Ponto 1 -
Estamos com o professor Francisco Costa de novo, para mais uma troca de
figurinhas. Bom dia, professor.
Francisco
Costa – Bom dia. À galera em casa bom dia. Fora do microfone vocês me chamam de
Chico, aqui de professor (risos). Pode ser
Chico aqui também, não me incomodo.
P1 – Estamos
conhecendo um Chico diferente no face e nos papos particulares, mais agressivo,
mais radical. O que houve?
FC – (longa
pausa) Não gosto de injustiça. Enquanto o negócio estava no nível de denúncia
pra lá, denúncia pra cá, tudo bem, mas a partir do momento em que o Supremo
Tribunal Federal passou a funcionar como um comitê de campanha do PSDB, fiquei
chateado e entrei na briga.
P1 – Explica
isso pra gente, Chico.
FC – A
Constituição brasileira diz que somos todos iguais perante a lei, não há
privilégios nem privilegiados, e sempre que alguém se sente injustiçado num
julgamento tem o direito de recorrer da sentença, em instância superior. É a
regra constitucional, não foi feita para discussão, mas para cumprimento, e não
é o que está acontecendo com os chamados mensaleiros. A partir do momento em
que não dão a eles o direito de recorrer estão discriminando, transformando o
STF num tribunal de exceção.
P1 – Aí
entra o embargo. Explica pra gente o que é e como funciona, mas bem de leve,
pra galera entender.
FC – Repara
que eu falei que tem direito de recorrer da sentença em instância superior. Um
exemplo: imagine que eu roube uma bicicleta, aí o juiz me dá dez anos de
cadeia, em regime fechado, enquanto outro sujeito assaltou um banco, trocou
tiro com a polícia, o diabo, e pega dez anos também. Meu advogado recorre, para
mostrar a um juiz de instância superior que a minha pena foi exagerada. O juiz
pode acatar ou não. Acatando, anula o processo, começando tudo de novo, reduz a
minha pena ou me absolve, vai depender do entendimento dele.
P1 – Sim,
mas o embargo.
FC – Acontece
que os chamados mensaleiros foram julgados direto pelo Supremo Tribunal
Federal, que é a instância máxima da justiça, não tem uma instância superior,
onde se possa recorrer. Para não haver discriminação, foi criada a figura
jurídica do Embargo Infringente. E o que é isso? Se o colegiado de Juízes ficar
dividido e os réus conseguirem pelo menos quatro votos a favor deles, a pena é
revista, como se estivessem recorrendo a uma instância superior, e foi o que
aconteceu, eles tiveram quatro votos a favor. Seria só cumprir a lei, aí deu
essa suruba toda.
P1 – Detalhe
mais, não ficou bem claro.
FC – O
Superior Tribunal Federal é a instância máxima da justiça brasileira, como
falei, e é formado por onze juízes, com status de ministros. Há o presidente,
que é o Joaquim Barbosa, e os outros dez. Na votação de condenação dos
mensaleiros, o placar foi de sete a quatro, o que deu a eles o direito de
recorrer. Foi isso
P1 – Mas
isso já não foi derrubado?
FC – Não
senhor, quem lhe disse isso? Em 1998 o Fernando Henrique mandou uma PEC...
P1 – O que é
PEC? Os nossos ouvintes provavelmente não sabem.
FC – PEC é a
abreviatura de Projeto de Emenda Constitucional. O executivo quer mudar alguma
coisa na constituição, faz um projeto, dizendo o que quer e manda para o
Congresso Nacional, para avaliação e votação pelo plenário, por todos os
deputados e senadores. É isso. Então o Fernando Henrique mandou uma PEC,
acabando com o Embargo infringente, que não chegou nem a ser votado, foi recusado
pela Comissão de Constituição e Justiça. Então está valendo, não há o que
discutir. Constituição não se discute. Cumpre-se.
Agora essa palhaçada toda para
decidir se eles têm esse direito ou não. É ridículo.
P1 – Na sua
opinião, os mensaleiros roubaram?
FC – Não.
Fizeram caixa 2 para o PT.
P1 – O que é
caixa 2?
FC –
Dinheiro por debaixo do pano, clandestino, mas que partido não faz? Todos
fazem, assumidamente, nenhum deles nega. O partido mais certinho, de freirinhas
pudicas, é o Psol, e a presidente do Psol no Rio de Janeiro renunciou do cargo
porque foi flagrada fazendo caixa 2.
