercado externo está retraído, como afirmei. Mas não está havendo demissões nem férias coletivas, como era uma constância no governo de FHC.
                A mortalidade infantil ficou em cinquenta por cento, na média mundial, a nossa caiu setenta  sete por cento. Esse ano vamos bater novo recorde de colheita na safra de grãos.
                O mundo nos olha com inveja e respeito.

P1 – A que você atribui isso, professor?
FC – À mudança de modelo econômico. Lula ficará em nossa história como um marco, uma linha divisória.

P1 – Vai mais fundo.
FC – Tivemos sempre duas características de país colonizado: um mercado interno fraco e exportações concentradas para o império colonial, e Lula rompeu com isso.
                Durante a ditadura chegamos a ter oitenta por cento do nosso comércio exterior concentrado com os americanos, que determinava preço e quantidade. Com FHC, dois terços do nosso mercado exterior era com os Estados Unidos, e o que é que Lula fez?
                Enquanto FHC viajava com um monte de puxa sacos e intelectuais, para dar palestras e receber prêmios no exterior, o Lula virou camelô, marqueteiro, saiu viajando com empresários, fechando negócios no mundo todo.
                Duas críticas que se fazia ao Lula era a de viajar muito e levar muita gente. É verdade, viajou o mundo todo, e boa parte daqueles que estavam em volta dele eram pequenos empresários, com a viagem custeada pelo governo, para fechar negócios.
                Resultado: hoje menos de um terço do nosso comércio exterior é com os americanos. Hoje vendemos a quem nos paga mais e na quantidade que queremos. O empresariado brasileiro está crescendo, gerando empregos, pagando mais impostos. O país está crescendo.
                A segunda preocupação do Lula foi sair do modelo quase que estritamente exportador e fortalecer o mercado interno, com aumentos reais de salários, acima da inflação, e com redistribuição de renda, onde o bolsa família tem um papel fundamental.

P1 – Acho que o Bolsa Família é a coisa mais discutida e controversa nesse governo.
FC - A economia mundial hoje está fortemente subsidiada, os governos injetam dinheiro na economia, para aumentar a produção e baratear custos, de maneira a tornar os produtos mais baratos, mais competitivos no mercado. Isso acontece no mundo todo e o nome disso é protecionismo. Contraditoriamente o país mais protecionista do mundo é os Estados Unidos. Digo contraditoriamente porque pregam o livre mercado mas não praticam.
                E como a nossa economia era subsidiada? O sistema financeiro estatal emprestava com juros abaixo dos juros de mercado e o povo pagava a diferença, quer dizer, tirava-se dos pobres, da sociedade como um todo e se dava aos empresários. Emprestava-se a fundo perdido, quer dizer dava-se dinheiro às empresas, tirava-se do povo e dava-se aos empresários.
                O BNDES fazia isso, o Banco do Brasil fazia isso, o Banco Central fazia isso, ao socorrer bancos particulares...
                Lula abordou por outra ótica: ao invés de dar dinheiro, porque não ampliar mercado, fazendo com que produzam mais? E no plano exterior saiu mundo afora, conquistando clientes, fregueses, ao mesmo tempo que fortalecendo o mercado interno.
                Aqui o bolsa família é fundamental, na medida em que incorporou milhões de famílias no mercado consumidor. Se é uma questão de justiça social, de repartir com quem não tem, é uma genial tacada capitalista, fabricar fregueses, em substituição aos subsídios.
                Você tem municípios, principalmente no norte nordeste, onde oitenta por cento da economia gira em torno do bolsa família e das aposentadorias, porque não existe empregadores ou vagas de trabalho, já que o município é formado de latifúndios, que exige pouca mão de obra e mesmo assim sazonal, só durante as safras.
                É esse bolsa família que gera impostos que ilumina o município, coleta o lixo, paga os médicos e professores que de outra maneira não estariam lá.
                Esse discurso que o bolsa família é demagógico, eleitoreiro, que incentiva a vagabundagem... É de um primarismo de analfabetos. Se há o lado humano, é um investimento essencialmente dentro dos mecanismos capitalistas de subsidiar, só que de maneira masi honesta, mais democrática.
                É tão importante que FHC, o engenheiro construtor da Arca de Noé, o subcomandante de Pedro Álvares Cabral, o conselheiro de D. Pedro... Porque tudo de importante ele assume como iniciativa dele, já ousou afirmar que foi ele quem criou o bolsa família.
                E tem uns babacas mais babacas ainda que enxergam no bolsa família uma iniciativa comunista. Se há um país em que não há nenhum resquício de comunismo, nenhuma tendência, nenhuma possibilidade de comunismo esse país é os Estados Unidos. O governo norte americano dá quarenta e oito milhões de bolsas família, que lá tem outro nome, mensalmente. São os intelectuais formados pelos pastores e pela Rede Globo.