E ainda há
um agravante que ainda não apareceu, mas que vai dar merda mais adiante:
Roberto Jeferson.
P1 – Não
entendi.
FC – Porque
é que o Roberto Jeferson foi cassado, porque motivo? Por ter mentido, ao
denunciar um esquema de mensalão que se provou ser inexistente. Pela apuração
do Congresso, da Polícia Federal e da Procuradoria Geral, não houve esquema de
mensalão, até então, e cassaram o Jeferson, por ter mentido. Agora condenam os
caras por serem mensaleiros. Ora, Jeferson, além de raposa velha na política, é
advogado, vai entrar exigindo a revisão de tudo, a devolução do mandato, todos
esses anos de salários e mais uma indenização milionária, por danos morais, e a
União vai ter que pagar, quer dizer, o povo brasileiro. Essa suruba está longe
de terminar, tem tesão pra muitas noites mais.
P1 – E a tua
bronca do Joaquim Barbosa (muitas risadas)
FC – Porque
é um canalha de toga. Ele vai acabar conseguindo fazer o que as passeatas e o
vandalismo não conseguiram: rachar o povo brasileiro, nos levar a uma
radicalização de posições. Ele é político, de extrema direita, corrupto e está
usando o STF para promoção pessoal, já em campanha.
P1 –
Chiiicccoooooo! Você não tem medo de ser preso não, de falar isso assim, no
rádio?
FC – Não.
Não lembro mais o autor da frase, mas “há momentos em que o único lugar digno
de um homem digno é na cadeia”. É por aí.
P1 – (Chico
fica visivelmente irritado) Detalha isso pra gente, mas cuidado, pelo amor de
Deus!
FC – Ficam
provocando, vão fechar a rádio de vocês (risos). Joaquim Barbosa abriu uma
empresa nos Estados Unidos e, em nome da empresa, comprou um apartamento de um
milhão de dólares ou reais, não sei bem, mas foi de um milhão.
E daí? Você vai me perguntar. Daí que a lei brasileira impede que
magistrados sejam proprietários de empresas. Flagrados, perdem a magistratura,
são compulsoriamente aposentados, já que juízes não podem ser demitidos, ainda
tem mais essa.
Qual foi a justificativa do
nosso herói fascista? Fiz tudo de acordo com a lei americana. Não sei se deu
péssimo exemplo ou firmou jurisprudência. Agora, quando pegarem um traficante
de maconha em alguma favela, o cara vai dizer “segui as leis suecas, lá a
maconha é liberada”. A situação é essa, meu chapa. Coisa de piada de revista de
humor.
Mas não para aí. Qual é a
atividade dessa empresa? Compra o que, vende o que, fabrica o que? Não está especificado.
Ele abriu a empresa e dias depois comprou o apartamento. Quer dizer, abriu a
empresa só para comprar o apartamento. Aí surge uma nova pergunta: de onde veio
o dinheiro, um milhão do apartamento mais as despesas de constituição da
empresa, mais viagem, estadia...?
E aí surge a boataria nas redes
sociais e nos corredores, dando conta de que foi o pagamento para ele colocar
os mensaleiros na cadeia.
P1 – Ainda
vai dar pano pra manga.
FC – As
associações de juízes, pelo menos umas três ou quatro já entraram com ações
contra ele. Como ele é presidente do Supremo não está subordinado a essas
entidades, não pode ser punido, mas vai passar por situações constrangedoras.
P1 – Mas a
quem interessa os mensaleiros na cadeia?
FC – Aos
tucanos, claro, ao PSDB, para tentar enfraquecer o PT, ter mote de campanha:
partido de ladrões, metade do partido está na cadeia! Veja bem: o Lula ganhou o
primeiro mandato com certa dificuldade; ganhou o segundo com facilidade; depois
pegou a Dilma, uma ilustre desconhecida, nem militante era, nem filiada ao PT,
era executiva de uma multinacional, e ganhou fácil. Agora só existe uma única
possibilidade dela não levar mais fácil ainda que Lula, se abrir mão da própria
candidatura, em favor do Lula. O PSDB não arruma mais nada, as pesquisas de
opinião estão aí.
P1 – Você
tem como justificar isso?
FC – Você
tem três fatores: o governo FHC, os índices relativos e os índices absolutos.
P1 – Explica
cada um deles, mas de maneira bem facinha (risos)
FC – Primeiro
o governo FHC, que na verdade foi uma intervenção americana aqui, todo o
receituário neoliberal aplicado aqui: privatizou tudo a preço de banana.