P1 – Mas muita gente fala que Lula e Dilma são comunistas.
FC – Isso é de um analfabetismo político ridículo. É o mesmo que dizer que evangélicos vão à missa ou católicos vão ao culto. O medíocre tem a palavra comunismo como sinônimo de ruim: o diabo é comunista (risos), pedófilos são comunistas... São ridículos.
 Volte em tudo o que falei até agora sobre Lula e Dilma, sobre os governos do PT: fortalecimento de mercado, subsídios... Isso é capitalismo. Leilão de poço de petróleo, leilão para a exploração das rodovias... Isso é capitalismo. Centrais sindicais, órgãos classistas... Economia rural apoiada nos latifúndios e, urbana, nas grandes corporações... Isso é capitalismo.
                Quem vê comunismo nisso pensa que Marx é marca de biscoitos ou um novo produto da Coca-cola. São muito babacas.

P1 – Você está ficando petista.
FC – (rindo muito) Não, e justamente por ser marxista. Estou fechado com o PT por causa do nacionalismo e da política de justiça social, mas sem perder de vista que, no plano teórico, a social democracia petista faz estrago maior no marxismo que o neoliberalismo do PSDB.
                Na década de setenta eu já dizia isso, que o maior freio na expansão do socialismo não era o capitalismo estrito, mas a social democracia, o capitalismo mascarado. Confirmou-se.

P1 – Uma pergunta direta: para onde o Brasil caminha, quais são as suas maiores dificuldades e o que conta a favor?
FC – É muito cedo para fazer uma afirmação taxativa de para onde vamos, as forças políticas internas estão muito divididas.
                A favor temos que a maioria gritante do povo dá aval para que o modelo continue a ser implantado. Quando a direita vai para as ruas, usa o judiciário, pede golpes militares, é porque sabe que no voto não leva mais. Todas as pesquisas de opinião mostram Lula e Dilma ganhando o que disputarem. Venha Aécio, Serra de novo ou o imortal, perderão. Aécio consegue estar atrás até da ex ministra do Meio Ambiente, patinando nos treze por cento das intenções de votos. Estão eleitoralmente mortos.
                A favor temos também uma tendência de fim de crise europeia, o que vem para fortalecer as nossas exportações, trazer divisas.
                Contra temos o conservadorismo brasileiro que pôs a igreja católica nas passeatas, em 64, e agora põe os protestantes.
O fundamentalismo religioso, altamente alienante, pregando a omissão e o conservadorismo, é o que mais dificultará. Compare o Pastor Marcos Feliciânus (risos) e Lula e você perceberá logo o que se esconde no conservadorismo fundamentalista.
                Feliciânus, essa semana incitou uma multidão de fanáticos a linchar duas adolescentes porque eram um casal lésbico. Bateram nas meninas. Em nome de Jesus, aleluia. Os narcotraficantes dos morros cariocas estão expulsando os terreiros de umbanda e candomblé, a pedido dos pastores, em nome de Jesus, aleluia. Hoje não sei quem tem as cabeças mais estreitas, se os funkeiros ou os fundamentalistas. E se julgam mais cristãos que o próprio Cristo.
                O chamado mercado gospel já movimenta muitos bilhões de dólares. Segundo as estatísticas, no Brasil abre-se um vírgula sete igrejas fundamentalistas por hora, uma média de quarenta igrejas fundamentalistas por dia, para vender graças, bênçãos, milagres e fanatismo cego e alienante. Analisa as postagens dos evangélicos na net, coisa de crianças esperando o papai noel. Não se sustenta no racional nem no emocional, só na lavagem cerebral.

P1 – Francisco Costa presidente da república hoje. Quais seriam as suas três principais preocupações?
FC – Hipótese absurda (risos), mais fácil eu virar pastor e abrir a minha lojinha evangélica na esquina (risos).