Só para você ter uma ideia: se você montar uma boa padaria, com
equipamentos modernos, loja ampla, bem instalada, confortável... Você não
recebe o dinheiro investido em menos de dois anos. O retorno é lento.
A Vale do Rio Doce, uma das maiores mineradoras do planeta,
praticamente concessionária de todo o minério brasileiro, se pagou em um ano e
meio, mais rápido que uma padaria, quer dizer, foi doada.
Se alguém me garantir, a mim ou
a qualquer outra pessoa, que uma empresa vai se pagar em um ano e meio, eu ou
essa pessoa nos endividamos e compramos, seja a Petrobrás, a Coca-Cola ou a
Microsoft. Um ano e meio é praticamente retorno a vista. O normal seria a Vale
se pagar em vinte ou trinta anos, se não mais.
A França nos cobrou um bilhão de
dólares, sem justificar de quê ou porque. Foi um escarcéu no Congresso, a
oposição indignada, os órgãos classistas revoltados... Quando se descobriu FHC
já tinha pagado.
FHC conseguiu ser mais predador
que os portugueses no Brasil Colônia. É um lesa pátria. É claro que não
queremos mais isso, não permitiremos mais isso.
E a corrupção, que o Lula não quis
apurar, para não ser acusado de revanchismo, e que agora o Joaquim Barbosa
mantém engavetado a todo custo. Nunca nesse país se roubou tanto quanto no
governo tucano.
Está saindo uma penca de livros
com depoimentos de testemunhas, com a roubalheira toda documentada. Roubaram
muito, cara. Em matéria de pilhar o Brasil, perto deles o império português foi
fadinha bondosa.
Vê se eles se defendem. Estão
caladinhos, sem nenhum argumento, sperando para ver se a indignação passa.
P1 – Os
índices, que você falou.
FC –
Primeiro vamos comparar, ver os índices relativos: o salário mínimo no Brasil é
uma merda, mais ou menos trezentos e cinquenta dólares, setecentos e cinquenta
reais, mas no governo tucano era de sessenta e sete dólares. Se a Dilma estivesse
pagando o mesmo salário mínimo tucano, hoje o salário mínimo seria de cento e
cinquenta reais. Só no final do governo FHC é que chegou a cem dólares, o que
hoje seria duzentos e poucos reais. Pior do que isso só o salário mínimo da
ditadura, quarenta e cinco dólares, cem reais, e isso com uma inflação de
oitenta por cento, anual. E ainda tem babaca pedindo o retorno da ditadura.
Uma outra coisa é a taxa de
juros brasileira, talvez a maior do mundo. A nossa taxa SELIC, que é o
parâmetro do sistema financeiro, está em torno de dez por cento, altíssimo. Mas
no governo FHC chegou a ser de sessenta por cento. Você comprava uma geladeira
a prazo e pagava três, comprava um carro e pagava três.
Isso em termos relativos. Em
termos absolutos o negócio é mais gritante ainda.
P1 – Fala
aí!
FC – O mundo
todo está praticamente numa depressão, sem crescer, com alguns países até
encolhendo, nós estamos com um crescimento continuado de um e meio por cento,
entre os cinco maiores do mundo. No trimestre passado só fomos superados pela
China.
Aí você vai pra taxa de
desemprego, que praticamente inexiste no Brasil. A nossa taxa de desemprego é
quatro vezes menor que a de Portugal, cinco vezes menor que a da Espanha, a metade
da norte americana, menor que a francesa, italiana... Você não ouve falar de
desemprego no Brasil.
A nossa inflação é uma das
menores do mundo, menor que a da Rússia, França, Índia... No grupo chamado
Brics, só a China nos supera.
Nossas fábricas não estão a todo
vapor porque o mercado externo está retraído, como afirmei. Mas não está havendo
demissões nem férias coletivas, como era uma constância no governo de FHC.
A mortalidade infantil ficou em
cinquenta por cento, na média mundial, a nossa caiu setenta sete por cento. Esse ano vamos bater novo
recorde de colheita na safra de grãos.
O mundo nos olha com inveja e
respeito.
P1 – A que
você atribui isso, professor?
FC – À
mudança de modelo econômico. Lula ficará em nossa história como um marco, uma
linha divisória.
P1 – Vai
mais fundo.
FC – Tivemos
sempre duas características de país colonizado: um mercado interno fraco e
exportações concentradas para o império colonial, e Lula rompeu com isso.
Durante a ditadura chegamos a
ter oitenta por cento do nosso comércio exterior concentrado com os americanos,
que determinava preço e quantidade. Com FHC, dois terços do nosso mercado
exterior era com os Estados Unidos, e o que é que Lula fez?
Enquanto FHC viajava com um
monte de puxa sacos e intelectuais, para dar palestras e receber prêmios no
exterior, o Lula virou camelô, marqueteiro, saiu viajando com empresários,
fechando negócios no mundo todo.
Duas críticas que se fazia ao
Lula era a de viajar muito e levar muita gente. É verdade, viajou o mundo todo,
e boa parte daqueles que estavam em volta dele eram pequenos empresários, com a
viagem custeada pelo governo, para fechar negócios.
Resultado: hoje menos de um
terço do nosso comércio exterior é com os americanos. Hoje vendemos a quem nos paga
mais e na quantidade que queremos. O empresariado brasileiro está crescendo,
gerando empregos, pagando mais impostos. O país está crescendo.
A segunda preocupação do Lula
foi sair do modelo quase que estritamente exportador e fortalecer o mercado
interno, com aumentos reais de salários, acima da inflação, e com redistribuição
de renda, onde o bolsa família tem um papel fundamental.
P1 – Acho
que o Bolsa Família é a coisa mais discutida e controversa nesse governo.
FC - A
economia mundial hoje está fortemente subsidiada, os governos injetam dinheiro
na economia, para aumentar a produção e baratear custos, de maneira a tornar os
produtos mais baratos, mais competitivos no mercado. Isso acontece no mundo
todo e o nome disso é protecionismo. Contraditoriamente o país mais
protecionista do mundo é os Estados Unidos. Digo contraditoriamente porque
pregam o livre mercado mas não praticam.
E como a nossa economia era
subsidiada? O sistema financeiro estatal emprestava com juros abaixo dos juros
de mercado e o povo pagava a diferença, quer dizer, tirava-se dos pobres, da
sociedade como um todo e se dava aos empresários. Emprestava-se a fundo
perdido, quer dizer dava-se dinheiro às empresas, tirava-se do povo e dava-se
aos empresários.
O BNDES fazia isso, o Banco do
Brasil fazia isso, o Banco Central fazia isso, ao socorrer bancos particulares...
Lula abordou por outra ótica: ao
invés de dar dinheiro, porque não ampliar mercado, fazendo com que produzam
mais? E no plano exterior saiu mundo afora, conquistando clientes, fregueses,
ao mesmo tempo que fortalecendo o mercado interno.
Aqui o bolsa família é
fundamental, na medida em que incorporou milhões de famílias no mercado
consumidor. Se é uma questão de justiça social, de repartir com quem não tem, é
uma genial tacada capitalista, fabricar fregueses, em substituição aos
subsídios.
Você tem municípios, principalmente
no norte nordeste, onde oitenta por cento da economia gira em torno do bolsa
família e das aposentadorias, porque não existe empregadores ou vagas de
trabalho, já que o município é formado de latifúndios, que exige pouca mão de
obra e mesmo assim sazonal, só durante as safras.
É esse bolsa família que gera
impostos que ilumina o município, coleta o lixo, paga os médicos e professores
que de outra maneira não estariam lá.
Esse discurso que o bolsa
família é demagógico, eleitoreiro, que incentiva a vagabundagem... É de um
primarismo de analfabetos. Se há o lado humano, é um investimento
essencialmente dentro dos mecanismos capitalistas de subsidiar, só que de maneira
masi honesta, mais democrática.
É tão importante que FHC, o
engenheiro construtor da Arca de Noé, o subcomandante de Pedro Álvares Cabral,
o conselheiro de D. Pedro... Porque tudo de importante ele assume como
iniciativa dele, já ousou afirmar que foi ele quem criou o bolsa família.
E tem uns babacas mais babacas
ainda que enxergam no bolsa família uma iniciativa comunista. Se há um país em
que não há nenhum resquício de comunismo, nenhuma tendência, nenhuma
possibilidade de comunismo esse país é os Estados Unidos. O governo norte
americano dá quarenta e oito milhões de bolsas família, que lá tem outro nome,
mensalmente. São os intelectuais formados pelos pastores e pela Rede Globo.
P1 – Mas
muita gente fala que Lula e Dilma são comunistas.
FC – Isso é
de um analfabetismo político ridículo. É o mesmo que dizer que evangélicos vão
à missa ou católicos vão ao culto. O medíocre tem a palavra comunismo como
sinônimo de ruim: o diabo é comunista (risos), pedófilos são comunistas... São
ridículos.