P1 – Sério, considere isso. Mais: do que está sendo feito, o que você manteria e o que interromperia.
FC – A minha preocupação primeira seria com as Forças Armadas. Acho que Lula negligenciou e agora a Dilma está fazendo a mesma coisa, e a história nos cobrará isso.
                Eu cuidaria de equipar melhor as nossas forças armadas, municiá-la e intensificar os treinamentos, inclusive com militares estudando e estagiando no exterior. Vamos precisar delas mais rápido do que pensamos.
                Não se trata de assumir uma posição belicista, não. É continuarmos com a nossa já histórica posição de pacifistas, mas com Forças Armadas poderosas, para dissuasão de quem namore as nossas riquezas, e uso, se necessário, porque somos o sonho de consumo de todas as potência, sempre fomos.
                Há um projeto de um novo modelo a nível global, independente de se acreditar em Iluminati ou outra organização qualquer, é um passo natural do capital, como Marx nos deixou bem claro, e mecanismo expansionista de todo império econômico: foi assim com os romanos, com os bárbaros, com os portugueses e espanhóis, com os ingleses e agora com os americanos: dominar o mundo.
                Por isso a intransigente defesa da Síria pela Rússia, como tentativa de interromper isso...

P1 – Ôpa! Brake! Fala mais disso.
FC – Acompanhe o meu raciocínio: os Estados Unidos detonaram o Iraque, o Afeganistão, a Líbia... Agora chegou a vez da Síria, depois será o Irã.
                Se isso lhes garante toda a fonte de petróleo do oriente médio, impede o expansionismo comercial da Rússia, que fica impedida de vender petróleo e gás para a Europa, debilitando-a economicamente.
                Indo ao mapa, você vai ver que esses países formam uma espécie de parede de contenção para aceso ao território russo e, para piorar, sem exportar para esses países, principalmente armas, a Rússia fica mais debilitada economicamente, altamente vulnerável, geográfica e economicamente.
                Os humanos são uma espécie tão insensata que os dois ramos de negócios que mais movimentam dinheiro no mercado não são comida e vestuário e muito menos saúde: são drogas e armas. O setor com maior movimentação de capital, a nível mundial, é o narcotráfico, seguido da produção e comércio de armas.
                Então: Iraque, Afeganistão, Líbia, Síria, Irã... Rússia.
                Por isso a voz grave de Putin: se atacar a Síria é o início da terceira guerra mundial. Muito de solidariedade ao povo sírio e de compromissos históricos honrados, mas muito mais de autodefesa.

P1 – Voltando ao Brasil...
FC – Terminada a conquista do oriente médio ou não, há o petróleo brasileiro, continental, da plataforma continental e de águas profundas, o chamado pré sal. Há jazidas de praticamente todos os minérios, há um mercado consumidor de mais de duzentos milhões de bocas, e, considerando-se que a água potável está cada vez mais escassa e será comoditye tão o mais valorizada que o petróleo, já em poucas décadas, temos a maior reserva de água potável do planeta.
                Temos a bacia Amazônica, a bacia do São Francisco, a Bacia do Prata. Não bastasse isso, a maior reserva de água subterrânea do planeta  é o aquífero Guarani, que abrange o Uruguai, Argentina, Paraguai, Bolívia e Brasil, sendo que mais de setenta por cento está no Brasil.
                O Rio Grande do Sul boia sobre água potável, mineral, cristalina, pura. É uma riqueza formidável, maior que todos os rebanhos e plantações de soja dos gaúchos.
                A título de vigiar o terrorismo na região de Foz do Iguaçu, os americanos já construíram uma base aérea no Paraguai, por acordo durante a ditadura militar de Strossener.
Que terrorismo na Foz do Iguaçu? Tem tantos terroristas lá quantos banhistas de maiô na Rua Augusta, em São Paulo. Examinando o mapa você vai ver que a base está estrategicamente sobre o aquífero.
                Somando-se toda essa água, dá mais que uma caixa d’água, com água potável, maior que o Mar Mediterrâneo. O que estamos fazendo para proteger e garantir isso, para nós bebermos e exportarmos?
                Aí vem o gás da Bolívia, o petróleo e o gás da Argentina, o cobre chileno, o petróleo do Golfo do México (Colômbia e Venezuela) e você descobre que a América do Sul é tão ou mais importante economicamente que o oriente médio, que só tem petróleo e areia.
                O furor bélico capitalista se abaterá sobre nós, com certeza, deixando a África por último, a espera do fortalecimento do seu mercado consumidor. É isso aí.