Volte em tudo o que falei até
agora sobre Lula e Dilma, sobre os governos do PT: fortalecimento de mercado,
subsídios... Isso é capitalismo. Leilão de poço de petróleo, leilão para a
exploração das rodovias... Isso é capitalismo. Centrais sindicais, órgãos
classistas... Economia rural apoiada nos latifúndios e, urbana, nas grandes
corporações... Isso é capitalismo.
Quem vê comunismo nisso pensa
que Marx é marca de biscoitos ou um novo produto da Coca-cola. São muito
babacas.
P1 – Você
está ficando petista.
FC – (rindo
muito) Não, e justamente por ser marxista. Estou fechado com o PT por causa do
nacionalismo e da política de justiça social, mas sem perder de vista que, no
plano teórico, a social democracia petista faz estrago maior no marxismo que o
neoliberalismo do PSDB.
Na década de setenta eu já dizia
isso, que o maior freio na expansão do socialismo não era o capitalismo
estrito, mas a social democracia, o capitalismo mascarado. Confirmou-se.
P1 – Uma
pergunta direta: para onde o Brasil caminha, quais são as suas maiores
dificuldades e o que conta a favor?
FC – É muito
cedo para fazer uma afirmação taxativa de para onde vamos, as forças políticas
internas estão muito divididas.
A favor temos que a maioria
gritante do povo dá aval para que o modelo continue a ser implantado. Quando a
direita vai para as ruas, usa o judiciário, pede golpes militares, é porque
sabe que no voto não leva mais. Todas as pesquisas de opinião mostram Lula e
Dilma ganhando o que disputarem. Venha Aécio, Serra de novo ou o imortal,
perderão. Aécio consegue estar atrás até da ex ministra do Meio Ambiente,
patinando nos treze por cento das intenções de votos. Estão eleitoralmente
mortos.
A favor temos também uma tendência
de fim de crise europeia, o que vem para fortalecer as nossas exportações,
trazer divisas.
Contra temos o conservadorismo
brasileiro que pôs a igreja católica nas passeatas, em 64, e agora põe os
protestantes.
O fundamentalismo religioso, altamente alienante, pregando a omissão e
o conservadorismo, é o que mais dificultará. Compare o Pastor Marcos Feliciânus
(risos) e Lula e você perceberá logo o que se esconde no conservadorismo
fundamentalista.
Feliciânus,
essa semana incitou uma multidão de fanáticos a linchar duas adolescentes porque
eram um casal lésbico. Bateram nas meninas. Em nome de Jesus, aleluia. Os
narcotraficantes dos morros cariocas estão expulsando os terreiros de umbanda e
candomblé, a pedido dos pastores, em nome de Jesus, aleluia. Hoje não sei quem
tem as cabeças mais estreitas, se os funkeiros ou os fundamentalistas. E se
julgam mais cristãos que o próprio Cristo.
O chamado mercado gospel já
movimenta muitos bilhões de dólares. Segundo as estatísticas, no Brasil abre-se
um vírgula sete igrejas fundamentalistas por hora, uma média de quarenta
igrejas fundamentalistas por dia, para vender graças, bênçãos, milagres e
fanatismo cego e alienante. Analisa as postagens dos evangélicos na net, coisa
de crianças esperando o papai noel. Não se sustenta no racional nem no
emocional, só na lavagem cerebral.
P1 –
Francisco Costa presidente da república hoje. Quais seriam as suas três
principais preocupações?
FC –
Hipótese absurda (risos), mais fácil eu virar pastor e abrir a minha lojinha
evangélica na esquina (risos).
P1 – Sério,
considere isso. Mais: do que está sendo feito, o que você manteria e o que
interromperia.
FC – A minha
preocupação primeira seria com as Forças Armadas. Acho que Lula negligenciou e
agora a Dilma está fazendo a mesma coisa, e a história nos cobrará isso.
Eu cuidaria de equipar melhor as
nossas forças armadas, municiá-la e intensificar os treinamentos, inclusive com
militares estudando e estagiando no exterior. Vamos precisar delas mais rápido
do que pensamos.
Não se trata de assumir uma
posição belicista, não. É continuarmos com a nossa já histórica posição de
pacifistas, mas com Forças Armadas poderosas, para dissuasão de quem namore as
nossas riquezas, e uso, se necessário, porque somos o sonho de consumo de todas
as potência, sempre fomos.
Há um projeto de um novo modelo
a nível global, independente de se acreditar em Iluminati ou outra organização
qualquer, é um passo natural do capital, como Marx nos deixou bem claro, e
mecanismo expansionista de todo império econômico: foi assim com os romanos,
com os bárbaros, com os portugueses e espanhóis, com os ingleses e agora com os
americanos: dominar o mundo.
Por isso a intransigente defesa
da Síria pela Rússia, como tentativa de interromper isso...
P1 – Ôpa!
Brake! Fala mais disso.
FC –
Acompanhe o meu raciocínio: os Estados Unidos detonaram o Iraque, o
Afeganistão, a Líbia... Agora chegou a vez da Síria, depois será o Irã.
Se isso lhes garante toda a
fonte de petróleo do oriente médio, impede o expansionismo comercial da Rússia,
que fica impedida de vender petróleo e gás para a Europa, debilitando-a
economicamente.
Indo ao mapa, você vai ver que
esses países formam uma espécie de parede de contenção para aceso ao território
russo e, para piorar, sem exportar para esses países, principalmente armas, a
Rússia fica mais debilitada economicamente, altamente vulnerável, geográfica e
economicamente.
Os humanos são uma espécie tão
insensata que os dois ramos de negócios que mais movimentam dinheiro no mercado
não são comida e vestuário e muito menos saúde: são drogas e armas. O setor com
maior movimentação de capital, a nível mundial, é o narcotráfico, seguido da
produção e comércio de armas.
Então: Iraque, Afeganistão,
Líbia, Síria, Irã... Rússia.
Por isso a voz grave de Putin:
se atacar a Síria é o início da terceira guerra mundial. Muito de solidariedade
ao povo sírio e de compromissos históricos honrados, mas muito mais de
autodefesa.
P1 –
Voltando ao Brasil...
FC –
Terminada a conquista do oriente médio ou não, há o petróleo brasileiro,
continental, da plataforma continental e de águas profundas, o chamado pré sal.
Há jazidas de praticamente todos os minérios, há um mercado consumidor de mais
de duzentos milhões de bocas, e, considerando-se que a água potável está cada
vez mais escassa e será comoditye tão o mais valorizada que o petróleo, já em
poucas décadas, temos a maior reserva de água potável do planeta.
Temos a bacia Amazônica, a bacia
do São Francisco, a Bacia do Prata. Não bastasse isso, a maior reserva de água
subterrânea do planeta é o aquífero
Guarani, que abrange o Uruguai, Argentina, Paraguai, Bolívia e Brasil, sendo
que mais de setenta por cento está no Brasil.
O Rio Grande do Sul boia sobre
água potável, mineral, cristalina, pura. É uma riqueza formidável, maior que
todos os rebanhos e plantações de soja dos gaúchos.
A título de vigiar o terrorismo
na região de Foz do Iguaçu, os americanos já construíram uma base aérea no
Paraguai, por acordo durante a ditadura militar de Strossener.
Que
terrorismo na Foz do Iguaçu? Tem tantos terroristas lá quantos banhistas de
maiô na Rua Augusta, em São Paulo. Examinando o mapa você vai ver que a base
está estrategicamente sobre o aquífero.
Somando-se toda essa água, dá
mais que uma caixa d’água, com água potável, maior que o Mar Mediterrâneo. O
que estamos fazendo para proteger e garantir isso, para nós bebermos e
exportarmos?
Aí vem o gás da Bolívia, o
petróleo e o gás da Argentina, o cobre chileno, o petróleo do Golfo do México
(Colômbia e Venezuela) e você descobre que a América do Sul é tão ou mais
importante economicamente que o oriente médio, que só tem petróleo e areia.
O furor bélico capitalista se
abaterá sobre nós, com certeza, deixando a África por último, a espera do fortalecimento
do seu mercado consumidor. É isso aí.
P1 –
Voltando ao presidente Chico. Você equiparia as forças armadas, e
politicamente?
FC –
Permaneceria na mesma posição atual do país, de não atrelamento a ninguém, de
independência e amizade, o que facilitaria uma aliança com a Rússia, para nos protegermos
dos Estados Unidos, ou com os Estados Unidos, para nos protegermos da Rússia.