P1 – Voltando ao presidente Chico. Você equiparia as forças armadas, e politicamente?
FC – Permaneceria na mesma posição atual do país, de não atrelamento a ninguém, de independência e amizade, o que facilitaria uma aliança com a Rússia, para nos protegermos dos Estados Unidos, ou com os Estados Unidos, para nos protegermos da Rússia.
                A nível regional também ficaria na mesma posição atual, de estreitamento e intimização das relações com os países vizinhos, como forma de defesa. Os americanos tem a OTAN, que é um tratado militar mas que zela pelos interesses econômicos do império, os países europeus estão buscando a fusão, através da criação da União Europeia, e nós temos que seguir o mesmo caminho, buscar a unidade sul americana, de maneira a nos fazermos mais fortes, econômica e belicamente. Atacar um país sul americano é atacar todos, senão farão aqui como no oriente médio: pegam a Venezuela, depois a Colômbia... e vai indo até chegarem à Brasília.

P1 – Você não está sendo alarmista?
FC – Realista. A história da espécie humana é a história de suas guerras, das ascensões e quedas dos seus impérios. Só que a tecnologia acabou com as guerras regionais. Hoje um porta aviões tem um poder de fogo maior que o de um exército inteiro a cinquenta anos atrás. Nesse momento sobre nossas cabeças há milhares de mísseis em órbita, prontos para descerem.

P1 – Francisco, porque nós simples mortais, não temos essa carga de informações e nem essa visão do país? A que você credita isso?
FC – A que debito, porque é perda. O brasileiro não lê, não discute, não conversa sobre isso. O brasileiro tem uma única entidade que funciona como modelador ideológico: tevê Globo. Eu não sou telespectador, sou leitor.

P1 – Vou já já te fazer uma pergunta sobre a Globo, mas antes... Como você vê a relação dos Estados Unidos com a gente, daqui pra diante?
FC – Os portugueses nos colocaram rédeas. Os ingleses, por curto espaço  de tempo, nos colocaram cela, sem tirar as rédeas. Os americanos, a partir da segunda guerra, no colocaram rédeas, cela, cabresto, esporas e camisa de força. Nos tornamos quase que um estado a mais em anexo, como o Alasca e o Havaí.
                Hoje temos uma posição mais ou menos independente que os preocupa, e eles agora têm cinco opções, que vai depender da nossa conjuntura interna e da conjuntura internacional: primeiro: um golpe militar. Os militares são extremamente nacionalistas, só que, principalmente a partir da segunda guerra, por terem lutado junto com os americanos, e depois, por usarem armamento americano, usarem a literatura especializada de origem americana, fazerem manobras conjuntas... O atrelamento automático aos Estados Unidos faz parte dessa concepção de nacionalismo deles. Nossos militares são pró Estado Unidos até a alma, o que faz de um golpe militar o atrelamento automático. Segundo: a direita, seja por um golpe, ou pelos votos, voltar ao poder, através do PSDB, que é o aglutinador natural de toda a direita, impondo o neoliberalismo, que é tudo o que os Estados Unidos querem. Terceiro: usarem da chantagem, explorando as vacilações dos nossos governantes e fraquezas de nossas empresas, pela espionagem, que antes era física e agora é eletrônica, como foi denunciado na semana passada. Quarto: tolerar a nossa independência mas criando mecanismos para limitá-la, e, quinto: fazendo uma intervenção armada direta, como no oriente médio.

P1 – Agora sim, rede Globo.
FC – Rede Globo é papo para muitas horas.
                Quando a gente fala em Rede Globo imagina uma emissora de televisão, com os seus estúdios, o pessoal gravando, editando... Pondo notícias e entretenimento no ar, só que não é bem assim.
                A Rede Globo é na verdade um conglomerado de mais e cinquenta mega empresas atuando nos mais diversos setores da economia nacional e internacional, e que tem na Tevê Globo a porta voz dos seus interesses comerciais.