A nível regional também ficaria na
mesma posição atual, de estreitamento e intimização das relações com os países
vizinhos, como forma de defesa. Os americanos tem a OTAN, que é um tratado
militar mas que zela pelos interesses econômicos do império, os países europeus
estão buscando a fusão, através da criação da União Europeia, e nós temos que
seguir o mesmo caminho, buscar a unidade sul americana, de maneira a nos
fazermos mais fortes, econômica e belicamente. Atacar um país sul americano é
atacar todos, senão farão aqui como no oriente médio: pegam a Venezuela, depois
a Colômbia... e vai indo até chegarem à Brasília.
P1 – Você
não está sendo alarmista?
FC –
Realista. A história da espécie humana é a história de suas guerras, das ascensões
e quedas dos seus impérios. Só que a tecnologia acabou com as guerras
regionais. Hoje um porta aviões tem um poder de fogo maior que o de um exército
inteiro a cinquenta anos atrás. Nesse momento sobre nossas cabeças há milhares
de mísseis em órbita, prontos para descerem.
P1 –
Francisco, porque nós simples mortais, não temos essa carga de informações e
nem essa visão do país? A que você credita isso?
FC – A que
debito, porque é perda. O brasileiro não lê, não discute, não conversa sobre
isso. O brasileiro tem uma única entidade que funciona como modelador
ideológico: tevê Globo. Eu não sou telespectador, sou leitor.
P1 – Vou já
já te fazer uma pergunta sobre a Globo, mas antes... Como você vê a relação dos
Estados Unidos com a gente, daqui pra diante?
FC – Os
portugueses nos colocaram rédeas. Os ingleses, por curto espaço de tempo, nos colocaram cela, sem tirar as
rédeas. Os americanos, a partir da segunda guerra, no colocaram rédeas, cela,
cabresto, esporas e camisa de força. Nos tornamos quase que um estado a mais em
anexo, como o Alasca e o Havaí.
Hoje temos uma posição mais ou
menos independente que os preocupa, e eles agora têm cinco opções, que vai
depender da nossa conjuntura interna e da conjuntura internacional: primeiro:
um golpe militar. Os militares são extremamente nacionalistas, só que, principalmente
a partir da segunda guerra, por terem lutado junto com os americanos, e depois,
por usarem armamento americano, usarem a literatura especializada de origem
americana, fazerem manobras conjuntas... O atrelamento automático aos Estados
Unidos faz parte dessa concepção de nacionalismo deles. Nossos militares são
pró Estado Unidos até a alma, o que faz de um golpe militar o atrelamento
automático. Segundo: a direita, seja por um golpe, ou pelos votos, voltar ao
poder, através do PSDB, que é o aglutinador natural de toda a direita, impondo
o neoliberalismo, que é tudo o que os Estados Unidos querem. Terceiro: usarem
da chantagem, explorando as vacilações dos nossos governantes e fraquezas de
nossas empresas, pela espionagem, que antes era física e agora é eletrônica,
como foi denunciado na semana passada. Quarto: tolerar a nossa independência
mas criando mecanismos para limitá-la, e, quinto: fazendo uma intervenção
armada direta, como no oriente médio.
P1 – Agora
sim, rede Globo.
FC – Rede
Globo é papo para muitas horas.
Quando a gente fala em Rede
Globo imagina uma emissora de televisão, com os seus estúdios, o pessoal
gravando, editando... Pondo notícias e entretenimento no ar, só que não é bem
assim.
A Rede Globo é na verdade um
conglomerado de mais e cinquenta mega empresas atuando nos mais diversos
setores da economia nacional e internacional, e que tem na Tevê Globo a porta
voz dos seus interesses comerciais.
P1 –
Cinquenta?
FC – Sim. Só
canais de televisão, ela tem sete inteiramente dela, seis em sociedade e mais
trinta e seis afiliadas. Oitenta por cento da programação dela é de produção
própria, constituindo-se quase que num monopólio da cultua brasileira, na
medida em que o povo não lê, não vai ao teatro nem ao cinema, só vê televisão.
Só a Globo, que é a empresa
principal, holding, tem trinta e seis mil funcionários.
Possui uma das maiores editoras
de livros do país, a maior editora de revistas.
Possui três gravadoras e
distribuidoras de cedês e devedês, pronta para inaugurar a quarta, essa,
gospel, porque também já descobriu que no merchandising do capital Jesus dá
lucro e muito lucro.
É dona da Net. É dona de dezenas
de emissoras de rádio AM e FM. Tem diversas produtoras e agências de
publicidade... Isto na área de comunicação social.
Passando-se para outras áreas, a
Globo é dona de mineradoras, latifúndios imensos de gado e soja, na Amazônia,
corretora de valores, fábrica de componentes eletrônicos, fábrica de
bicicletas... Todas trabalhando com atividades complementares e influências
recíprocas: se a Petrobrás anuncia a possibilidade de ter encontrado uma
reserva com aparente potencial, a Globo noticia que já encontrou e é de alto
potencial, as ações da Petrobrás disparam nas bolsas, as corretoras da Globo
vendem, e dias depois os preços das ações caem.
Na ditadura militar, fosse
diretamente, contratando matadores, ou indiretamente, se servindo do exército,
a Globo patrocinou matanças de índios e de gente humilde que ocupava as terras
compradas ou a serem compradas por ela.
O histórico da Globo é negro,
mas o pior de tudo é a manipulação ideológica do povo brasileiro,
instrumentalizando o país, para os seus lucros.
Essa novela que está passando
agora é de uma sordidez só.
P1 – Virou
noveleiro? Fala aí.
FC – Não
(risos). Essa novela está tão comentada, com tanto espaço desperdiçado na
imprensa e em tudo que é lugar que fiquei curioso. Pedi a mãe do meu caçulinha
para me contar e acabei ficando curioso, de duas semanas para cá estou
assistindo.
Quando a gente fala que a Globo
manipula a gente se remete logo para os noticiários dela, principalmente para o
Jornal Nacional, onde realmente há manipulação: omitem, acrescentam, trocam o
enfoque, subestimam, superestimam, parcializam... O cacete. Mas acho que na
dramaturgia é que fica a sacanagem maior, porque modela subliminarmente, como
se fosse um psicólogo, sem que as pessoas se deem conta.
Vamos pegar esse personagem, o
Félix. O cara rouba o pai, quer tomar a empresa do pai, compra silicone
industrial e usa como se médico, já matou, forjou um flagrante de narcotráfico
para a irmã, que ao contrário dele é uma médica altamente ética (ele não é
médico), que foi presa, depois internada por ele numa clínica psiquiátrica,
para levar eletrochoques, levou a própria mãe na casa da amante do pai, para
provocar uma separação entre os dois e ele ter o seu próprio poder aumentado na
família... É um escroque, o lixo dos lixos. Só que entre todas essas
características, há mais uma, ele é homossexual.
Então, quando o povo criticá-lo
dirá: ladrão, assassino, traidor do pai, estelionatário, viado. Com a opção
sexual rotulada como crime ou pelo menos característica de mau caráter, em
tradução do provincianismo, do conservadorismo da direita, da qual a Globo é
porta voz.
Ah! Mas tem o advogado da
empresa, que também é homossexual e é educadíssimo, bom caráter, pra
contrabalançar.
Verdade. Bonito, muito educado,
honestíssimo, mas... Quando foi abertamente criticado pelo patrão, por ser
homossexual, não se defendeu. Quando o patrão pediu para que disfarçasse a
condição de homossexual, na empresa, concordou e, para culminar: está se
apaixonando pela personagem da Daniele Winits, vai trocar rola por perereca
(risada geral).
Novamente o preconceito, o
conservadorismo... É cara tão perfeito que se curva ao patrão e vai até deixar
de ser viado.
Está modelado o homem ideal para
o capitalismo: disciplinado, subserviente ao patrão, heterossexual, chefe de
família... Um personagem desconstrói a rebeldia, o outro constrói a alienação,
a despersonalização.
Não fosse a Globo seria a
igreja, o testemunho: conheci Jesus e troquei rola por perereca. (risos)
Submetendo o homem à autoridade,
confundindo autoridade moral com autoridade institucional, as igrejas fazem o
mesmo que a Globo.
P1 – Chico,
mais uma vez show de bola, aula, como sempre. Posso falar pros nossos ouvintes
da sua conversa com direção?
FC – Pode,
mas ainda não está certo.
P1 – Acho
que o Chico vai fazer parte da nossa programação. Toda terça feira. Fica o
doutor Paulo na quinta e o Chico na terça.
FC – Muito
bom isso. O Doutor Paulo falando de assuntos médicos, orientando aí à galera de
casa, de um jeito bem popular, que é para todo mundo entender, e eu na terça.
Está praticamente certo. Só peg a distância. Eu moro em Guaratiba e vir até
aqui é dirigir um pedaço, mas devo fechar com a emissora. Um abração a quem de
abração e um beijão a quem de beijão. Terça a gente se fala. Fui!
P1 – Pra
continuar esse papo da Globo, que só começou.
FC – Tudo
bem!
Obrigada por compartihar!
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