P1 – Cinquenta?
FC – Sim. Só canais de televisão, ela tem sete inteiramente dela, seis em sociedade e mais trinta e seis afiliadas. Oitenta por cento da programação dela é de produção própria, constituindo-se quase que num monopólio da cultua brasileira, na medida em que o povo não lê, não vai ao teatro nem ao cinema, só vê televisão.
                Só a Globo, que é a empresa principal, holding, tem trinta e seis mil funcionários.
                Possui uma das maiores editoras de livros do país, a maior editora de revistas.
                Possui três gravadoras e distribuidoras de cedês e devedês, pronta para inaugurar a quarta, essa, gospel, porque também já descobriu que no merchandising do capital Jesus dá lucro e muito lucro.
                É dona da Net. É dona de dezenas de emissoras de rádio AM e FM. Tem diversas produtoras e agências de publicidade... Isto na área de comunicação social.
                Passando-se para outras áreas, a Globo é dona de mineradoras, latifúndios imensos de gado e soja, na Amazônia, corretora de valores, fábrica de componentes eletrônicos, fábrica de bicicletas... Todas trabalhando com atividades complementares e influências recíprocas: se a Petrobrás anuncia a possibilidade de ter encontrado uma reserva com aparente potencial, a Globo noticia que já encontrou e é de alto potencial, as ações da Petrobrás disparam nas bolsas, as corretoras da Globo vendem, e dias depois os preços das ações caem.
                Na ditadura militar, fosse diretamente, contratando matadores, ou indiretamente, se servindo do exército, a Globo patrocinou matanças de índios e de gente humilde que ocupava as terras compradas ou a serem compradas por ela.
                O histórico da Globo é negro, mas o pior de tudo é a manipulação ideológica do povo brasileiro, instrumentalizando o país, para os seus lucros.
                Essa novela que está passando agora é de uma sordidez só.

P1 – Virou noveleiro? Fala aí.
FC – Não (risos). Essa novela está tão comentada, com tanto espaço desperdiçado na imprensa e em tudo que é lugar que fiquei curioso. Pedi a mãe do meu caçulinha para me contar e acabei ficando curioso, de duas semanas para cá estou assistindo.
                Quando a gente fala que a Globo manipula a gente se remete logo para os noticiários dela, principalmente para o Jornal Nacional, onde realmente há manipulação: omitem, acrescentam, trocam o enfoque, subestimam, superestimam, parcializam... O cacete. Mas acho que na dramaturgia é que fica a sacanagem maior, porque modela subliminarmente, como se fosse um psicólogo, sem que as pessoas se deem conta.
                Vamos pegar esse personagem, o Félix. O cara rouba o pai, quer tomar a empresa do pai, compra silicone industrial e usa como se médico, já matou, forjou um flagrante de narcotráfico para a irmã, que ao contrário dele é uma médica altamente ética (ele não é médico), que foi presa, depois internada por ele numa clínica psiquiátrica, para levar eletrochoques, levou a própria mãe na casa da amante do pai, para provocar uma separação entre os dois e ele ter o seu próprio poder aumentado na família... É um escroque, o lixo dos lixos. Só que entre todas essas características, há mais uma, ele é homossexual.
                Então, quando o povo criticá-lo dirá: ladrão, assassino, traidor do pai, estelionatário, viado. Com a opção sexual rotulada como crime ou pelo menos característica de mau caráter, em tradução do provincianismo, do conservadorismo da direita, da qual a Globo é porta voz.
                Ah! Mas tem o advogado da empresa, que também é homossexual e é educadíssimo, bom caráter, pra contrabalançar.
                Verdade. Bonito, muito educado, honestíssimo, mas... Quando foi abertamente criticado pelo patrão, por ser homossexual, não se defendeu. Quando o patrão pediu para que disfarçasse a condição de homossexual, na empresa, concordou e, para culminar: está se apaixonando pela personagem da Daniele Winits, vai trocar rola por perereca (risada geral).
                Novamente o preconceito, o conservadorismo... É cara tão perfeito que se curva ao patrão e vai até deixar de ser viado.
                Está modelado o homem ideal para o capitalismo: disciplinado, subserviente ao patrão, heterossexual, chefe de família... Um personagem desconstrói a rebeldia, o outro constrói a alienação, a despersonalização.
                Não fosse a Globo seria a igreja, o testemunho: conheci Jesus e troquei rola por perereca. (risos)
                Submetendo o homem à autoridade, confundindo autoridade moral com autoridade institucional, as igrejas fazem o mesmo que a Globo.

P1 – Chico, mais uma vez show de bola, aula, como sempre. Posso falar pros nossos ouvintes da sua conversa com  direção?
FC – Pode, mas ainda não está certo.

P1 – Acho que o Chico vai fazer parte da nossa programação. Toda terça feira. Fica o doutor Paulo na quinta e o Chico na terça.
FC – Muito bom isso. O Doutor Paulo falando de assuntos médicos, orientando aí à galera de casa, de um jeito bem popular, que é para todo mundo entender, e eu na terça. Está praticamente certo. Só peg a distância. Eu moro em Guaratiba e vir até aqui é dirigir um pedaço, mas devo fechar com a emissora. Um abração a quem de abração e um beijão a quem de beijão. Terça a gente se fala. Fui!

P1 – Pra continuar esse papo da Globo, que só começou.

FC – Tudo bem!

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